Wednesday, November 01, 2006

JOVENS & LIBERAIS, Lda - A CONCORRÊNCIA DO SOL

Os neolibs têm dois ou três assuntos em que discordam dos neocons em questões de moral. Os neolibs defendem os "casamentos" homosexuais, lado a lado com a "esquerda caviar", assunto maldito para a generalidade dos neocons. Mas voltam a convergir na recusa ao aborto voluntário.
Em questões de organização da sociedade, sobretudo em matéria de económica, a neoconvergência é quase total: a "racionalidade" económica impõe-se a quaisquer questões de natureza moral. Estão neste caso a sobreposição dos interesses económicos individuais relativamente às ameaças decorrentes do aquecimento global do planeta; a desvalorização da ameaça de extinção dos recursos, nomeadamente do petróleo. Tanto para os neolibs como para os neocons as preocupações que assaltam grande parte dos cientistas e muitos economistas não são mais do que evaporações de mentalidades sobreaquecidas.
As discorrências que tanto neolibs como neocons dedicam a estes assuntos, muitas vezes de forma irónica, são frequentemente alicerçadas numa dupla tese por eles tida por inabalável: o planeta sempre sobreviveu a todos os aquecimentos e arrefecimentos a que foi sujeito; os recursos do planeta são inesgotáveis porque são substituíveis: quando o petróleo se extinguir a "mão invisível" já terá manipulado, entretanto, outro combustível substituto qualquer.
Em My Guide to Your Galaxy , o Autor, Sérgio dos Santos" subscreve um post intitulado "E OS $150 POR BARRIL ATÉ AO FIM DO ANO?" onde confronta as previsões com a evolução observada recentemente nas cotações do crude.
Em A Arte da Fuga , um dos Autores, António Amaral, em "HUMAN ACTION" recupera como premonitor do neoliberalismo, o sr. Bastiat.
Entre um post e outro vislumbrei a concorrência do Sol enunciada pelo sr. Bastiat em momento de bem conseguido humor, o que nele era frequente, diga-se de passagem, como elemento de ligação entre um post e outro. E deixei o comentário seguinte:
Acabo de colocar um comentário em " A Arte da Fuga" num post que AA inseriu sobre Frederic Bastiat e, nomeadamente, a apologia deste panfletário do sec XIX à suficiência da intuição humana na melhor escolha das melhores alternativas.
Acontece que o sr. Bastiat se notabilizou pela sua verve irónica e um dos casos que iluminaram a sua fama refere-se à concorrência do Sol quando a França aumentou os direitos alfandegários. Falava de energia, portanto.
Com a sua permissão aqui deixo o comentário colocado em blogue concorrente:
"O mesmo poderá dizer-se, em geral, de todas as áreas do conhecimento: de médico e louco, todos temos um pouco. Mas nem sempre as aparências são evidências.
Fréderic Bastiat foi um panfletário satírico que, entre outras coisas, jocosamente advertiu para os perigos do "concorrente" Sol quando a França, em meados do sec. XIX, decidiu aumentar os direitos de importação. O Sol, produtor a baixo custo de energia, é um formidável concorrente de todos os que na Terra vivem do negócio da energia. Por isso mesmo Bastiat ironizava propondo várias formas de evitar a entrada do Sol para não prejudicar os produtores franceses ligados ao ramo.
Mas a ironia de Bastiat é reversível: o neoliberalismo, em geral, recusa as projecções que apontam para o esgotamento, a médio prazo, dos recursos não renováveis e insiste que, até prova em contrário, enquanto a OPEP mantiver os preços a níveis competitivos o melhor é gastar o que há e logo se verá.
Ora o Sol é um generoso produtor de energia mas o aproveitamento dela, como substituto das energias não renováveis tem os seus custos.Que, por enquanto, são relativamente elevados.
A menos que o Estado intervenha com medidas que os neoliberais condenam: por exemplo, tornar obrigatória a instalação de paineis solares em todos os novos edifícios.Um neolib verá nesta imposição qualquer coisa de semelhante aos impostos aduaneiros que inspiraram o humor do sr. Bastiat.
Para um neolib, suponho, nenhum favorecimento é legítimo mesmo que seja o de proporcionar algumas vantagens ao Sol.
Que diria Bastiat disto? "

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