Sunday, December 07, 2014

DESIGUALDADE ENCOBERTA

O tema da desigualdade está na ordem dia. "O Capital no sec. XXI" de T. Piketty globalizou a discussão acerca das culpas da concentração da riqueza na redução do crescimento económico. Anteontem foi apresentado  em Madrid o relatório da Organização Mundial do Trabalho (OIT) - vd. aqui - relativo ao período entre 2006 e 2010. Os dados divulgados no artigo do El País são críticos relativamente a Espanha, que terá observado o maior agravamento da desigualdade no conjunto dos países da União Europeia e  os Estados Unidos da América, e lisonjeiros para Portugal, que terá observado um decréscimo na desigualdade entre o decil da população mais pobre e o decil da população mais rica.

E são lisonjeiros porque os efeitos das medidas de austeridade fizeram-se sentir a partir de 2011 sobre
os estratos sociais intermédios, vulgo classe média, que, quer pelo aumento do número de desempregados, quer por terraplanagem fiscal dos rendimentos, alargaram a faixa de pobreza e reduziram substancialmente os rendimentos médios dos restantes. Provavelmente, em 2014, não só a desigualdade entre os dez por cento mais pobres e os dez por cento mais ricos se agravou como, certamente se agravou muito mais ainda a desigualdade entre as classes colocadas nos decis intermédios e o decil superior.

Resumindo: Uma análise comparativa entre os rendimentos dos 10 por cento mais pobres e dos 10 por cento mais ricos ignora um segmento que representa 80 por cento da população, que, ou transitou parcialmente para a faixa de pobreza, ou suporta a solidariedade prestada ais mais carenciados, e viu, na sua maior parte, reduzidos os seus rendimentos.

Não li o relatório. Certamente que as suas conclusões vão além daquelas que o artigo do El Pais desvenda. Mas, porque se reporta a um período anterior à política de austeridade que castigou, e
continua a castigar, os países mais fragilizados, carece, flagrantemente, de actualidade.


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