Thursday, October 07, 2010

NÃO, TEODORA

"O sistema bancário português não esteve envolvido nos problemas que levaram à crise financeira",  afirma Teodora Cardoso em artigo publicado hoje no Diário Económico que transcrevi aqui.

Ainda que o artigo seja geralmente equilibrado e pertinente, a absolvição dada por Teodora ao sistema bancário na gestação e na precipitação da crise está, nitidamente, condicionada por um julgamento em causa própria.

Não Teodora, ao sistema financeiro português não podem ser assacadas toda as responsabilidades da crise mas também não se deve elibibá-lo da quota parte, que não é pequena, que teve, e ainda tem no imbróglio em que nos encontramos. A começar pelo Banco de Portugal, onde Teodora Cardoso fez carreira, aliás com muito mérito, e hoje é vogal do conselho de administração. Os casos BCP, BPN, BPP, para falar dos mais salientes, aconteceram em grande parte em consequência da falta de empenho (é o menos que pode dizer-se) da função de fiscalização que lhe compete e que, praticamente, esgota as suas responsabilidades maiores depois da criação do SME e da transferência de competências dos bancos centrais nacionais para o BCE.

Esses casos espúrios contribuiram em parte significativa para o esforço financeiro que nos empenhou ainda mais perante o estrangeiro. Quanto nos custaram? Não sabemos ainda porque o Governo não diz e o Banco de Portugal também não.

Mas foram sobretudo os bancos, a começar pelo banco do Estado, a Caixa Geral de Depósitos, que veicularam a dívida que empanturrou o Estado e as famílias, favoreceram os sectores não transaccionáveis e contribuiram para estiolar os sectores que têm de mostrar o que valem no mercado. Ao fazerem engolir o crédito para consumo ( a CGD, po exemplo, tem ainda à venda 50 cartões de crédito) e sobrefinanciar a construção civil, um mercado há vários anos saturado, os bancos sabiam bem que não tardaria o dia em que a  festa teria, forçosamente, de acabar.

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