Friday, November 13, 2015

UM TIRO NA CAGARRA

Éramos oito* e só um apostou que o PR vai deixar que o executivo demitido na terça-feira passada continue em exercício de funções. Os outros sete, entre os quais me incluo, apostaram que ele vai, a contra gosto, acabar por nomear Costa como primeiro-ministro depois da visita à Madeira. E a razão parece linear: um governo de iniciativa presidencial seria chumbado sem apelo nem agravo; um governo de gestão, manietado até ao termo da inibição do PR para dissolver a AR, terminaria os seus dias destroçado pelos imbróglios em carteira, e o líder do PS teria a maioria absoluta garantida, salvo se a sua inabilidade fosse tanta que perdesse uma segunda oportunidade soberana. 

No meio da discussão, toca o telefone.

- Viva! Desculpe mas estou aqui no meio do almoço, o barulho é muito, podemos falar mais tarde?
- Tenho uma notícia importante!
- O que é que aconteceu?
- O PR já decidiu ...
- Ele disse-lhe?
- A mim, claro que não. Mas alguém muito próximo dele passou essa informação a ...
- E que decidiu ele?
- Que vamos ter governo de iniciativa presidencial ...
- O Passos disse que não aceita.
- Mas o primeiro-ministro será outro. Fala-se em alguém muito próximo do PR.
- Outro governo para 11 dias?
- Não, não. Esse governo chumba e continua como governo de gestão.
- E chega ao fim com os bofes de fora. É o melhor cenário para o Costa, o pior para o Passos.
- Qual é, então, o melhor?
- Melhor, para quem?
- Para o Passos ...
- Se o Costa é nomeado, é ele e o PS que ao fim de um ano estarão liquidados. E não só: também o PCP e o Bloco de Esquerda levarão um rombo que será histórico. Quem ficar fora do governo nos próximos tempos ganha as legislativas com maioria absoluta ... 
- O Passos fica de fora se o PR nomear governo de sua iniciativa ...
- Dá no mesmo. Ganharia o Costa.


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*Curiosamente, dos oito reunidos à mesa, sete são e sempre foram de esquerda. O outro é, naturalmente, céptico. Para seis de esquerda, o PR não tem alternativa senão nomear Costa, para o sétimo, o PR não nomeia Costa porque não quer; para o céptico, um governo de gestão seria um tiro mal apontado pelo PR.

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