Saturday, March 03, 2007

LISBOA ABANDONADA : UM CASO EXEMPLAR

O Público de anteontem publicava um artigo de Diana Ralha, com o título "Prédio onde viveu Fernando Pessoa saqueado em plena luz do dia", relatando que a "Câmara de Lisboa vistoriou ontem o edifício depois de um cidadão ter denunciado à polícia roubo de azulejos, mas a demolição poderá estar eminente. A denúncia às autoridades de um roubo de azulejos Arte Nova, da fachada de um prédio devoluto na Avanida Casal Ribeiro, poderá ter ditado o destino do edifício. A demolição deste imóvel esteve em cima da mesa em 2002 e foi travada por Santana Lopes, porque a historiadora Marina Tavares Dias defende que, em 1915, aquele imóvel teve um notável inquilino - o poeta Fernando Pessoa.
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Cinco anos depois, o veredicto poderá ser outro. Durante este período, nada foi feito pelo proprietário ou pela autarquia para recuperar o edifício, que se manteve numa lenta agonia, fechado, de janelas e portas abertas. As lojas do piso térreo do imóvel foram ocupadas por sem-abrigo e toxidependentes em Dezembro passado e nesse mesmo mês a Polícia Municipal e os Bombeiros vedaram todo o perímetro do imóvel devido ao perigo de derrocada. (...)"
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Uma leitura possível deste artigo leva a conclusões mirabolantes se desenquadradas do cenário
em que os protagonistas se movimentam:
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- Primeira conclusão: os historiadores são uns empatas; Descortinam uns resquícios de memória e entropiam o ram-ram das secretarias; Puxam o alerta, o combóio pára e dali não arranca;
- Segunda : os sem abrigo e toxidependentes promovem a protecção de imóveis em derrocada evitando, deste modo, que os mesmos desabem para cima dos com abrigo;
- Terceira : Os colecionadores, mercadores ou simplesmente angariadores de azulejos Arte Nova
promovem a desobstrução da via encrencada pelos historiadores;
- Quarta e definitiva conclusão : Os abandonados (drogados, sem-abrigo e larápios) promovem a recuperação de (prédios) abandonados.

3 comments:

Joao C R said...

Ao lêr este artigo lembro-me de outro em que se publicitava que se estavam a alugar casas para colocação de reclusos com as suas penas terminadas. Estas casas teriam como função dar abrigo a pessoas sem local para estarem após a saída da prisão. Porque não haver uma integração com a recuperação de edifícios na posse das câmaras que serviriam para novas colocações de reclusos nestas condições garantindo desta forma tanto alojamento como trabalho. Como não acredito em dar por dar, essas habitações teriam assim um custo controlado pago através do trabalho e esforço destas pessoas facilitando a sua integração na sociedade.

Joao C R said...

Não é estranhar o caso do "ladrão que potencia a razão" parece-me que sempre na cultura humana foi necessário o engano na estrada para se vêr a necessidade de sinalização da mesma. Penso que faltam 2 coisas em todas as câmaras municipais: Planeamento de médio, longo prazo (exercitar o crescimento a ciclos de 4 anos nunca permite qualquer desenvolvimento inteligente e creio que por mais que o digam que o façam ninguém leva esse trabalho a sério ou respeita o mesmo do anterior responsável..) e critérios claros na definição de prioridades que creio que advém de uma falta de estratégia (no momento da apresentação a eleições) e de uma necessidade de responder a um tremendo número de solicitações diversas e adversas.....

Joao C R said...

abraço e boa viagem....