Thursday, January 07, 2010

CORTAR, SIM, MAS ONDE?

"Há que cortar na despesa pública e, em particular, na despesa corrente ...
Muito bem, mas onde? O que é que cortava?"
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É sempre a mesma conversa. Toda a gente (ou quase) concorda que o crescimento da dívida pública, o crescimento da dívida externa, o crescimento das dívidas das famílias, o crescimento das dívidas das empresas, o crescimento do endividamento externo dos bancos, um dia destes não pode continuar. As árvores não crescem até aos céus mesmo que sejam eucaliptos. As dívidas também não.
Às perguntas: Como? Onde? Quanto?, os analistas, os políticos, os amigos à volta do almoço, gaguejam e não sabem onde fica a a porta de saída.
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O OE vai ser discutido na AR mas de nenhuma bancada há, por enquanto, propostas que conduzam ao objectivo de estancar o crescimento explosivo do endividamento público. Explosivo foi o termo usado pelo PR no seu discurso de Ano Novo e só os inconscientes, os ignorantes ou os políticos subjugados à demagogia partidária podem considerar a expressão excessiva. Algumas propostas que têm vindo ser reclamadas vão até em sentido contrário: aumento da despesa ou redução da receita. É o caminho, imediatamente, mais fácil, aquele que conduzirá ainda mais para o fim do beco sem saída e, de onde, a marcha atrás será cada vez mais complicada.
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O PR insistiu na convergência partidária no sentido da adopção das medidas que a situação impõe. O Governo avançou com uma missiva aos partidos convidando-os a essa convergência. Mas todos sabem, ou deveriam saber, que não há convergência possível quando os custos políticos não tiverem uma equidade assegurada. E essa não se consegue se o Governo for monopartidário e, sobretudo, minoritário na AR.
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O PR também sabe isso. A fácil aceitação da nomeação deste Governo minoritário nas condições difíceis em que o país se encontrava é um ónus político que o PR deveria tentar corrigir. Como?
Começando por dizer, claramente, isso mesmo aos portugueses.
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5 comments:

António said...

Ó pra isto:


Advogados, sempre!

Os investimentos em contrapartidas não aparecem, mas a despesa com a comissão não pára. Ficámos agora a saber quem são os chupistas. Vejam só:


Comissão de Contrapartidas rompeu com escritório de Sérvulo Correia.

Honorários incomportáveis ditam divórcio. Contrapartidas executadas apenas a 30%
A Comissão Permanente de Contrapartidas (CPC) disse ontem ao Parlamento que dispensou os serviços do escritório de advogados que a assessorava, porque os honorários que cobrava se tornaram incomportáveis, confirmou o DN junto de diferentes fontes.
Em causa está o escritório de advogados liderado por Sérvulo Correia, embora o presidente da CPC, embaixador Pedro Catarino, não o tenha identificado durante a audiência de ontem com a Comissão parlamentar de Defesa.
Esse escritório, segundo as mesmas fontes que pediram anonimato, apresentava "honorários principescos" à CPC por "serviços cobrados ao minuto" - o que tinha grande peso no orçamento da comissão, reconheceu Pedro Catarino na informação enviada por escrito à Comissão de Defesa.
O embaixador explicou ainda nesse documento, ainda para justificar a decisão, que a CPC vivia numa situação de "dependência crónica" daquele escritório de advogados para actuar numa área que envolve programas de contrapartidas - pela compra de sistemas de armas e equipamentos militares - estimados em 2,8 mil milhões de euros e cuja taxa de execução ronda apenas os 30%.
Pedro Catarino terá mesmo dito ontem, aos deputados, que "uma das [suas] grandes medidas foi prescindir" de uma ligação que impunha "encargos muito pesados" à CPC e da qual estava praticamente 'refém'.
O embaixador, no final da longa audiência com a Comissão de Defesa, disse aos jornalistas que não é possível falar em incumprimento dos programas de contrapartidas, porque os contratos ainda estão em vigor. A título de exemplo, Pedro Catarino lembrou que o dos submarinos só termina dentro de três anos e os outros "mais tarde".
A taxa de execução dos diferentes programas - relativos à compra de submarinos, dos caças F16, dos aviões de transporte C295, das viaturas blindadas Pandur ou dos helicópteros EH101 - varia consoante os programas, mas globalmente ronda os 30%. Para tentar inverter essa situação, Pedro Catarino disse haver várias possibilidades,desde a renegociação dos contratos ao prolongamento da sua duração ou ainda à aplicação de multas.
Luís Campos Ferreira (PSD) disse aos jornalistas que a reunião com Pedro Catarino "foi produtiva", sendo suficientes para reforçar as críticas do partido.
"O panorama é preocupante", pois "as perspectivas" de execução daqueles programas são muito baixas, salientou o deputado, responsabilizando o Governo pela paralisia da CPC nos "nove meses" que se seguiram à posse de Pedro Catarino.
António Filipe (PCP) criticou a "enorme irresponsabilidade" dos Governo PS, PSD e CDS-PP no acompanhamento dos grandes investimentos associados às contrapartidas. "Não saio optimista" da audiência, acrescentou.

A Chata said...

" há pouco mais de um mês, quando os economistas, analistas, e especialmente os mercados, ainda não estavam tão preocupados com as contas públicas "

Isto é uma coisa que não entendo.

A sensação que tenho é que, ou estão em negação, ou pretendem evitar o panico ou não tem capacidade de avaliar a realidade.

Visto de uma maneira simplista, de 'dona-de-casa' que lê as noticias e se interessa por saber o que se passa no Mundo.

Há muitos anos (não é de há 2 ou 3) que o endividamento e o crédito mal-parado estava (e continua) a aumentar.
Empresas a fechar era (e é) uma constante quase diária. Há quanto tempo nos noticiários se ouve anunciar despedimento de mais 200, de 150 e, nalguns casos milhares de pessoas?
E continuava-se (continua-se) a oferecer, muitas vezes com veemencia, emprestimos faceis a toda a gente.
Com tanto dinheiro 'fácil', vá de comprar casas, e o preço das casa vai por aí acima.
Há muito tempo que tenho a noção que não produzimos praticamente nada. Basta olhar para as etiquetas do que compramos.
Se não produzimos, não vendemos mas, compramos desenfreadamente a crédito.

Os empregos que restaram são os serviços (que não podem ser deslocalizados) e pouco mais.
A maior parte deles com salarios de miséria.

Isto tinha que estoirar um dia, não seria?
Então porquê a surpresa?

Quantos mais desempregados, menos receitas de impostos e mais despesa para o Estado, não será?

Só a gora é que o PR descobriu que estamos numa situação explosiva?

Os sinais da violência que vai aumentando, dos assaltos, dos desacatos, dos tiroteios estão aí para quem quiser ver.

A Espanha tem quase 4 milhões de desempregados, a Alemanha 3 milhões e tal, a França, o Reino Unido, a Grécia e por aí fora...

Os EUA, a meio do ano passado estavam com uma média de 300000 novos desempregados por mês.
(Vi um programa da Opra dedicado ao endividamento, para ensinar as pessoas a reduzir as despesas e as dividas, em que a audiência em estúdio, cerca de 200 pessoas, declararam ter dividas de milhões de dolares e várias já tinham declarado falência)

Preocupar-se com as contas públicas?
Para quê?
Vamos é ganhar mais algum dinheiro no casino das Bolsas para recuperar algum do que perdemos (eu não) e comprar ouro.

O que é que cortava?
Não sei mas, que estamos a caminhar a passos largos para muitas 'cabeças cortadas' já não tenho praticamente dúvidas...

rui fonseca said...

Caro António,

Obrigado pela sua contribuição de denúncia destes escândalos.
É bem verdade que são alguns escritórios de advogados alguns dos grandes captores do Estado.

As verbas pagas em assessorias jurídicas e outras são simplesmente escandalosas e os inúmeros juristas e outros espcialistas empregados pelo Estado são (serão?) incompetentes para a realização dos serviços prestados por entidades externas.

rui fonseca said...

"Preocupar-se com as contas públicas?
Para quê?"

Cara Amiga A.,

Percebo a ironia mas é bem verdade que a grande maioria dos portugueses ainda não se apercebeu do buraco onde estamos metidos.

Para já são os desempregados as vítimas da crise, e soube-se hoje que, segundo dados do Eurostat já são 10,3%.

E não há indícios que não continuem a aumentar.

A Chata said...

Pois é Rui,
E de quem é parte da culpa da maioria dos portugueses não ter noção da dimensão da crise?

Dos 'optimistas' que dizem semana sim, semana não, que a crise já terminou e estamos a entrar em recuperação.

Mas, não me explica como economistas foram surprendidos por esta crise?

Como é que se compara esta crise à de 1930 sem ter em conta, os números populacionais envolvidos e a sua concentração urbana e os problemas decorrentes das alterações climáticas?
Como se o Mundo de 1930 se pudesse comparar com o de hoje.

Como é que se diz que Portugal necessita exportar mais para sair da crise. Exportar o quê? Para onde?
Caso não tenham reparado, as poucas empresas de produção que nos restam continuam a fechar todos os dias empresas novas limitam-se a casos esporádicos.


Como é que se continua a apontar, como uma das soluções, a 'famosa' flexibilização das leis laborais?
Contractos precários, ordenados de miséria, despedimentos ilegais que levam 20 anos a ser julgados.
Que flexibilidade precisam mais?
Capatazes com chicote?

Como é que sindicatos continuam a manter como exigência máxima aumentos de salários e, praticamente mais nada.

Patrões e sindicatos parecem congelados no tempo, completamente alheados da realidade.

Isto faz-me uma confusão...