Thursday, September 18, 2008

ACELERADOR DA HUMANIDADE

Dizer que o engenho humano e a competição global aumentam o número e a diversidade dos produtos e serviços disponíveis é dizer o óbvio. Dizer que a competição e o engenho aumentam a produtividade e esta promove a dispensa de pessoas, continua a ser evidente. Já será menos evidente que a capacidade de consumo de uma sociedade desenvolvida é inferior à sua capacidade de produção: a primeira é limitada pelo tempo (o número de refeições diárias), a outra é apenas limitada pelos recursos materiais (a capacidade de produção de refeições pode crescer facilmente para o dobro, no mesmo intervalo de tempo, se não houver ruptura no abastecimento de gás, por exemplo).
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Assim sendo, ao aumento de produtividade corresponde, necessariamente a redução das ofertas de emprego num sector. A capacidade de trabalho disponível no sector que se tornou mais produtivo pode, no entanto, encontrar emprego noutro sector produtor de novos bens ou serviços, que a sociedade, mais rica porque mais produtiva, consumirá. É o efeito virtuoso da produtividade.
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O efeito destrutivo do trabalho ocorre quando a capacidade (restrita) de absorção (de consumo) não consegue acompanhar a capacidade (excessiva) da oferta. Daí a tendência para o fim do trabalho e a emergência de uma sociedade futura muito diferente.
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Ocorreram-me esta manhã, mais uma vez, estas caturrices antigas quando ouvi na Antena 1 as conclusões de um trabalho acerca das capacidades "multitask" da juventude: a sua habilidade para, ao mesmo tempo, desenvolver várias tarefas (ver televisão, blogar e dialogar em SMS, por exemplo).
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O excesso da oferta sobre a capacidade de consumo tinha, até agora, provocado uma tendência crescente para o desperdício (compra-se o que nunca se usa, se lê, se ouve), para a aceleração da utilização (viagens em contínuo), para a sobrepose (várias viaturas, várias casas). Agora surge o vício "multitask": a rotação no espaço e no tempo sem sair do mesmo sítio. Mas também a "multitask" tem limites. Nunca os meninos de hoje e os de amanhã conseguirão abarcar mais do que três ou quatro pontos de interactividade em simultâneo. E, se conseguirem, o que é que ganharão com isso?
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Que sabor tem a maçã sem tempo para se regalar com as papilas gustativas?

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