Philip Augar, Financial Times, 16/12
Philip Augar depois de ter sido banqueiro optou por escrever sobre finanças. No artigo publicado ontem no FT começa por perguntar: Conseguirão os banqueiros auto corrigir-se? Augar duvida.
E duvida porque, diz ele, tal qual os alcoólicos numa loja de bebidas alcoólicas, os bancos de investimento não conseguem resistir a um gole ilícito quando supõem que ninguém os está a observar.
Esta a conclusão que deve retirar-se das multas impostas na semana passada a 10 "bancos de investimento" norte-americanos por infracção das regras estabelecidas para derimir conflitos de interesses em vendas públicas de acções.
O mais chocante, contudo, é que as prevaricações em questão ocorreram em 2010, apenas sete anos depois de terem sido estabelecidas regras para limpar o marcado das IPO (Initial Public Offering), na ressaca do "crash" das empresas das tecnologias de informação, as dotcom, e, acrescento eu, quando os EUA o mundo se confrontavam com a crise irrompida em 2008.
Augar termina: "Tentando minimizar as consequências dos seus comportamentos, os bancos de investimentos poderão argumentar que 2010 não é 2014 e que, finalmente, depois dos escândalos observados nas manipulações da Libor e das divisas, a corporação tomou emenda. Mas essa é precisamente a conversa dos alcoólicos crónicos na loja de bebidas alcoólicas. Portanto, tal como os alcoólicos inveterados, os banqueiros devem reconhecer "Sou um banqueiro de investimentos e não tenho cura. Por favor, protejam-me de mim mesmo".
A conclusão de Augar é ingénua. A comparação do comportamento dos banqueiros de investimento com os alcoólicos tem limites flagrantes: Se há alcoólicos que reconhecem, em períodos de sobriedade, que o alcool os destrói, e pedem ajuda, os banqueiros de investimentos sabem que são as transgressões que lhes permitem a acumulação incontida das suas riquezas, e estão-se borrifando para advertências morais.
Anteontem noticiava o Público, vd. aqui, que "o acordo entre democratas e republicanos para a despesa pública em 2015 inclui bónus para os grandes bancos, que estão cada vez mais a voltar ao "business as usual" de antes da crise."
Dito isto, está tudo dito: A democracia está gravemente doente de um vírus chamado falta de consciência cívica colectiva. E nem as democracias mais avançadas estão imunes.
1 comment:
"...falta de consciência colectiva". E como é que se altera esse status quo? Alguns acreditam que só a revolução o torna possível, outros preferem apelidá-lo de imperfeições do sistema que ele próprio tenderá a autocorrigir.
O que temos que fazer para criar um regime que, pela via democrática, tenda a criar uma consciência colectiva assente na solidariedade, na ética e na morar? eu não sei e tu Rui tens alguma ideia? Abraço
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