O inimigo público nº. 1 dos portugueses é a (falta de) educação. A afirmação é chocante mas, lamentavelmente, verdadeira.
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Todos os indicadores que nos posicionam em maus lugares no ranking das nações ditas desenvolvidas decorrem da nossa insuficiência média de conhecimentos. Quase toda a gente concorda que não vamos longe enquanto não arrepiarmos caminho na rota para a educação. O início das aulas, que deveria não ser notícia, é todos os anos aproveitado para o combate político à volta das nossas insuficiências pedagógicas, do excesso de professores e de candidatos à docência. A culpa, neste caso, se não morre solteira é porque sistematicamente a casam com o Ministério.
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Um dos quistos mais difíceis de remover do nosso tecido social é o abandono escolar. Os números que vieram a público, ainda que contraditórios, denunciam uma situação a todos os títulos indecorosa: Em Portugal a taxa de abandono é dupla da observada na União Europeia. Perante esta situação que nos deveria envergonhar, a grande maioria reconhece o desastre mas ninguém arrisca discutir soluções ou propor alternativas. Geralmente a reacção é um encolher de ombros e rotular de incompetente quem está à frente do Ministério.
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O abandono escolar não sendo uma especificidade portuguesa apresenta entre nós valores que a nossa consciência colectiva não deveria suportar. Mas suporta sobretudo porque a consciencialização colectiva deste desastre é ténue e, quando reage, descarrega para cima. Como se a responsabilidade de reduzir o abandono escolar dependesse apenas do Ministério. Entre as abundantes discussões que preenchem os noticiários e dão espaço a muitos colunistas não aparece quem proponha medidas.
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E, no entanto, como sempre acontece, toda a resposta começa por uma pergunta: Por que abandonam tantos jovens o ensino secundário? Presumo que o inquérito já tenha sido feito e refeito e as causas estejam bem caracterizadas. Quais são elas, é matéria que não é do domínio público. Mas era por aí que deveríamos começar.
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Imagino que uma das razões é de natureza económica: A partir de certa idade os recursos familiares não suportam mais permanência escolar. Se essa é uma das razões principais, ou se outras existem que solicitem maior afectação de meios públicos, não sendo estes ilimitados, só há uma saída: a redução do orçamento em áreas não tão prioritárias: a defesa, seguramente, é uma delas; mas a garantia de ensino universitário tendencialmente gratuito é outra.
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Contudo, ninguém, com responsabilidades ou pretensões políticas parece querer arriscar discutir. A vida política é cada vez mais táctica: defesa cerrada e contra-ataque até à meia distância. E, geralmente, o resultado é um empate.
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