Saturday, March 10, 2007

ELITES RASCAS

Caro J.
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Leio o seu "post" de hoje acerca do convite que a RTP fez ao "major batatas", comerciante de electro-domésticos, envolvido num sarilho da bola, vulgo processo do "apito dourado", não fico perplexo mas fico indignado.
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Não fico perplexo porque estão banalizadas estas promoções que os meios de comunicação social costumam fazer dos "arguidos presumidos inocentes enquanto não forem considerados culpados". A Dona Fátima, outro exemplo, ocupou recentemente, mais uma vez, a primeira página do Público com a exuberância do peito em grande plano no dia em que voltou a depor no Tribunal. Por falar em "presumidos inocentes", devo confessar que sempre me confundiu esta distorção semântica que nos quer fazer crer que alguém, que é presumido culpado (de outro modo não seria constituido arguido) deva ser presumido inocente. Assim como qualquer de nós, que não é nem nunca foi constituído arguido.
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Não é inocente este conluio entre arguidos e a comunicação social se o arguido faz parte do grupo dos colunados: dão-lhe os media tempo de antena ou espaço no jornal e cobram receitas para equilibrar as contas, eventualmente para fazer fortuna. Se essa promoção é feita por canais privados, que vivem da facturação de telenovelas, escândalos, tragédias e toda a sorte de notícias e programas rascas, paga quem vê, ouve ou lê, pode-nos causar naúseas mas tem de levar-se a besteira a débito da democracia, e o saldo ainda é francamente positivo. Se a conivência passa por entidades do Estado, suportadas ou subsidiadas com os nossos impostos, a questão é diferente e devia ser sancionada pelos cidadãos em geral se estes não estivessem acostumados a consumir zurrapa sem dar conta de quanto ela lhes custa no bolso e na cabeça.
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Reconheça-se que a RTP nos últimos anos alterou substancialmente a sua colagem à (má)qualidade dos programas dos canais privados e foi bem sucedida nesse arrepiar de caminho. Pelos vistos, contudo, não está adquirido que não venha a sofrer de recaída. Se assim for, a solução passa pela privatização. Pelo menos pouparíamos nos impostos.

1 comment:

e-ko said...

Li o post do jumento, fiz o primeiro comentário. Hoje voltei para ver os outros eventuais comentários e li o seu.

O problema da televisão em Portugal é o mesmo dos outros média. Não há bom jornalismo, não há bons média, não há boa televisão e, a questão não é ser ou não serem públicos ou privados. Pagamos directamente os média públicos mas, pagamos também, indirectamente, os privados, pois o preço das publicidades, pagas pelas campanhas de marketing das empresas, é repercutido nos preços dos produtos que compramos.

Neste país, está tudo vendido e só pessoas indignadas, esclarecidas e determinadas poderão, com algum incómodo pessoal, pela denúncia, criando movimentos de cidadãos, tentar acabar com estas vergonhas nacionais.

Vivi muitos anos fora de Portugal e não consigo suportar esta realidade. Já alguns anos que passei a idade da ingenuidade e não consigo cruzar os braços mas, sei que não podemos contar com os média para estas denúncias e que a blogosfera é, entre nós, demasiado umbigista e mais preocupada com pequenas tricas (retomando, constantemente, o que disse aquele e o outro e, recomeçar, indefinidamente, o jogo até ele estar gasto).

Bom domingo!