Caro J.
De vez em quando, desafinamos. Questão que se prende com a pauta que temos à frente.
Funcionários públicos há muitos e não podemos medir todos pela mesma medida. Há funcionários públicos competentes, mas também há muitos incompetentes.
O que é que, a este propósito leio na minha pauta? Pois leio que nenhum funcionário público incompetente é dispensado por o ser. O que é que V. lê na sua?
E quando digo incompetente não atiro acusação infundada ao ar. Os exemplos são incontáveis.
Mas vejamos um muito recente. Aconteceu ontem no programa "Um contra todos", vai prosseguir hoje.
Uma senhora, ainda muito jovem, tem um filho de oito anos e uma filha de 1 ano, ou vice-versa, professora do ensino secundário, na área de físico-químicas não sabia que um cirro é uma nuvem, que é de La Fontaine a fábula da cigarra e da formiga, que os Filipes foram três, em Portugal, o que é um heterónimo, e não sei que mais ela não sabia, ela não sabia nada.
Percebe-se que esta gente não queira ser avaliada.
Ora isto é um desastre porque dos 738 mil funcionários públicos, 205437, ou seja cerca de 28%, estão na Educação.
Claro que uma ignorante não caracteriza todo o universo em apreciação. Pois não. Lamentavelmente, contudo, os professores que têm ido tentar a sua sorte ao concurso têm dado, praticamente todos, espectáculo semelhante. O que não é de admirar, aliás. Pois se não prestam provas à entrada nem durante a carreira, e esperam negligentemente que o tempo passe e as progressões na carreira cheguem.
São mal pagos? Uma ova, desculpe o desabafo. Têm vencimentos em fim de carreira, onde todos querem chegar, acima da média europeia. Como deve saber, os vencimentos médios em Portugal situam-se bem abaixo da média europeia.
Isto é o que está escrito na minha pauta e, pelas olhadelas que tenho dado à sua, penso que, até agora, era sensivelmente o mesmo. Mudou de pauta?
No Ministério da Agricultura, empregam-se 11862 funcionários, dos quais 5000 estão no Terreiro do Paço, são tantos que se atrapalham e um documento urgente do Ministro anda a 150 metros por hora nos corredores do Ministério, segundo o Ministro. Ele precisa lá apenas de 1000, diz ele. Eu não percebo para quê, mesmo assim.
O que eu sei é que, tendo nascido em meio agrícola, e lá voltando de vez em quando, nunca apareceu um senhor a ensinar fosse o que fosse. Nem para me dizer como é que se mata a cochonilha sem utilizar químicos que matam os pássaros, e não só.
Na Defesa temos 125 generais, mas o quadro é de 84. Não sei quantos almirantes temos, mas temos, certamente, mais que botes. No total temos quase 50 mil homens na Defesa, para quê? E ainda discutimos a ida de uns poucos para missões no estrangeiro?
Na Justiça temos mais de 20 mil. Quantos precisamos de ter a menos para a Justiça funcionar? Porque, está estatisticamente provado, temos mais tribunais por 10 mil habitantes e mais funcionários judiciais que a média europeia. Se há um problema de dotações de efectivos, só pode ser por excesso.
O que é que se diz na sua pauta?
A saúde emprega mais de 113 mil pessoas, temos dos mais elevados custos e dos mais baixos resultados. Na Educação, contudo, há que reconhecê-lo, é bem pior.
Vale a pena continuar?
Pois depois de tudo isto os senhores funcionários públicos:
- ganham bem acima dos que trabalham na iniciativa privada, para funções requerendo qualificações idênticas;
- têm emprego garantido para toda a vida;
- têm um sistema especial de assistência médica;
- reformam-se com 90% do último ordenado. Os filhos de um deus menor da segurança social vão passar a ter de contar com toda a vida contributiva; até agora tinham 80% da média dos melhores 10 dos últimos 15 anos.
- Na privada as reformas são, desde há muito tempo aos 65; Na pública, só dentro de 10 anos.
- As alterações "moralizadoras" na pública são gradativas; na privada, imediatas.
Mas há mais. Muito mais.
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