Sunday, May 19, 2013

EM DEFESA DA CONVERSÃO DE DEPÓSITOS

- Sabes dizer-me se essa ameaça sobre os depósitos acima dos 100 mil euros vai avante por cá, um dia destes?
- Não sei, não. Mas o que se sabe é que o assunto está ser equacionado pela Comissão Europeia. Nuno Melo fez essa pergunta à Comissão que, em resposta, admitiu resgates internos (bail ins) de bancos insolventes envolvendo eventualmente a conversão dos depósitos acima de 100 mil euros em acções.  
- Mas isso é um roubo, não?
- Não acho. É uma medida arriscada mas, uma vez digerida, pode ser salutar. E, de qualquer modo, é uma prática aceite, naturalmente, em áreas de negócios não financeiros. Considerar essa medida um roubo é, no mínimo, um exagero de linguagem. Se a medida estivesse em vigor quando o escândalo do BPN, por exemplo, foi publicamente reconhecido, não estaríamos hoje, aqueles que nunca entraram sequer nas portas daquele ninho de ratos, a pagar uma factura pesadíssima.
- Essa é boa! Por acaso não tinha depósitos no BPN mas se tivesse continuaria a considerar a conversão dos depósitos em acções um roubo. Quem é que sabia o que se passava lá dentro?
- Muita gente. Desde logo todos os depositantes à procura de taxas de juro claramente muito acima das praticadas pela generalidade da banca. Quem cabritos vende ...
- Ninguém pode ser prejudicado por escolher as melhores condições do mercado.
- Depende ...
- Depende, como?
- Se vendes alguma coisa a alguém apenas em função do preço que esse alguém te oferece, e esse alguém, de quem és credor, cessa pagamentos, que fazes? Ou aceitas reduzir a dívida, prolongar o prazo de pagamento ou aceitas a conversão do teu crédito em acções, ou quotas, da entidade devedora. No limite, se a empresa não é considerada recuperável recebes a tua quota parte da massa falida, se houver.
- Um banco não é a mesma coisa ...
- Pois não. Por isso é que a medida não é isenta de riscos, bem pelo contrário. O que penso, no entanto, é que se a ideia for adequadamente conseguida, os riscos podem ser razoavelmente controlados, e o benefício do infractor (no jargão anglo-saxónico chamam-lhe moral hazard) consideravelmente reduzido.
- Já agora, sabes se quando falam em depósitos acima de 100 mil euros ...
- Realmente falam acima, mas quem sabe se não será também abaixo. Quando a maré sobe acima de níveis nunca antes atingidos quem é que pode garantir seja o que for?
- Concordo. Mas, admitindo que não tocam nos depósitos abaixo de 100 mil, que hipóteses temos de escapar ao corte? Ouvi dizer que se trata de 100 mil por titular. É verdade?
- Em princípio, sim. No fim, sabe-se lá.
- E há outras alternativas?
- Repartindo os depósitos por vários bancos, por exemplo.
- Que bancos?
- Boa pergunta. Não sei. O que sei é que uma medida destas deveria ser institucionalizada e nunca apresentada, como em Chipre, de um dia para o outro. Ora essa institucionalização, além do mais, deveria prescrever um conjunto de informações que permitissem aos clientes  avaliar o risco que impendem sobre os seus depósitos em cada banco.
- Teoria, meu caro. Quem é capaz de controlar aqueles tipos? Repara na incapacidade da justiça para responsabilizar os criminosos do BPN.
- Hum! Seriam obrigados a isso. Seriam obrigados a comprar a confiança que agora lhes é concedida à borla. Quando dão de lado lá estão os contribuintes para se colocarem debaixo.
- Fico na mesma.
- Ficamos.
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Correl. - Portugal’s banks fear ‘Cyprus virus’
 Heads of BCP and BES urge Europe’s leaders to moderate stance
(Financial Times)
BPI desmente Financial Times. Jornal publicou informação, que atribui a uma fonte do banco, de que houve depositantes a transferir dinheiro para cofres, com receio da taxa aplicada aos depósitos de Chipre (aqui)
 
CIP preocupada com a perda de confiança no sistema financeiro

1 comment:

Gonçalo said...

Colchão. Começa a ser o local certo para as notas de euro.
Quem tem mais do que 100 mil coloca-o nos bancos alemães, mesmo que a uma taxa nula.