Thursday, September 13, 2007

POEMA ECONÓMICO


Oh Filipão,
de Filipão, um murro,
é caro como burro!

OS MAIS LIBERAIS - 2

Retomando o tema anterior, e voltando ao Relatório Anual do Fraser Institute de 2007 sobre liberdade económica, verifica-se que, segundo os critérios considerados por aquele Instituto (Dimensão do Estado/Legislação e Garantias dos direitos de propriedade/Mercados financeiros legais/Liberdade ao comércio intercional/Legislação sobre crédito, relações laborais e negócios/Regulamentação dos mercados de crédito/ Regulamentação do mercado de trabalho/Regulamentação dos negócios) os 38 países (cerca de 25% do total do ranking) mais liberais em matéria económica são, por ordem decrescente:
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Hong Kong, Singapura, Nova Zelândia, Suíça, Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá, Estónia, Irlanda, Austrália, Finlândia, Luxemburgo, Islândia, Chile, Dinamarca, Holanda, Emiratos Árabes Unidos, Alemanha, El Salvador, Oman, Áustria, Chipre, Hungria, Lituânia, Suécia, Letónia, Ilhas Maurícias, Noruega, Japão, Panamá, Costa Rica, Kwait, Casaquistão,Coreia do Sul, Malta, Eslováquia, Arménia, Taiwan, Peru, Jamaica, Bélgica, Botswana, Portugal.
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Dos 38 países mais liberais, 16 (os que não estão escritos a negro) não fazem parte do primeiro quartil dos países com mais elevado HDI - Índice de Desenvolvimento Humano, segundo o Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas. Em contrapartida, não se incluem entre os 25% mais liberais países como a Espanha (39º. do ranking), Israel (44º.), a Itália , a França e a República Checa (52º.), a Grécia (56º.), a Eslovénia (91º) que integram o grupo de países com mais elevado índice de desenvolvimento humano.
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É interessante observar que as repúblicas bálticas, que faziam parte da ex-URSS, apresentam bons índices de recuo do Estado na economia, ligeiramente superiores ao observado no Reino Unido, por exemplo.
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Se, por outro lado, observarmos o conjunto dos países com índices mais baixos de desenvolvimento humano, poderemos constatar que todos eles, sem excepção, apresentam indicadores muito baixos de liberdade económica (EFR).
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O que confirma que desenvolvimento humano e liberdade económica nem sempre se correlacionam estreitamente, e no caso dos países mais pobres, onde o subdesenvolvimento humano é consequentemente mais grave, o baixo nível de liberdade económica é quase sempre causado pelas débeis estruturas do estado. Carece, portanto, de sentido, nestes casos, a consideração dessa ausência de estado como um factor positivo na avaliação da liberdade económica por ser por demais evidente que ela é a principal razão da falta de mecanismos que garantam essa maior liberdade económica.

Wednesday, September 12, 2007

OS MAIS LIBERAIS

O relatório do Fraser Institute sobre a liberdade económica observada em 2005 em todo o mundo, segundo os critérios daquele Instituto canadiano, apresenta resultados muito curiosos, dos quais o mais imediato é o ranking dos países segundo o grau de liberdade económica em cada um deles avaliado numa escala de 0 a 10.
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Curioso, porque desde logo o ranking é liderado por Hong-Kong, com grau 8,9, confirmando que o regime (dito comunista) chinês se sente muito confortável com o legado britânico em matéria de fluidez económica naquele território, onde o liberalismo económico parece adaptar-se bem em ambiente não democrático. Aliás, a posição de Singapura (grau 8,8) no segundo lugar do ranking parece confirmar isso mesmo: a liberdade económica não pressupõe a liberdade democrática. Dir-se-á que se trata de territórios com especificidades muito próprias que não consentem extrapolações, por um lado, e que esta é uma perspectiva estática sendo muito mais importante a evolução observada a longo prazo.
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O que é inteiramente verdade. De qualquer modo mesmo a leitura pontual não deixa de apontar para resultados com bastante significado. Por outro lado, o confronto deste ranking com outros, também eles reportados ao mesmo momento, permite-nos concluir que liberalismo económico, democracia, desenvolvimento humano e riqueza material nem sempre andam de braço dado.
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Segundo o ranking - HDI - Índice de Desenvolvimento Humano - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - Hong Kong ocupa 22ª. posição e Singapura a 25ª. Este último indicador inclui o GDP/capita (avaliado em termos de paridade de poder de compra em dólares dos EUA) e relativamente ao qual Hong Kong situa-se na 12ª. posição e Singapura na 21ª.
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Portugal, posicionado em 38º. lugar em termos de liberalismo económico (melhor colocado que a Espanha, a Itália, a França e a Grécia) estava em 28º. lugar em HDI e 33º. em GDP/capita.
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(Continua)

Tuesday, September 11, 2007

MADELEINE

Alinhavei, aqui, há dias, uns comentários acerca do caso Madeleine. A hipótese da morte ter sido provocada pela mãe (ou pelo pai, ou por ambos) parecia-me absurda, não conseguindo conciliar qualquer nexo lógico entre o infanticídio e a promoção mediática do caso alimentada pelos pais.
Começo a mudar de ideias depois de ter assistido ao programa "Prós e Contras" de ontem à noite: Se o casal McCann está envolvido na morte (acidental, por administração excessiva de soporíferos, por exemplo) da filha, o seu comportamento público pode entender-se como forma de evitar a destruição das suas carreiras (médicas) profissionais (quem consultaria aquela médica que por descuido matou a própria filha?) e terá excedido os seus intentos ao ser potenciado pelos media tanto em Portugal como no Reino Unido.
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Para além de evidenciar os constrangimentos que rodeiam a actuação da polícia judiciária portuguesa, o programa de televisão de ontem confirmou aquilo que todos sabemos acerca da intervenção irresponsável dos meios de comunicação social, não só em Portugal como em Inglaterra, para só citar os dois países onde se desenrola o drama, noticiando as suposições, próprias ou alheias, revistas e aumentadas. Nada os impede de promover o boato, eventualmente destruidor das suas vítimas, desde que a atoarda venda.
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Poderiam dedicar-se a construir cenários mais ou menos improváveis mas a costela não lhes dá para a ficção policial e regalam-se com o realismo inventado. Eles e, pelos vistos, os leitores e telespectadores de dramas.

11 DE SETEMBRO, 6 ANOS DEPOIS NADA DE NOVO

(na foto, homenagem aos resistentes destroçados em Shanksville , passageiros do voo da América Airlaines 93)
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6 anos depois da maior afronta feita aos EUA no seu prório território, o mentor dos atentados terroristas em Nova Iorque e Washington continua a promover-se nas televisões de todo o mundo quando bem entende. E, normalmente, entende lembrar ao mundo nas vésperas de 11 de Setembro que pode mandar estoirar o que quiser quando e onde lhe der na real gana.
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E é a transmissão dessas ameaças que o mundo escuta embasbacado na quase admiração pelo vilão e no quase esquecimento das vítimas.
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Até ao dia em que o embasbacamento dê lugar ao terror e horror outra vez. Que pode acontecer a qualquer momento.

Monday, September 10, 2007

OS EMPATAS

O inimigo público nº. 1 dos portugueses é a (falta de) educação. A afirmação é chocante mas, lamentavelmente, verdadeira.
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Todos os indicadores que nos posicionam em maus lugares no ranking das nações ditas desenvolvidas decorrem da nossa insuficiência média de conhecimentos. Quase toda a gente concorda que não vamos longe enquanto não arrepiarmos caminho na rota para a educação. O início das aulas, que deveria não ser notícia, é todos os anos aproveitado para o combate político à volta das nossas insuficiências pedagógicas, do excesso de professores e de candidatos à docência. A culpa, neste caso, se não morre solteira é porque sistematicamente a casam com o Ministério.
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Um dos quistos mais difíceis de remover do nosso tecido social é o abandono escolar. Os números que vieram a público, ainda que contraditórios, denunciam uma situação a todos os títulos indecorosa: Em Portugal a taxa de abandono é dupla da observada na União Europeia. Perante esta situação que nos deveria envergonhar, a grande maioria reconhece o desastre mas ninguém arrisca discutir soluções ou propor alternativas. Geralmente a reacção é um encolher de ombros e rotular de incompetente quem está à frente do Ministério.
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O abandono escolar não sendo uma especificidade portuguesa apresenta entre nós valores que a nossa consciência colectiva não deveria suportar. Mas suporta sobretudo porque a consciencialização colectiva deste desastre é ténue e, quando reage, descarrega para cima. Como se a responsabilidade de reduzir o abandono escolar dependesse apenas do Ministério. Entre as abundantes discussões que preenchem os noticiários e dão espaço a muitos colunistas não aparece quem proponha medidas.
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E, no entanto, como sempre acontece, toda a resposta começa por uma pergunta: Por que abandonam tantos jovens o ensino secundário? Presumo que o inquérito já tenha sido feito e refeito e as causas estejam bem caracterizadas. Quais são elas, é matéria que não é do domínio público. Mas era por aí que deveríamos começar.
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Imagino que uma das razões é de natureza económica: A partir de certa idade os recursos familiares não suportam mais permanência escolar. Se essa é uma das razões principais, ou se outras existem que solicitem maior afectação de meios públicos, não sendo estes ilimitados, só há uma saída: a redução do orçamento em áreas não tão prioritárias: a defesa, seguramente, é uma delas; mas a garantia de ensino universitário tendencialmente gratuito é outra.
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Contudo, ninguém, com responsabilidades ou pretensões políticas parece querer arriscar discutir. A vida política é cada vez mais táctica: defesa cerrada e contra-ataque até à meia distância. E, geralmente, o resultado é um empate.

Sunday, September 09, 2007

LISBOA GRAFITADA

Fernanda Câncio lamenta-se em 5 dias que lhe tenham pinchado o prédio onde mora.
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(...) comungo da mesma indignação. Mas não porque a minha casa tenha sido pinchada. Não foi o caso. Nem sequer resido agora em Lisboa. Mas porque a sua rua também é minha, é de todos os que a habitam ou visitam, porque Lisboa é uma cidade que eu gostava de ver limpa e não vejo.
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Fico revoltado com as atrocidades cometidas a Lisboa. Lisboa, privilegiada pelos deuses é frequentada por alguns imbecis que lhe destroem o encanto há muito.
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Houve em tempos na blogosfera um “site” criado por um carola (Lisboa Abandonada) que queria chamar a atenção para o desleixo e o abandono que desfiguram Lisboa. Foi vandalizado. Sobra (suponho que ainda sobra) uma reminiscência parada de um site gêmeo (Lisboa Renovada) com a intenção de dar conta das acções positivas tomadas.
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Peguei na ideia e dei-lhe a divulgação que consegui dar no meu blog que é uma espécie de palavras cruzadas com que me confronto. Claro que ninguém deu por isso.
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Atrevo-me, portanto, a sugerir-lhe que dedique mais espaço neste seu blog ao assunto. A água mole faz milagres se correr em sítio que se veja.
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Que lhe parece?

A DESCASCAR A CEBOLA


A descascar a cebola, vêm-nos as lágrimas aos olhos.
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Günter Grass chocou muita gente quando, o ano passado, publicou o seu livro de confissões enquanto voluntário das SS nazis. Alguns, como Saramago, desvalorizaram o facto imputando-o à irresponsabilidade da juventude.
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Teresa de Calcutá, Zita Seabra, Günter Grass, o que há de comum entre eles? Provavelmente mais nada que a incomodidade que provocam nos olhos dos que lhes estão mais próximos ao descascarem a cebola.

GOODBY LENINE!

Disseram-me que não leram o livro nem têm a mínima intenção de o fazer, que o livro é fruto de uma mente ressabiada, cheio de mentiras, que a autora, se tivesse um mínimo de carácter, tendo saído do partido, deveria remeter-se ao silêncio.
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Não sendo eu admirador da autora, disse-lhes que tinha lido o livro, que não é um primor de estilo mas conta uma história que merecia ser contada. Que essa história não agrade a muitos personagens que fazem parte do enredo e a muitos adoradores deles, compreende-se porque a intolerância é o fruto dos dogmas e estes, por o serem, não consentem dúvidas aos idólatras. Quem manda para o seu índex privativo uma história que nem sequer leu, apenas imaginou, - e é curioso que tome como mentira aquilo que imagina - porque essa história foi escrita por uma condenada pelo santo ofício da ordem, iria alegremente assistir aos autos de fé em S. Domingos, aqui há uns séculos atrás, onde se queimaram excomungados nas labaredas daquilo que pensaram ou escreveram.
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Mas deixa-me perplexo que, quem respira convictamente em liberdade, não se tenha apercebido ainda de que lado sopra o ar libertador.

Saturday, September 08, 2007

INCONCEBÍVEL

Se a realidade ultrapassa frequentemente a ficção, a suposição pode ultrapassar tudo.
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Admitamos que por negligência, grave ou apenas descuido, uma mãe (ou o pai, ou ambos) causa a morte de uma filha. A reacção normal perante um horror tão insuportável é a auto condenação que a poderá levar até ao suicídio. Se o desespero for controlado pela medida de sentimento de culpa, no limite oposto a culpada tentará disfarçar as causas mentindo à sociedade e, inevitavelmente, a ela própria.
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Poderá chegar a uma situação extrema de ocultação do cadáver e anunciar que a filha desapareceu? Talvez.
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Mas terá essa mulher (ou esse homem, ou ambos) motivações para encenar uma acção mediática que tem envolvido meio mundo, incluindo o Papa, reclamando a restituição da filha supostamente rapatada? No campo das hipóteses, como diria o amigo banana, tudo é possível. Até o inconcebível.
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Para a polícia também. É possível que lá faça umas horas o amigo banana.

THE COMING HARD LANDING

Nouriel Roubini Sep 07, 2007

The utterly ugly employment figures for August (a fall in jobs for the first time in four years, downward revisions to previous months’ data, a fall in the labor participation rate, and an even weaker employment picture based on the household survey compared to the establishments survey) confirm what few of us have been predicting since the beginning of 2007: the U.S. is headed towards a hard landing.

The probability of a US economic hard landing (either a likely outright recession and/or an almost certain “growth recession”) was already significant even before the severe turmoil and volatility in financial markets during this summer. But the likelihood of sucthe recent financial turmoil - that has manifested itself as a severe liquidity and credit crunch - now makes h a hard landing even greater. There is now a vicious circle where a weakening US economy is making the financial markets’ crunch more severe and where the worsening financial markets and tightening of credit conditions will further weaken the economy via further falls of residential investment and further slowdowns of private consumption and of capital spending by the corporate sector.

The US economic slowdown was already serious since early 2007 and will get worse in the next few quarters for a variety of reasons. A massive housing bubble - where home prices went to stratospheric levels because of a debt-driven asset bubble (a massive rise in mortgage debt of households) - has now turned into the most severe housing recession in the last 30 years and into a house price bust: for the first time since the Great Depression of the 1930s home prices are now falling on a year-over-year basis. Home prices will fall much more in the next two years – by at least 15% - because of five factors that will make the huge excess inventory of new and existing homes – already at historic highs – even larger: first production of new home is still excessive as demand for new homes has fallen more than the now lower supply; the credit crunch in mortgage markets will further reduce the demand for new homes; millions of households will default on their mortgages and go into foreclosure and once the creditor banks will repossess these homes they will dump them in the market adding to the excess supply; about $1 trillion of adjustable rate mortgages will be reset – at much higher interest rates – in the next 12 months: the households that cannot refinance them and/or afford the higher interest rates will sell their homes at distressed prices; and those who bought homes for speculative reasons with little equity will now try to sell their homes as prices are falling. So expect a much faster and deeper fall in home prices for the next two years.
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more

Friday, September 07, 2007

POR QUÊ TANTOS

Na rentrée, o PSD pela voz do seu ainda líder reclamou, mais uma vez, a redução dos impostos.
Não reclamou, no entanto, a redução das transferências para várias empresas transferência-dependentes do Estado.
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No caso da RTP, que vai receber 152,3 milhões, a reclamação seria coerente com a proposta avançada por Marques Mendes, há algum tempo, de privatização das televisões do Estado.
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E a Air Luxor, que não tem licença para voar há um ano, tem direito a 1,1 milhões de euros. Por quê?
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Mas "abaixo os impostos!", temos que concordar, é mais fácil de gritar do que denunciar porquê os impostos que temos.

CLUBE DE GOLFE DAS AMOREIRAS

Sempre que passo defronte daquelas estruturas abandonadas, e de muitas outras que a incúria dos municípios consente por esse país fora, ocorre-me compará-las com os dejectos dos caninos nos passeios, que os donos não limpam.
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Com a diferença de que aquelas têm mais peso na degradação ambiental e pesam mais nos impostos que pagamos. E, pelos vistos, não têm dono nem culpado conhecido.

Thursday, September 06, 2007

RENTRÉE

Na primeira Quadratura do Círculo, após o intervalo de Verão, Pacheco Pereira e Jorge Coelho continuaram com o andamento com que tinham partido para férias: o primeiro a repisar os argumentos com que pinta, obsessivamente, a negro o cenário político, económico e social em Portugal; o segundo, a pintar o mesmo objecto com o cor de rosa da casa. Lobo Xavier, mais distanciado, mas não equidistante, destas escaramuças PS-PSD para telespectador ver, foi o único dos três que apontou o único tento direito aos discursos redondos com que o Governo quer fazer crer que estamos a caminho do melhor dos mundos e a Oposição a clamar que vamos em sentido contrário.
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Em A Arte da FugaAdolfo Mesquita Nunes dá-nos conta que o CDS tem no seu site um espaço aberto a críticas às suas propostas. Em uma delas, lava-se o CDS em lágrimas pelas taxas de juro. Deixei o seguinte comentário:
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Há nos partidos da Oposição (agora e sempre) uma ânsia de visibilidade que é quase a procura de um atestado de prova de vida. Se fala, existe.
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E, no entanto, esse fresim que os leva a tocar as cordas todas ao mesmo tempo provoca um ruído que dificilmente convencerá um país cada vez mais céptico. Dizia ontem Lobo Xavier na Quadratura do Círculo, e eu subscrevo inteiramente, que a Oposição (e ele falava sobretudo do CDS) tem de apresentar uma matriz coerente de propostas fundadas numa via de liberdade.
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Com reclamações mais ou menos gritadas mais ou menos youtubadas a que falte uma coerência que as torne convincentes dificilmente se percebe de que quadrante vêm. Apenas se percebe que vão à caça dos votos.
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Tudo isto para dizer que me parece que, tal como a proposta de redução de impostos, esta proposta de bonificação (?) de juros parece tudo menos fiável.Que é uma proposta curta, incisiva, apelativa, vendável, ninguém tem dúvidas. Quem é que não quer a redução de impostos, quem é que não quer uma bonificação estatal qualquer? Quase não há quem.
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Mas se fosse assim tão fácil, tão possível, tão bloco de esquerda, porque é que não foi feito ainda?Dúvidas que o CDS deveria responder antes de propor.
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PS - Por onde andam os liberais em Portugal?

Wednesday, September 05, 2007

AGNES BOJAXHIU

"O silêncio e o vazio é tão grande, que olho e não vejo, escuto e não ouço, a língua move-se mas não fala", dizia Agnes Bojaxhiu, em 1979, três meses antes de receber o Nobel da Paz.
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Durante meio século (...) sentiu o "silêncio", a "escuridão" e a "solidão"
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"Trabalho para quê? Se Deus não existir, não pode existir alma. Se não existir a alma então, Jesus, Tu também não és verdade"
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Agnes Bjaxhiu, conhecida por Madre Teresa de Calcutá, digam o que disserem os católicos, parece ter expressado em diferentes ocasiões da sua vida a mais recorrente das interrogações que assalta sempre a mente de qualquer ser pensante: Quem é Deus? Nem mesmo os ateus, que não podem deixar de O pensar para O negar. Teresa de Calcutá, um colosso de dedicação aos outros num corpo franzino, assumiu corajosamente a sua fragilidade humana perante o transcendente.
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Quem te deu, Agnes, corda para tanto amor desinteressado?

Tuesday, September 04, 2007

OH! SUA DESCARADONA

Saquetas de açúcar (açúcar a mais, diga-se de passagem) distribuídas pela Delta, com o apoio da Agência Portuguesa do Ambiente, estão a promover a ideia de poupar energia secando a roupa ao Sol:
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"O Planeta está a aquecer. Contribua para o evitar. Ponha de lado a máquina e seque a roupa no estendal. As alterações climáticas podem expor novamente a Península Ibérica a doenças como a malária."
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Trata-se de uma medida que tem de merecer todos os aplausos. Na realidade é inconcebível que num país onde o Sol não falta não se aproveite sempre essa fonte gratuita de energia para secar a roupa. Contudo, inconcebivelmente, dos projectos de arquitectura não consta uma exigência que parece elementar: a obrigatoriedade de reserva de um espaço para secar a roupa que não seja a parede exterior com umas cordas esticadas. Um dia falei neste assunto a um arquitecto da Câmara Municipal de Sintra. Olhou para a mim como se tal ideia nunca lhe tivesse ocorrido. Nem a ele nem ao resto do gabinete. Nem a todos os outros Departamentos de Urbanismo de todas as Câmaras deste país de estendais medievais.
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João Villaret recitava, mas era só récita: Oh sua descaradona/Tire a roupa da janela/Porque essa roupa sem dona/Lembra-me a dona sem ela.

Monday, September 03, 2007

O VALOR DA JUSTIÇA

J M Ferreira de Almeida ironiza com os números apontados por Mira Amaral para a quantificação do efeito melhor Justiça sobre o crescimento económico. Esta é uma reacção recorrente dos mais ou menos envolvidos nas quantificações pondo em causa a consistência dos valores adiantados. Não contestam o método, nem o reclamam, nem adiantam outros resultados. Na dúvida, ridicularizam. O que, diga-se de passagem, geralmente resulta. Tenho opinião diferente:
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Ao economista compete compreender os fenómenos (acções, factos) económicos e sociais, quantificando causas e consequências. Não lhe sendo possível fazê-lo da forma experimental a que recorrem as chamadas ciências exactas,tenta descortinar tendências através de modelos mais ou menos complexos.
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É fácil perceber que um dos factores de repulsão do investimento é a lentidão da Justiça e, consequentemente, a propensão para o não estrito cumprimento dos contratos. Todos sabemos que é assim, avaliações feitas com resultados publicados demonstram que este é, geralmente, um dos aspectos considerados mais negativos das externalidades do investimento em Portugal. Muito mais do que a tributação fiscal.
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Sendo assim, o economista, tenta quantificar o efeito desta condicionante.Não sei como é que Mira Amaral chegou aos números que divulgou nem quais os métodos utilizados.
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Admita-se que estejam errados, mas é uma má admissão. Só há uma forma correcta de contrapor: pôr em causa o método ou apresentar outros resultados de forma que possam ser escrutinados.
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Os portugueses, em geral, fogem dos números como o Diabo da cruz.São incómodos. Talvez seja esta atitude uma das razões do elevado grau da nossa irresponsabilidade colectiva.
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No caso da Justiça, tenho para mim, por verificação empírica durante muitos anos, que é demasiado elevada.

Sunday, September 02, 2007

ISTO NÃO É UM COMENTÁRIO

Miguel Morgado aplaude em O Cachimbo de Magritte uma das previsíveis consequências da aplicação do processo de Bolonha. Pedro Picoito, também ele da equipa de O Cachimbo de Magritte contrapõe com receios de que a uniformização implique redução das nossas possibilidades competitivas no contexto europeu.
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Observei:
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"Prevejo(...) a uniformização da oferta em toda a Europa e, consequentemente, a nossa perda de competitividade em tudo..."
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Leio e fico perplexo com uma dedução destas em mente que se crê liberal.
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O processo de Bolonha não é imperativo e muito menos cerceador da liberdade de diversificação da oferta.Mas a questão que o "post" de Miguel Morgado levanta tem pouco a ver com a uniformidade que o Pedro Picoito receia. A possibilidade de migração lectiva entre as diferentes áreas do conhecimento se alguma incidência tem nas preocupações de Picoito, essa incidência vai no sentido de promover a diversificação da oferta. Sem essa possibilidade o afunilamento, uma vez iniciado, é praticamente irreversível.
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Eu, que, seguramente, já não tenho a idade do Miguel nem do Pedro, recordo, ao ler estas vossas reflexões, os tempos em que muitos eram obrigados a prosseguir (os que podiam) os seus estudos fundamentalmente em função das suas condições económicas, das facilidades de proximidade, de um sem número de condicionantes.
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Muita coisa mudou, felizmente, desde então. Mas não mudou o suficiente.Que a nossa adesão à UE esteja a provocar mudanças que nós, de moto próprio, não sabemos ou não queremos fazer, não me admira.Foi o nosso afastamento dos movimentos (muitas vezes conflituosos) que moldaram a Europa que inibiu o crescimento que só os desafios, a competitividade, podem desenvolver.
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Não resultarão da globalização (da europeização, em particular) perdas de diferenciação cultural? Sim, inevitavelmente.
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Mas não podemos deixar de considerar que, muitas vezes, quando falamos de uma cultura, falamos de falta de cultura.
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Viva a diferença, claro, mas viva também a possibilidade de cada um poder fazer o seu caminho, às curvas se assim o entender

BAND-AID


"People said the money was to rebuild the country, but it was just a down payment," said the official, who spoke on condition of anonymity because he still works for the government. "The money was never enough to handle all that was there. It was merely a Band-Aid."

In Washington Post, de hoje (http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2007/09/01/AR2007090101375.html?hpid=topnews)


O Iraque é um sorvedouro sem fundo de dólares e de vidas. Os biliões já bombados para a reconstrução, e nomeadamente para a recuperação dos sectores estratégicos do petróleo e da electricidade, não passam de uma primeira prestação dos muito mais biliões que são necessários.
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É cada vez mais impensável que, qualquer que seja a administração norte-americana, venha a abandonar o Iraque sem que os interesses vitais dos EUA na zona não estejam garantidamente salvaguardados. A comparação, que frequentemente é feita, entre o Iraque e o Vietnam esquecem (ou fazem por esquecer) uma diferença fundamental: o petróleo.
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vd. vídeos "America at War"
IRAQUE
AFEGANISTÃO

O PAI FOI EM VIAGEM DE NEGÓCIOS

De Emir Kusturica, Palma de Ouro, Cannes 85.

Um retrato da Jugoslávia na década de 50, quando a Jugoslávia de Tito corta relações com a União Soviética. Ao mesmo tempo que o país resistia às pressões de Estaline prosseguiam as detenções dos que se opunham ao governo; ou, se não se opunham, eram denunciados como tal.
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Apenas um documento duma montanha que muitos, dezenas de anos depois, continuam a não (querer) ver.
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De cada vez que um comunista fala de liberdade, de que fala ele?

Saturday, September 01, 2007

UNANIMIDADE, POR QUÊ?

Margarida Corrêa de Aguiar comenta no Quarta República um artigo de Vitor Bento, publicado no DE, que é uma explicação para a unanimidade observada na Assembleia da República sobre a lei de indemnizações por responsabilidade civil extracontratual do Estado que, apesar da unanimidade parlamentar, o PR entendeu vetar e devolver à AR para reflectirem de novo sobre o assunto.
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Em resumo, para Vítor Bento, a unanimidade deveu-se ao efeito "groupthink". Ou de rebanho, acrescento eu.
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Transcrevo: (…) Foi muito sensata a decisão do Presidente da República de vetar a lei sobre o regime de responsabilidade civil extracontratual do Estado, apesar de a mesma ter sido aprovada por unanimidade no Parlamento. Ao classificar de sensata a decisão do Presidente, estou obviamente a classificar de insensata a decisão do Parlamento. Mas isto não significa que, por isso, considere os deputados insensatos. Julgo que o que se terá passado é um exemplo típico do que o psicólogo social Irving Janis, classificou, em 1972, de ‘groupthink’ e que poderemos traduzir por “decisão em grupo”. Trata-se de um processo de discussão que pode ocorrer em grupos coesos (ou com um desígnio estratégico comum) e cujos membros refreiam as suas dissensões e o seu espírito crítico, em favor da unanimidade da decisão, sacrificando uma análise racional e realista das situações e conduzindo a decisões erradas ou irracionais, que, de outro modo, não seriam tomadas. Apimentando o conceito, é o que frequentemente acontece quando os membros de um grupo de decisão submetem as suas opiniões ao crivo do “politicamente correcto”, acabando por dizer apenas o que “parece bem dizer”. O exemplo habitualmente citado para ilustrar este conceito foi a decisão de J F Kennedy (com os seus conselheiros), em 1961, que conduziu à invasão da Baía dos Porcos em Cuba. No caso da lei em apreço terá havido mesmo, no Plenário, algumas vozes discordantes do conteúdo da lei – argumentando no sentido em que o Presidente viria mais tarde a chamar os deputados à razão – mas isso não viria a obstar à sua aprovação por unanimidade. Aliás, no campo da decisão política e entre nós, não é difícil encontrar vários outros exemplos deste vício decisório. Lembremo-nos, por exemplo, da lei das incompatibilidades aprovada à pressa e a quente, num ambiente de elevada demagogia, em meados de 1995. Ou as decisões sobre a remuneração dos políticos e dirigentes da Administração Pública. (…)
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Ainda que concorde com a posição de Vítor Bento quanto ao veto do PR, e já dei conta da minha posição aqui no Aliás, no Arte da Fuga, no Blasfémias, e agora no Quarta República, não me parece que a justificação da unanimidade parlamentar tenha decorrido do efeito "groupthink" pelas razões que referi no Quarta República:
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Com todo o respeito que Vitor Bento me merece não concordo com a perspectiva dele a propósito desta unanimidade parlamentar mas concordo com o veto do Presidente, embora discorde de alguns fundamentos.Confuso? Eu explico:
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O caso da decisão tomada por Kennedy na "crise da Baía dos Porcos é, realmente, um exemplo paradigmático do "groupthink".Existem várias experiências, bastante curiosas, de verificação do efeito "groupthink" mas não penso que a unanimidade parlamentarobservada na questão em causa tenha quaisquer contornos ajustáveis aquele feito.O "groupthink" pressupõe a submissão (inconsciente ou subconsciente) às posições de um líder e procura explicar, por exemplo, por que é que os generais alemães se curvaram quase sistematicamente perante o fuhrer.O efeito "groupthink" alastra em mancha de óleo e atingiu a maior parte da Alemanha no período que chocou a Guerra.Ora no caso das votações parlamentares o que se observa é, geralmente, uma atitude contrária, procurando os diferentes grupos tirar partido das eventuais vulnerabilidades dos outro grupos, nomeadamente dos que suportam o Governo. Neste caso do veto à Lei das Indemnizações por responsabilidade extracontratual do Estado, a unanimidade foi possível porque de um lado estão os cidadãos, que votam, e do outro o Estado, entidade abstracta que(quase) todos esconjuram mas a quem(quase) todos pedem abrigo debaixo do seu esburacado chapéu-de-chuva.Quando se diz que o Estado é (ou deve ser) uma pessoa de bem, usa-se uma fórmula politicamente correcta mas vazia de sentido. Porque o Estado são pessoas que nós podemos identificar e é nesse conjunto que estarão, ou não, estarão os fautores dos prejuízos causados aos cidadãos.O Presidente apresentou, tanto quanto julgo saber, três tipos de argumentos: bloqueamentos dos tribunais, fuga futura às responsabilidades por parte dos funcionários, despesas indomináveis.Não concordo com os dois primeiros, acho muito pertinente o último.Quem deve ser responsabilizado não deve ser o Estado mas os funcionários acusados e considerados culpados de negligência grave ou dolo.O Estado tem fraco poder negocial junto de alguns interlocutores. Sabemos todos que, por exemplo, as obras geridas pelo Estado custam geralmente o dobra e demoram o dobro do prazo, porque entre os valores das propostas e os valores pagos há uma torrente imparável de revisões de preços.Se for aberta a torneira de forma franca há muitos cambalachos que podem ser engendrados. A literatura policial está cheia de exemplos e a realidade excede sempre a ficção.
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Margarida Corrêa de Sá disse, Caro Rui Fonseca
Admito que o conceito de "groupthink" tenha funcionado no caso da unanimidade da lei em questão. Do seu comentário há um parágrafo que pode explicar porque funcionou o conceito. Quando refere: "Neste caso do veto à Lei das Indemnizações por responsabilidade extracontratual do Estado, a unanimidade foi possível porque de um lado estão os cidadãos, que votam, e do outro o Estado, entidade abstracta que(quase) todos esconjuram mas a quem(quase) todos pedem abrigo debaixo do seu esburacado chapéu-de-chuva." Numa matéria tão melindrosa quem é que no momento da verdade, na votação, teria a ousadia política, no que seria considerado "politicamente incorrecto", de afirmar uma perspectiva contrária ao pensamento dominante? Quem estaria disposto a expressar no voto um ponto de vista que fosse depois catalogado como uma posição antidemocrática do tipo "contra os direitos dos cidadãos"? Na lei em questão, as divergências políticas quanto às repercussões das soluções adoptadas, que julgo existem, foram menorizadas face à vontade política de aprovar a nova lei em torno da qual o consenso político foi mais fácil de obter, tendo conduzido à unanimidade.
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Volto, porque reparo que o conceito de "groupthink" parece ser o tema central deste "post" e, por isso mesmo, gostaria de acrescentar mais algumas razões pelas quais me parece menos bem utilizado no contexto da unanimidade à volta da proposta que foi submetida à promulgação do PR.
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Um dos exemplos de experiência "groupthink" (a que poderíamos chamar sentido de rebanho) consistiu na convocação para uma sala de grupos heterogéneos de pessoas (duas ou três dezenas de cada vez, salvo erro) às quais era mostrado um quadro com linhas direitas, salvo uma que era ligeiramente, mas visivelmente, torta. Era perguntado a cada a um dos presentes na sala se as linhas eram todas direitas ou não. O primeiro a responder (era um membro do grupo de investigação) respondia afirmativamente. Concluiu-se, então, que consistentemente cerca de 80% dos cobaias respondiam de acordo com a primeira resposta.
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O "sentido do rebanho" não envolve considerações dos seus membros relativamente a quaisquer membros fora do grupo. Quando a questão da "Baía dos Porcos" foi discutida a resolução seguiu o discurso do primeiro interveniente, salvo erro, de Robert Kennedy. Não foi tomada em função de qualquer expectativa da opinião americana.Ora, neste caso da unanimidade observada à volta das indemnizações por responsabilidade civil extracontratual do Estado, o factor determinante não foi a posição de quem falou primeiro mas as expectativas que todos os grupos políticos têm acerca da reacção dos cidadãos quando se trata obter favores, subsídios ou reembolsos do Estado.
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O que esta proposta tem de aliciante para essa unanimidade é que ninguém sabe quanto custarão as consequências da sua aplicação.
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Senão fosse essa opacidade o factor fundamental, Marques Mendes já teria proposto no Parlamento a redução dos impostos e todos os outros o teriam seguido para grande satisfação do meu Amigo Pinho Cardão (e minha, claro!)

POR QUÊ?

É reconhecido que as perguntas são bem mais importantes que as respostas, a capacidade de perguntar mais subtil que o engenho de responder. A capacidade de um povo em se desenvolver promove-se pela sua inquietação em perguntar e nunca pela indolência em aguardar respostas. Entre uma cultura de interrogação e outra de expectativa a diferença explica o progresso que anima a primeira e o cansaço que atrofia a segunda. As sociedades mais inquietas, as mais jovens, são as mais revolucionárias e inovadoras, porque são as que mais se interrogam. Aliás, não há boas respostas que não procedam de boas perguntas. Aos maiores cientistas não ocorreriam as respostas que os tornaram célebres se não lhes tivesse ocorrido o génio das perguntas motivadoras.
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Em Portugal convivemos insensivelmente com situações retrógradas que não passam despercebidas a muitos dos que nos visitam ou nos observam porque há muito tempo que, acerca de situações idênticas, se interrogaram e criaram respostas.
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E quanto mais velhos formos ficando maior será a atrofia da capacidade de perguntar: por quê?
A imigração poderá, de algum modo, injectar alguma inquietação virtuosa, perturbadora da nossa indolência? Oxalá.