Saturday, September 20, 2008

A GRANDE CULPADA

E, de repente, toda a gente apontou o dedo acusador aos reguladores. Toda a gente, salvo os que atribuem as culpas ao sistema capitalista. Robert Reich, insuspeito de grande admiração pelo liberalismo económico, defende que a crise não decorre de uma falha de insolvência das instituições financeiras mas da perda de confiança (This isn't a crisis of solvency or liquidity; it's a crisis of trust). Claro que a crise foi despoletada pela falta de confiança mas são as razões dessa perda que importa analisar.
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A democracia sustenta-se em três pilares, que para lhe garantirem o equilíbrio necessário têm de ser independentes. Quando a conivência entre o poder político e o poder económico, decorrentes, entre outras causas, do financiamento das campanhas eleitorais, convida para a mesma cama (expressão de R. Reich) representantes do exectutivo e do legislativo, republicanos e democratas, e conta com a passividade do poder judicial, o desastre democrático é inevitável.
Lá, como cá, os reguladores nomeados pelo poder político, tendem a obedecer aos mesmos interesses.
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O escândalo Enron (o mais mediático dos que abanaram o primeiro mandato de Bush 2, sem lhe abalar a reeleição) há muito que se anunciava, antes de rebentar com estrondo, mas nada perturbou Wall Street. Impassíveis, os manipuladores continuaram o seu trabalho de engorda forçada dos porcos que lhes garantiam (e continuam em muitos caso a garantir) remunerações e prémios estratosféricos.
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As sub prime , empréstimos usurários, anunciados em cartazes toscos, para compra de casa nesse mesmo dia, eram o gato com rabo de fora que todos viam, pelos vistos não estranhavam, e de que a Justiça* não deu, não quis dar ou não pôde dar conta. Foi ela, e continuará a ser se nada for feito em contrário, a grande culpada desta e doutras crises que podem abalar o mundo e, muito pior que isso, comprometer irremediavelmente a democracia.
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Lá, como cá.
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* Justiça que não envolve apenas os juízes mas todos os agentes com responsabilidades executivas do cumprimento das leis.
Já depois de ter colocado este post, leio no caderno de economia do Expresso uma crónica de Saldanha Sanches caracturizando a impreparação dos juízes para lidarem com a criminalidade de colarinho branco. No caso caracturizado, com os crimes de um banqueiro, que se adivinha quem seja ainda que SS, naturalmente, não desvende.

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