Thursday, November 23, 2006

O CASTELO DO BODE



Ontem, realizou-se a 2ª. Conferência da Ordem dos Economistas. De manhã, intervieram os fiscalistas Saldanha Sanches e Lobo Xavier, à tarde, os economistas Félix Ribeiro, Ferreira do Amaral e César das Neves.

Os fiscalistas foram muito objectivos e muito aplaudidos.

Félix Ribeiro foi muito aplaudido (alguém o considerou o melhor economista português), fez um discurso metafórico, concluiu que o avião Portugal não tem condições para levantar voo na travessia do túnel de vento que são as envolventes internacionais externas. Mais um diagnóstico, portanto. Terapêutica, o melhor economista português, não deu. Até porque, informou ele na circunstância, sendo funcionário público, se obrigou a nunca criticar os Governos de Portugal.

Para Ferreira do Amaral, o OGE para 2007 cumpre os principais requisitos que a conjuntura permite e exige.

César das Neves baseou a sua intervenção na projecção de gráficos que, segundo a sua leitura, são elucidativos de que este OGE é um orçamento da desilusão porque as receitas crescem mais do que o suportável e as despesas menos do que deviam. Por outro lado, e ainda segundo os gráficos César das Neves, esta crise apresenta um perfil esquisito relativamente às quatro anteriores, observadas a seguir ao 25 de Abril, porque, contrariamente às antecedentes, a crise actual não mostra os sinais de inflexão positiva que se tinham observado nas outras ao fim de um período de 4 anos. Sintomático, para César das Neves, é o crescimento da dimensão do Estado na economia portuguesa, sugerindo que reside nesse crescimento do Estado a razão do decréscimo da vitalidade da economia portuguesa.

Já a terminar, alguém da assistência, perguntou a Ferreira do Amaral se ele continuava a pensar que o euro era um constrangimento à evolução positiva da economia portuguesa. Segundo Ferreira do Amaral, Portugal não deveria ter entrado para o euro, mas a saída é problemática, não pode ser unilateral, mas talvez as inquietações que os italianos demonstram quanto ao tema possam vir a ajudar Portugal a libertar-se desse fardo que é a moeda única. Esta posição foi uma das poucas seleccionadas pelos telejornais da noite.

E aí temos o bode expiatório das nossas debilidades colectivas: o euro.

Se Ferreira do Amaral é profeta, e os profetas só se revelam com a revelação das profecias, (ele também profetizou ontem, na mesma ocasião, que o dólar virá a confrontar-se com uma crise tremenda; só não disse quando) um dia o mundo acordará com o anúncio da morte do euro.

Se a morte do euro prenuncia a morte da União Europeia, foi pergunta que ficou por fazer. De qualquer modo, presumo, que o bode se retirará pacientemente para o seu castelo a olhar, intrigado, como se comportarão os rebanhos libertos da sua presença.

E talvez, quem sabe?, o dólar, um dia, apareça lá, no castelo, à procura de asilo político. O dinheiro, forte ou fraco, não dá felicidade a ninguém.

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