É sabido que os senhores telespectadores se pelam por ver desgraças alheias, sentados comodamente em casa a resmoer o jantar. As televisões sabem dessa apetência sádica e aproveitam para ganharem "market-share" descarnando os casos que vão surgindo, por acção do homem ou revolta da natureza, até ao tutano.
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É uma vergonha, dizem algumas almas pseudo-puras, revoltando-se contra a exploração da desgraça, mas continuam a ver.
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Quando, por bondade divina, escasseiam por acaso os casos ao pé da porta, importam-se as imagens de canais internacionais e o abastecimento de imagens de misérias humanas ao domicílio continua garantido. Este ano, por enquanto, o flagelo dos fogos de Verão ainda não começou, devem andar enervadíssimos os pilotos dos helicópteros e toda a parafernália que em terra para arder ocupa o teatro das operações, segundo a terminologia que os soldados da paz pediram emprestada aos seus homólogos da guerra. Mais ansiosos devem estar os directores dos programas de informação, sem as imagens escaldantes próprias da estação.
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A RTP, empresa pública encostada ao OGE, não olha a despesas e não se contenta com a passagem de imagens mandadas por outros. Manda os seus enviados especiais onde cheira a chamusco ou a borrasca. Há dias andava o incansável J Rodrigues dos Santos nas ruas de Gori e Tbilisi a saltitar por onde tinha passado a guerra do dia. Para além do custo que estas deslocações implicam, e que eu tenho de ajudar a pagar, o rapaz poderia ter levado um tiro e o tiro levado o nosso esperançoso escritor para onde não há candidatos ao Nobel.
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Já várias vezes me referi a este assunto aqui no Aliás. Mas o facto de ter visto no Lóbi uma abordagem semelhante, que comentei, desafiou-me a voltar a este negócio do desastre.
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Não penso que a solução da moderação na exibição da desgraça alheia passe por discursos com lágrimas de crocodilo. Quase toda a gente concorda com a dieta mas quase toda a gente desfruta da abundância de desastres. Quanto a mim, uma acção deveria ser tomada: Cortar o governo nas receitas que levam a RTP e a RDP a deslocar jornalistas ao estrangeiro em missões onde da sua presença nos locais não resulta valor acrescentado que as justifique. E só há uma via para atingir este objectivo: privatizar e cativar espaço de serviço público nas estações privadas. Para o caso de haver serviço público.
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Pelo menos o negócio do desastre não seria para os contribuintes um desastre de negócio.
4 comments:
Caro Rui Fonseca,
Subscrevo. Sendo que não acredito na existência de serviço público, que é hoje, na minha opinião, mero expediente para algumas ordinarices.
Por exemplo, um cartaz cultural é serviço público? Talvez. Mas não é preciso um canal de prontidão para o transmitir. Quem «procura» essa informação deve «procurá-la». (E há hoje cada vez mais meios.) Quem não procura, também não vai ser à porrada que vai descobrir a luz.
Desminta-se, entretanto, quem diz que não há mercado para todos os conteúdos que supostamente cabem no afamado serviço público. Pode não existir em horário nobre num canal bonito que esteja a pagar grandes novelas e num estúdio todo arranjado com um apresentador bem apessoado, mas há mercado. Aqui, na internet, por exemplo.
E agora, pegando nos exemplos que deu da informação (aliás, do negócio do desastre), lembro-me de ter discutido em tempos, com outro blogger, a Euronews. Eu gosto, ele não gostava (não sei se mantém).
Ora, esquecendo a génese do canal, aquele estilo de informação é, para mim, o ideal. Sínteses. Factos. 2+2+2 e não 2+1-1+2+3-1+5-5.
Creio que um dia ouvi, mas se calhar sonhei, que as televisões portuguesas estavam a caminhar para o jornalismo de estilo americano, onde os noticiários são programas de entretenimento.
A verdade é que, sendo o estilo americano ou russo, estamos lá. E é mesmo o negócio do desastre.
Ter um televisor ligado nos canais portugueses, é arranjar uma maneira de estupidificação ao domicílio.
Pago e principescamente pago. Mas quanto a isso, batatas, pagamos e não bufamos.
Não temos alternativas em termos televisisvos. Nem tv cabo nem meo, nem nada. Tudo repetições de repetições e pouco mais.
Em tempos houve um canal chamado canal europa, que veio a ser abafado para a criação do repetidor-mor que é a euronews.
Tinha uma programação muito melhor, mas durou pouco. Esse foi, para mim, o melhor serviço de tv que alguma vez tivemos. Acabaram com ele, foi pena.
Quanto a jornais, estamos conversados. Servem para dar que fazer a algumas gráficas e se não fosse o consumo institucional, já haveria menos que os que há. São essencialmente veículos publicitários, até os há gratuitos e dão dinheiro, ou então lavam, e quanto a seriedade, brio profissional, espinha direita e isenção, tanmbém não vale a pena falar. É tudo lixo. Os desportivos, alimentam conversas de café e repartição publica.Lixo à mesma.
Portanto, meus amigos, na minha modesta opinião, não vale a pena matar neurónios, ouvir barulho, cheirar tinta e ouvir baboseiras de babosos comentadores pagos, uns por césar outros por brutus, e ainda ficar com nervos ou à beira de um avc. Por mim, já todos tinham ido pregar para outra freguesia que com coisas destas eu não me entendo.
Fico de longe a ver.Vejo o que quero e não me incomodo com o cheiro.
Caro António,
Eu não sou tão radical e vou vendo alguma televisão, lendo alguns jornais, para além de me entreter a contrapor alguns comentários na blogosfera.
Nem tudo é assim tão mau e, seguramente, já muita coisa foi bem pior.
Recuou-se noutras? Certamente que sim. Mas a evolução tem sido positiva, apesar de tudo.
É esta a minha perspectiva, que venho da Idade Média.
Na Idade Média :-), lia quem lia, havia muito quem não soubesse porque não pôde mas agora há quem não saiba porque não quer.
Houve evolução, mas eu como radical e pessimista, fizeram-me ser assim ao defraudarem as expectativas que eles próprios criaram, mentindo-me, enganando-me algumas vezes, mas para pior. Ter cana de pesca e não pescar, esperando que o vizinho divida o carapau com ele, ou pior, vivendo da pesca do vizinho, é do mais rasteiro que há em termos humanos. Nivelo por baixo? Claro, assim vejo melhor as melhorias e queria olhar muito mais para cima do que aquilo que olho. Cada dia pior.
Na Idade Média, havia alguma intoxicação e quase sempre do mesmo teor. Poucos conseguiam ver outros horizontes, conseguiam saltar para ver melhor. A maioria não tinha jeito nem meio de o fazer.
Muitos foram embora, muios fugiram. Os que fugiram, regressaram e fizeram tão ou pior mal do que aquele de que se qeixavam. Criámos os pais e já lhes estamos a criar os filhos e os netos. Volta tudo ao mesmo.
É isto, esta coisa que me entristece como Português, acordado, que tenta ver por cima da cortina de fumo, o céu azul.
Pode um dia vir vento e limpar o fumo...
Virá a tempo?
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