Estavam presos preventivamente, acusados de crimes hediondos, e, nem das imagens televisivas, nem das fotografias, nem das ocasionais declarações à imprensa transparecia qualquer indignação profunda, revoltada. O grupo convivia e trocava livros e cds, nenhum se assumia repelente ou repelido no conjunto.
- ...
- Se eu fosse injustamente acusada de um crime daqueles ou de outro parecido, dava saltos de corça! Ninguém me aturaria na prisão, até que me matassem!
- Penso o mesmo: nenhum cidadão comum suportaria um vexame destes sem espernear, se estivesse inocente. É preciso ser muito civilizado para sofrer uma injustiça tamanha e manter tanta serenidade.
- ...
Aguardavam, diziam, que se fizesse justiça. E a justiça condenou o grupo
à prisão, salvo um, que foi absolvido e, mais tarde viria a exigir, sem
sucesso, indemnizações pelas consequências materiais e
morais sofridas por uma prisão preventiva injusta.
Recordo-me agora da nossa reacção às notícias que inundaram os media, até à náusea, há doze anos, a propósito desta carta.
- ...
- É assim que se comporta um inocente?
- Se fosse um cidadão comum, sim. Assim, não sei, não.
- O motorista chorava convulsivamente à saída do Tribunal de Instrução Criminal. Significa revolta ou arrependimento?
- Ou medo?
- Medo, nestes casos, só pode significar arrependimento. Quem não deve não teme.
- Se assim for está tramado o motorista.
- Talvez não. Quem confessa a verdade ...
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A justiça popular é imparável até ao veredicto final da outra.
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