Thursday, January 28, 2010

LADRÕES E POLÍCIAS

Porque é que consideram a China um problema e a Alemanha não?
.
A pergunta não é pertinente.
A China é um problema? Para quem?A Alemanha é um problema? Para quem?
Para nós, portugueses, por exemplo?
A China é um problema, por quê? Porque se apresenta nos mercados mundiais oferecendo os seus produtos a preços imbatíveis pelas nossas indústrias de baixa tecnologia?
Se é esse o problema, resolve-se desvalorizando a nossa moeda?
.
Admitamos que não tínhamos aderido ao euro e que continuaríamos com o escudo. Quanto teríamos que ter desvalorizado para que aquelas indústrias, importantes para a economia portuguesa, tivessem competitividade? 30%, 40%, 50% relativamente ao ponto de partida (1 euro= aprox. 200 escudos)?Chegava? E se chegasse teríamos o problema resolvido? Quanto teria custado essa desvalorização no outro lado da balança, do lado da importação de combustíveis, etc.?
.
Não tínhamos o problema resolvido até porque o combate através de desvalorizações competitivas não tem desfecho garantido.
.
"In the Great Depression, countries tried to protect themselves at the expense of their neighbors. These were called beggar-thy-neighbor policies, and included protectionism (imposing tariffs and other trade barriers) and competitive devaluations (...) these are no more likely to work today then they did then; they are likely to backfire." (Stiglitz - Freefall).
.
A questão é outra: O nosso sector económico transaccionável (aquele que tem de competir nos mercados internacionais) tem sido saqueado pelos não transaccionáveis, funcionalismo incluído. É por demais evidente que se da riqueza nacional o sector não transaccionável se apropria de uma fatia superior ao crescimento da riqueza (ou se e apropria mais mesmo quando a riqueza decresce)o resultado conduz ao definhamento do sector burlado.
.
E foi isso que aconteceu desde que entrámos no euro. No caso do funcionalismo público, a sua capacidade de mobilização (têm o emprego garantido) tem-lhes concedido força para se apropriarem de uma parte proporcionalmente superior ao crescimento da riqueza global, à custa dos outros.O mesmo raciocínio se aplica aos monopólios de facto com preços regulados ou subvencionados. É aí que está a raiz do problema.
.
Que fazer: Pois não consentir, constitucionalmente, se for preciso, que não possa o sector não transaccionável apoderar-se de uma fatia em proporção superior ao (crescimento) da riqueza global.
.
O que se passa agora é que, administrativamente, o Governo (este e os outros) atribui aos sectores com mais poder negocial político vantagens que retira aos sectores produtivos de bens e serviços transaccionáveis, matando-os a pouco e pouco. A saída está, pelo menos em grande parte, na correcção desta iniquidade.

6 comments:

A Chata said...

"Porque (a China) se apresenta nos mercados mundiais oferecendo os seus produtos a preços imbatíveis pelas nossas indústrias de baixa tecnologia?"

Parece-me que falta um pequeno detalhe, a China produz praticamente TUDO (tudo aquilo que deixamos de produzir quando deslocalizámos a produção para lá).

Onde se pensaria que os EUA tentariam pôr entraves à importação de pneus da China sem grande sucesso?

"O nosso sector económico transaccionável (aquele que tem de competir nos mercados internacionais) "

Onde está o nosso sector económico transaccionável, tem alguma dimensão minimamente considerável?

Quais são os mercados internacionais que pretendemos atingir? A Europa? Os EUA? A América do Sul? O Chinês? Quais?

Quais são os que não estão já invadidos por produtos Made in China?

Temos ainda que considerar que a China, paulatinamente, tem vindo a ganhar o controlo do fornecimento de matérias primas, de petroleo e até de produções agricolas por esse Mundo fora.

O Mundo mudou, precisamos de novas receitas. As receitas antigas já não são exequíveis.

A Chata said...

Russia, China, Iran redraw energy map
By M K Bhadrakumar
Jan 8, 2010

The inauguration of the Dauletabad-Sarakhs-Khangiran pipeline on Wednesday connecting Iran's northern Caspian region with Turkmenistan's vast gas field may go unnoticed amid the Western media cacophony that it is "apocalypse now" for the Islamic regime in Tehran.

The event sends strong messages for regional security. Within the space of three weeks, Turkmenistan has committed its entire gas exports to China, Russia and Iran. It has no urgent need of the pipelines that the United States and the European Union have been advancing. Are we hearing the faint notes of a Russia-China-Iran symphony?
...
http://www.atimes.com/atimes/Central_Asia/LA08Ag01.html


AMD says China is expected to be its largest single market by 2012
13:38, December 03, 2009

Global innovative technology leader Advanced Micro Devices (AMD) said yesterday that China could become the company's largest single market within the next two years, boosted by the country's booming rural market and increasing demand for notebooks.

http://english.peopledaily.com.cn/90001/90776/90882/6831246.html

China's PetroChina invests in Canada oil sands

Canada's Industry Minister, Tony Clement, has given PetroChina the go-ahead for a $1.7bn (£1bn) acquisition of two oil sand projects.
...
http://news.bbc.co.uk/2/hi/business/8434603.stm

Private firm buys Chile iron mine
08:50, December 28, 2009

Guangdong Province-based Rixin Development, a privately-owned company, has reached an agreement to buy a majority ownership in a foreign iron ore mine, the local media reported.

Rixin Development inked a deal Saturday to acquire a 70 percent stake in an iron ore mine in Chile, the Guangzhou Daily newspaper reported Sunday. Financial details were not disclosed.
...
http://english.people.com.cn/90001/6853288.html

Russia opens far east oil terminal
Russia has opened a new oil export terminal in the far eastern port of Kozmino, a key gateway for Russian energy exports to Asian markets including energy-hungry China.

...
http://english.aljazeera.net/business/2009/12/2009122881119111905.html

China opposes EU proposal extending anti-dumping duties on shoes
16:30, December 04, 2009

The Chinese government and business groups are strongly dissatisfied with a European Commission proposal to extend dumping duties on leather shoes from China by another 15 months, a spokesman of China's Ministry of Commerce said Friday.
...
http://english.peopledaily.com.cn/90001/90778/90861/6832801.html

FACC acquired by Chinese aircraft company
08:25, December 04, 2009

The chairman of Austrian Future Advanced Composite Components (FACC) Hannes Androsch (L) and the Xi'an Aircraft Industry Company Ltd of the Aviation Industry Corporation of China (ACIC) (Xi'an Aircraft-ACIC) CEO Meng XiangKai attend the signing ceremony in Vienna, capital of Austria, on Dec. 3, 2009. The signing ceremony announcing the acquisition of Future Advanced Composite Components (FACC) by Xi'an Aircraft Industry Company Ltd of the Aviation Industry Corporation of China (ACIC) (Xi'an Aircraft-ACIC) was held here on Thursday afternoon. The vast majority of 91.25 percent stakes of FACC was acquired by Xi'an Aircraft-ACIC and Hong Kong ATL jointly, in which Xi'an Aircraft-ACIC had absolute control.
...
http://english.peopledaily.com.cn/90001/90776/90883/6831863.html

Isto é só uma pequena amostra.

Por favor, não considere isto uma critica à China ou uma qualquer má vontade contra a globalização mas, sim apenas uma análise das noticias do Mundo feita por uma curiosa.

aix said...

Rui,embora desviando-me um pouco desta entrada permite-me que te remeta para a revista 'VISÃO' desta semana (nº 882 de 28 Janº a 3Fevº 2010).O tema gordo e promocional é a grande entrevista a Belmiro de Azevedo.Para mim,debita vulgaridades, para além de, quanto a mim exagerada e impropriamente, catalogar Cavaco Silva como «ditador» (e eu sou
insuspeito de ser seu admirador, pois o considero basicamente um 'inculto').O que na referida revista me levou a chamar a tua atenção (porque sei que gostas de pensar)é um artigo de Eduardo Lourenço, «Salvemos o soldado Obama». Um bom pensador, que não defende totalitarismos. Se não obtiveres a revista aí nos EUA eu posso guardar-te o meu exemplar. Boa estadia e um abraço.

rui fonseca said...

Caro Francisco,

Li uma referência a essa entrevista e, se bem me recordo, o apodo de ditador decorre do facto de o ditador ter dispensado, segundo Belmiro, 4 ministros que eram seus amigos (dele, Belmiro).

Não há pachorra.

Quanto ao ditador ser culto ou inculto é matéria que não dis ...culto.

Isto de cultura tem muito que se lhe diga.

Salvo melhor opinião.

Abç

rui fonseca said...

A.,

Obrigado pelo seu comentário e pelo seu contributo.

Repare que a questão objecto do meu comentário decorre da nossa falta de competitividade alegadamente em consequência do euro.

O que eu penso é que a entrada no euro exige uma gestão dos preços e dos salários diferente daquela que existia quando a moeda se desvalorizava. Passar para escudor novamente não resolveria a questão.

Apenas a disfarçava. Com a desvalorização as pessoas passavam a ganhar realmente menos e aumentava-se a competitividade temporariamente. Quanto? Não sei. Mas sei que, em qualquer caso, seria insuficiente para competirmos com os produtores chineses nos sector de baixa tecnologia.

Repare que a Alemanha não se queixa do euro nem da concorrência chinesa. O que prova que a questão colocada pelo autor do post nos "Ladrões de bicicletas" faz pouco ou nenhum sentido.

A Chata said...

"Repare que a Alemanha não se queixa do euro nem da concorrência chinesa."

Era melhor que se queixasse, foi uma das benificiadas com a sua criação.

Já da concorrência chinesa...

O desemprego na Alemanha também vai de vento em popa e as exportações alemãs também têem vindo a cair ao que consta.
Porque será?