"Hábil negociador", é certamente o atributo mais citado das qualidades do sr. António Costa. Um atributo que lhe permitiu ser empossado como primeiro-ministro depois de uma derrota partidária, mas sobretudo pessoal, nas eleições legislativas de 4 de Outubro, e quando o sr. Passos Coelho já esfregava as mãos para continuar a governar durante mais quatro anos.
Se os compromissos assumidos entre o PS e o BE, por um lado, e o PS e o PCP (e PEV, em anexo) são suficientemente consistentes para suportarem o governo do PS durante a legislatura, meia legislatura ou só até ao próximo verão, só o futuro dirá. Para já, arrancou aos solavancos, o que não significa que não possa vir a conseguir um marcha com andamento sem turbulências que o descarrilem na próxima curva mais apertada.
Ontem, os comentários da área socialista procuravam desvalorizar o desencontro entre socialistas, bloquistas e comunistas em São Bento no mesmo dia em o Governo tomava posse no Palácio da Ajuda, enaltecendo o vigor do parlamento enquanto sede própria para analisar e discutir as propostas das forças partidárias que nele têm assento. Não se entenderam, sequer na generalidade, o PS e os parceiros que suportam a maioria de esquerda acerca das medidas de austeridade com reflexo no OE para 2016? Não importa, e é salutar até, argumentam com irrefutável optimismo, têm agora vinte dias para se entenderem na especialidade, e vão, inevitavelmente, conseguir o acordo imprescindível.
Mas são argumentos para se confortarem.
A realidade nua e crua é diferente, e o primeiro-ministro acusou logo o desconforto pelo deslize em que, incompreensivelmente, o seu líder parlamentar se tinha deixado embarcar. Resultado : PS e esquerda vão negociar propostas do Governo em reuniões às terças.
Será também um teste semanal à apregoada habilidade de negociação do líder. Habilidade e resistência física e psicológica, que os parceiros são difíceis de digerir.
O sr. Jerónimo de Sousa, já se sabe, não prescinde de trazer de volta os transportes públicos ao domínio do sr. Arménio Carlos até ao próximo Congresso do seu partido, altura em que admite reformar-se. (vd. entrevista do Expresso de hoje).
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