A Lina trabalhou muitos anos numa empresa do sector privado. Mesmo quando essa empresa foi nacionalizada e, anos mais tarde privatizada de novo, os hábitos de trabalho não se estropiaram e a Lina continuou a dar o seu melhor.
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Um dia a Lina, por razões que não vêm ao caso, ficou desempregada e a receber subsídio de desemprego.
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Estava a Lina nesta situação, foi chamada pelos Serviços da Segurança Social para realizar trabalhos que era suposto poder desempenhar num Tribunal não muito longe da sua residência, e a Lina foi.
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Foi, e apresentou-se ao serviço à hora marcada. Não estava ainda ninguém. Já passava das 10 horas quando os funcionários judiciais começaram a aparecer nas instalações. A Lina disse por que estava ali, mandaram-na sentar e esperar, porque antes de começar havia ainda um cafézinho a tomar.
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Quando, finalmente, lhe deram trabalho para as mãos, a Lina desembaraçou-se dele como era seu hábito, mas tanta produtividade de rajada provocou celeuma interna; o ritmo da Lina iria colocar em risco a estabilidade ambiental de tranquila modorra em que os serviços sempre tinham vivido a contento de todos. Alguns pagamentos de despesas correntes, por exemplo, não se faziam ( e continuam a não se fazer) por transferência bancária ou por cheque mas pessoalmente. A Lina estranhou e perguntou porquê. Depressa percebeu que as saídas para efectuar pagamentos são uma boa oportunidade para apanhar ar fresco e já não voltar ao serviço.
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Isto aconteceu no Verão, em tempo de férias. No fim das férias o quadro estava completo e a Lina foi devolvida ao subsídio de desemprego. Os serviços voltaram à normalidade.
Friday, March 02, 2007
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2 comments:
Creio que a Lina é diminuitivo de Adna Linatovitch. Emigrante Russa com uma cultura ligeiramente diferente no que se refere às respostas ao estímulo...trabalho. É tudo uma questão de educação de berço...creio eu. Eu tinha uma avózinha muito pobrezinha mas muito honrada que trabalhava e não gastava .... e assim levava uma vida de cabeça erguida sempre disposta a dar, nunca pronta para pedir. Veio de outros tempos... aprendi muito com ela nomeadamente que nada me vem parar à mão se eu pelo menos não estender uma mão calejada da enchada. Infelizmente a muitos dos meus, pôr a mão atrás das costas tem como resposta ela vir cheia... esse é o nosso drama. A sociedade só se vai transformar quando essa mão fôr ...cortada.
Olá João!
Não. A Lina é bem portuguesa.
Também cá temos quem trabalhe a sério. E talvez não sejam tão poucos quanto isso. Estão é mal orientados.
Um abraço.
Conforme prometido, estou a inserir algumas fotografias daqui.
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