Saturday, December 27, 2014

FAMÍLIA SALGADA

- Já leste isto?  Não leste. Tens de ler. Ouve:  "Nunca fui a uma consoada. Não é um lamento nem um orgulho. Mas é – como sempre foi – um alívio. Tanto a minha mãe como o meu pai ensinaram-me (ou desviaram-me a pensar) que as famílias são perversões sanguíneas. Nem ele nem ela gostou dos pais que tiveram. Os amores e as fidelidades sanguíneas e genéticas, segundo os meus pais, eram estupidezes eugénicas que eram, para todos os efeitos práticos, nazis." Que te parece, hem? É um tipo franco, não é?, um filho da mãe, um filho da mãe, mas franco, que confessa que dos pais, se não herdou mais, herdou-lhes a raiva contra a ascendência, que é, diz ele, uma perversão sanguínea. Será? Cada qual que fale por si. Do caos do cadinho hematológico sempre resultaram algumas aberrações mas o comportamento da grande maioria dos bichos ainda se pauta, geralmente, por afinidades parentais salutares. O instituto da família está em evolução acelerada para a desagregação dos laços tradicionais? E daí? Se a amizade, a fraternidade, a solidariedade, são elos de coesão das sociedades, os ascendentes familiares são, por estigmatização sanguínea, inimigos, ou, menos amigos entre si? De que lado mora a estupidez?
- Do lado que cada um escolher. Ninguém escolhe os pais, mas todos escolhem os amigos. E é incontestável que há muita gente, de toda a laia, que arruma os pais na prateleira dos mal amados. Filho és, pai serás ... Não sei o que pensam os filhos. Presume-se que não gostem dele, de outro modo ele teria acusado a não resiliência da tese em três gerações seguidas.
- De qualquer modo, o tipo não andará muito longe da verdade. Talvez até ande mais perto do que parece, ou que se quer que pareça. Mas que tem o sangue, um líquido que não transporta emoções, que ver com isso? Absolutamente nada.

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