Se a da esquerda embirra e não arranca, ele salta para a do lado, que com toda a boa vontade o leva onde ele quer. Aqui, por exemplo.
A propósito da revogação do limite de idade para continuar ao serviço na função pública depois dos 70 anos, comentei aqui:
Estou de acordo que as pessoas possam continuar a trabalhar para além dos 70 anos de idade, e enquanto quiserem, em funções públicas ou privadas.
Não estou de
acordo que se acumulem remunerações de trabalho e pensões de reforma. Salvo se
a pensão de reforma fique aquém, e na medida em que fique aquém, do rendimento
líquido enquanto trabalhador.
Se, p.e., o
rendimento líquido era de 1000 euros mensais e a pensão de 900, se continuar a
trabalhar a reforma deverá ser de 100 enquanto se mantiver como trabalhador
remunerado.
Afirma, e eu
estou de acordo, que muita gente está ainda aos 70 anos com capacidade e
competência que não deve ser desperdiçada. Pois muito bem: se o argumento é
esse, e não o interesse na acumulação de rendimentos, a vontade de trabalhar
fica confirmada com a minha proposta.
Acontece que
muita gente na função pública, sobretudo, onde a avaliação de competências é
geralmente excessivamente benevolente, há muito tempo que deixou de ser
competente, se alguma vez o foi no exercício das funções pelas quais é
remunerada.
Quem pretende
continuar para além dos 70 nem sempre é competente mas porque se julga
competente ou porque não se preparou psicologicamente para deixar o local de
trabalho onde, não poucas vezes, há muito tempo é redundante.
Acontece ainda
que - para usar o exemplo que deu da docência universitária - a idade média dos
professores é já, nas nossas universidades, bastante elevada. Há eugenia típica
do recrutamento de docentes no ensino superior alia-se a resistência dos que
garantiram inamovibilidade enquanto aqueles que se vão doutorando no país e no
estrangeiro se vêm rejeitados no seu país e têm de procurar lugar lá fora.
Não, por acaso,
houve um crescimento exponencial de doutoramentos nas duas últimas décadas, mas
o número de patentes registadas em Portugal continua a ser, relativamente,
muito baixo. Há, felizmente, alguns raros casos de sucesso internacional que
apenas confirmam a regra que referi.
Quanto à chamada
ao serviço de médicos reformados é uma história que se explica, em parte, com o
que atrás escrevi.
Todos sabemos que
as notícias oscilaram nas últimas décadas entre a excessiva entrada de alunos
para medicina - argumento da Ordem - e a necessidade de recrutamento no
exterior e chamada de médicos reformados. E porquê?
Porque, para
além, da política de admissão aos cursos de medicina ser influenciada pelos
interesses corporativos da Ordem, também os sucessivos governos, ao introduzirem
instabilidade nas regras de acesso à reforma, incentivaram muitos clínicos na
função pública a reformarem-se e a passarem, muitos deles, a continuar a
exercer clínica privada, acumulando pensões e rendimentos que, na totalidade,
excedem bastante os seus rendimentos líquidos antes da reforma.
Evidentemente, a
saída por entrada não beneficia apenas os médicos reformados. Longe disso.
Para citar um
caso público recente temos o sr. António Domingues.
Reformou-se do BPI, onde
era vice-presidente - antes dos 65 anos (esgotou a competência no banco onde
trabalhou durante 27 anos?) para passar a acumular a reforma com as
retribuições e prémios como presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Onde poderá
trabalhar bem para além dos 70 anos.
De
insubstituíveis, garante a filosofia popular, estão os cemitérios cheios.
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