É por demais óbvio que a crise é desencadeada de um e do outro lado do Atlântico pela quase geral inimputabilidade dos banqueiros, e coloco o quase apenas para salvaguardar excepções marginais, que redunda no benefício ao infractor e que, no jargão anglo saxónico, se denomina "moral hazard".
O que, trocado em por prosaicos miúdos, significa terem suas excelências prerrogativa para encherem os bolsos até onde lhes der na real gana porque, havendo azar, quem pagará são os contribuintes. Nenhuma outra actividade privada desfruta de tanta rede que a ampare se houver desequilíbrio e queda.
É também óbvio que, quando soou o alarme na Europa dos níveis das dívidas soberanas, todas as acções nucleares desencadeadas pelas instituições europeias, incluindo o recurso ao FMI, tiveram, e continuam a ter, como objectivo fundamental safar os bancos e, por tabela, os banqueiros.
Foi com este objectivo que se impuseram políticas de emergência que implicam os endividados a regurgitar em três ou quatro anos o que os senhores banqueiros lhes fizeram engolir, para gáudio e benefícios eleitorais dos políticos, mais que a sua normal capacidade de reembolso consentia. De entre essas medidas, destaca-se a imperatividade da recapitalização dos bancos submergidos pela onda de desconfiança desencadeada pelo tsunami financeiro que atravessou o Atlântico.
Em Portugal, foram, até à data, recapitalizados o BPI, que entretanto já procedeu a um reembolso antecipado de parte dos capitais emprestados, intermediados imperativamente pela troica, o BCP, que afiança que cumprirá o programa de reembolso mas anuncia perdas retumbantes, o Banif, nacionalizado de facto, que não se vê como possa voltar a ser privado, e o banco do Estado, a Caixa Geral de Depósitos.
A Caixa, o que recebeu, engoliu em aumento de capital, não reembolsável, portanto, e em empréstimo que não vai reembolsar dentro do calendário. O que é que resulta daqui? Resulta que, tendo endividamento do Estado já atingido os 122% do PIB - vd aqui -, a possibilidade de os cálculos
do ministro Gaspar voltarem a estar errados é elevada. Gaspar, confrontado hoje com o relatório do BP, disse estar a situação controlada em termos líquidos porque o Estado detem activos reequilibradores. Se conta com os rembolsos dos capitais emprestados para as recapitalizações, o mais certo é que esteja a enganar-se.
No caso da Caixa, os resultados recentes e previstos são este mimo:
O lado curioso deste descalabro, que seria anedótico se a história não fosse infame, é que o presidente do Conselho de Administração da Caixa, que tem apenas apenas um accionista, o Estado, alterna com o presidente da Comissão Executiva no anúncio destes resultados miseravelmente brilhantes, suponho porque ambos não sabem bem o que compete a um e ao outro.
E não há quem lhes diga que estão ambos a mais.
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Correl.- BCE lucra 1100 milhões de euros com divida dos paises em crise
"Banca portuguesa sustentou dívida do Estado no ano passado" é o principal título da capa do Público de hoje (22/02).
Um título não menos adequado seria "Banca sustentou-se da dívida do Estado o ano passado"
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Correl.- BCE lucra 1100 milhões de euros com divida dos paises em crise
"Banca portuguesa sustentou dívida do Estado no ano passado" é o principal título da capa do Público de hoje (22/02).
Um título não menos adequado seria "Banca sustentou-se da dívida do Estado o ano passado"
1 comment:
tiestox Bom trabalho , companheiro artigo muito bom free iPhone
tiestox 0971
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