Leio que "o GES desapareceu porque era um baralho de cartas". De burro-em-pé, deduzo. Mas é uma metáfora que não explica a razão que moveu Ricardo Salgado a dedicar-se a um jogo que, fatalmente, acaba sempre pelo derrube do baralho.
Os banqueiros não sabem gerir actividades não financeiras. Presumem que sabem, mas não sabem, e quando avançam pelos caminhos mais escorregadios de outras actividades económicas, o mais certo é estatelarem-se. Pode a sua inabilidade para nadar fora das suas águas ser transitoriamente compensada pelo poder financeiro que detêm, mas, mais tarde ou mais cedo, perdem o pé e afogam-se em águas que não dominam. O poder financeiro que Ricardo detinha deu-lhe e sobrou-lhe para comprar a conivência de Zeinal Bava e companhia, pagando-lhes exorbitantemente a troco de uma gestão financeira danosa da PT. Até ao dia em que o baralho cedeu ao peso dos elefantes criados por Ricardo, e o Zeinal, um passarão exótico, voou para o lado de lá para sair do jogo, como era de crer, com uma indemnização à americana.
A reabertura da bolsa, depois do vendaval desencadeado em Abril de 74, e a subsequente constituição de sociedades financeiras a caminho de serem bancos, vieram suscitar o aparecimento de banqueiros como cogumelos na sua temporada. E todos bons, vangloriavam-se eles. Industriais, com I grande não vingou nenhum. E se um ou outro enfunou bem a vela na reabertura da banca, e pretendeu ser bem sucedido na indústia, guinou mais tarde para actividades menos arriscadas, ou, mais simplesmente, especulativas.
Ricardo Salgado caiu derrubado pela manada de elefantes que criou, e que lhe sairam brancos.
Mais lhe valia ter-se ficado pelos bancos. A ele e a nós que teremos, de um modo ou de outro, de contribuir para o peditório que os desastres dos banqueiros desencadeiam.
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