(aqui)
É a única afirmação neste seu apontamento de que discordo. Por que razão não se devem (ou não podem) discutir os gostos? Porque um aforismo do tempo do outro senhor manda? Se assim fosse a estética nunca teria sido, talvez, o mais polémico ramo filosófico e a arte nunca teria passado de um nado morto.
Estivemos há dias no Museu dos Coches com parte da nossa gente mais nova e, vendo o interesse deles, recordei-me da primeira vez que lá estive, tinha, então, a idade deles agora.
O espaço é acanhado para tamanho acervo? Admitamos que sim. Mas os coches estão num ambiente do tempo da idade deles. Tirá-los de lá é tirar-lhes metade da alma. O antigo Picadeiro Real é a sua casa adoptiva e, como qualquer pessoa de idade, sinto-os a recusarem-se a habitar um espaço que de todo em todo lhes é estranho.
Fico, portanto, satisfeito que a falta de dinheiro evite uma tropelia ao aconchego das nobres carruagens. Aliás, assim como o excesso de crédito nos condenou a esta badalada vil tristeza também a falta de recursos obrigará a refrear a sofreguidão de alguns pelo lucro fácil.
E só essa sofreguidão, do meu ponto de vista, justifica aquele excesso de cimento que, pior do que os 35 milhões que lá foram enterrados, obrigará, quando abrir as portas, a custos que, ao fim de uma dúzia de anos, se tanto, terão consumido o equivalente ao investimento na bisarma.
Razão de tudo isto: A conivência perversa entre os políticos, que se sustentam dos votos, dos construtores civis e atividades correlativas que lhes fazem as obras com que enchem os bolsos e compram os votos dos papalvos.
No fim de tudo isto, o que mais custa, não é o que já custou, é o que vai custar no futuro se continuarem a faltar mecanismos legais que evitem a continuação do desaforo.
Que continua. Estamos, precisamente agora, em plena época de caça ao voto com chumbo a crédito.
4 comments:
Caro Rui Fonseca
Claro que os gostos também se podem discutir. A beleza, especialmente, aprecia-se. A beleza do dito edifício poderá ser sempre discutida à luz da "Crítica da Razão Pura" de Kant. Não teria sido má ideia.
Agradeço a distinção que deu ao meu post, com um título excelente.
A falta de dinheiro é o remédio para se fazerem menos disparates.
'os gostos não se discutem'...'há coisas para todos os gostos'...se não fossem os gostos o que seria do amarelo'...são slogans sem qualquer consistência provativa...a Estética, embora de abordagem filosófica difícil,tem consistência teórica, podendo até revestir a forma experimental...no caso, não sei se poderia ser discutida à luz da teoria de Kant para quem a origem do gosto é um
‘a priori’(i.é independente de qualquer experiência anterior) quer no sujeito que contempla quer no que cria com génio...
eu até situaria a questão a outro nível(com interesse meramente teórico):deveria chamar-se 'museu' a um repositório de um objeto antigo? já alguém se lembrou de chamar 'museu' à horrível capela dos ossos da igreja de S. Francisco em Évora?
...quanto à justeza do investimento... 'videant consules'..
abç
Não são devidos agradecimentos, Estimada Margarida Corrêa de Aguiar. É sempre uma honra receber neste bloco de notas os seus comentários.
Grato sou eu pela sua presença.
Grande Francisco, meu Filósofo amigo.
Obrigado pelo teu contributo.
Mas permito-me discordar quanto ao teu critério de consideração de um museu como tal. O Museu dos Coches, do meu ponto de vista, merece bem ser considerado um museu. A comparação que fazes não me parece pertinente.
Já lá foste com a tua neta?
Se não foste, tens de ir!
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