Sunday, November 20, 2016

DE LESTE E OESTE SOPRAM NUVENS NEGRAS SOBRE A EUROPA

Não compreendo, mas reconheço, que a tese do politicamente correcto, como justificação da vitória de Trump, esteja a prevalecer na identificação das causas de um sucesso que, não muitos dias antes de 8 de Novembro, era considerado pela generalidade das sondagens como altamente improvável. 

Coloquem-se de parte as causas dos erros das sondagens e foquemos-nos nos resultados. Quem venceu?
Claramente, aqueles que aderiram ao discurso de Trump.
Foi o discurso de Trump um discurso "politicamente incorrecto" e, por esse motivo, sobrepôs-se ao discurso "politicamente correcto" dos seus opositores nas primárias e de Hillary Clinton na corrida final?

Houve, obviamente, uma inversão do sentido das palavras que parece estar a ser geralmente despercebido. Uma mensagem "politicamente correcta" é (ou era) aquela com a qual o emissor procura ir de encontro aquilo que os receptores, na sua maioria, querem ouvir. 
Ou não?
Se assim é, foi Trump e não Clinton quem discursou de forma mais politicamente eficaz, i.e., da forma mais politicamente correcta.

Pelos vistos os norte-americanos que votaram em Trump (menos do que aqueles que votaram em Clinton, mas com melhores resultados pelas razões conhecidas) não votaram por melhor assistência na doença, por melhor segurança social, por mais e melhor emprego (a economia dos EUA está a crescer bem e em quase em situação de pleno emprego) nem por mais igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. As mulheres brancas, aliás, votaram maioritariamente (53%) em Trump. São masoquistas, estúpidas ou adoram ser pegadas pela vagina como disse Trump?

Para mim, a resposta é clara: Trump venceu porque apelou aos instintos nacionalistas, xenófobos, racistas de muitos norte-americanos. Se não porque outra razão? Neste sentido, fez um discurso "politicamente correcto". Ou não?
Não quero acreditar que, os que votaram em Trump, o tenham feito por birra a quem apetece mas não se pode dar uma palmada. Ou por estouvamento juvenil geralmente mal desculpado. 
Agora, não resta senão esperar que a dignidade democrática amadureça os "imaturos" sem palmadas. 

E que a Europa, onde as vagas de nacionalismo atingem alturas assustadoras, não caia nas mãos de trumpitos**.

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*  Comentário colocado aqui a propósito desta e desta reflexões de J C Alexandre.
**Em França estão a decorrer as primárias para a nomeação do candidato da direita moderada que deverá enfrentar Marine Le Pen, já que a esquerda se encontra desbaratada à partida. Um dos candidatos, Sarkozy, ex-presidente da República, e também o mais mediático, segundo li algures, "mimetiza nos seus discursos os discursos de Marine Le Pen". 
Um trumpito.

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