Wednesday, November 23, 2016

A GUERRA DOS GOVERNADORES

O Jornal de Negócios transcreve hoje aqui alguns excertos da intervenção do governador do Banco de Portugal feita hoje no "Fórum Banca" organizado pelo Jornal Económico e a PwC. 
O jornalista do JN resume no título do artigo o propósito mais polémico da intervenção do sr. Carlos Costa: denunciar que os "problemas na banca surgiram nos anos de Constâncio na supervisão".
C. Costa não menciona explicitamente o nome do actual vice-governador do Banco Central Europeu, e seu antecessor no cargo, mas a alusão é tão evidente como ser a galinha quem põe a coisa branca.

Que às distracções, contemporizações ou pusilanimidades do sr. Constâncio cabe uma grande parte das culpas nas operações que arrombaram a banca, só tem dúvidas quem é devoto ou conivente. Neste obscuro caderno de apontamentos apontei múltiplas vezes o sr. Constâncio como culpado, opondo-me a todos aqueles que invocavam a "impossibilidade do Banco de Portugal" poder ter evitado grande parte dos abusos e crimes praticados, para proveito próprio, pelos banqueiros, à custa dos contribuintes. Uma culpabilização que, obviamente, não retira um cêntimo à responsabilidade material dos autores das moscambilhas. Não fica menos culpado quem rouba se há coniventes que, por acção ou omissão, colocam o delinquente fora da alçada da justiça. 

Do discurso do sr. Carlos Costa pode, pois, legitimamente, inferir-se que o Banco de Portugal dispunha de meios para desempenhar com eficácia as responsabilidades de supervisão que lhe estavam cometidas. E que, estando na altura em que - segundo Carlos Costa - as moscambilhas foram gizadas, o sr. Vítor Constâncio na presidência do supervisor - o Banco de Portugal - o sr. Vítor Constâncio é desafiado pelo sr. Carlos Costa a defender a sua honra.

O sr. Vítor Constâncio, um homem honesto e letrado, um economista competente, um cidadão de primeira água, vai, certamente, ainda que contrariado pela sua natural discrição, defender a sua honra. Não em duelo, à moda romântica, em que o mais provável era desandar um dos contendores para o outro mundo, mas, cientificamente, demonstrar que os resultados das análises publicadas pelo sr. Carlos Costa são inconsistentes, não verdadeiros, provavelmente malévolos, e que a quota de responsabilidades do Carlos Costa na atribuição de culpas neste cartório supera, se é que não anula, a sua. 



A menos que, como é seu hábito, prefira encolher a cabeça entre os ombros levantados, aguardando no seu cantinho, morninho, abrigado e bem pago, que a ofensa passe.

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