As expectativas quanto aos resultados das eleições legislativas gregas, dentro de duas semanas, estão a a elevar a tensão nos mercados financeiros, com particular incidência na zona euro, sobretudo porque o Syriza lidera nas sondagens, embora com margem apertada, e Alexis Tsipras prometeu colocar os credores perante a inevitabilidade da renegociação da dívida pública grega, envolvendo eventualmente mais um hair-cut, invocando que os níveis atingidos - 175% do PIB - a tornaram insustentável.
Esta, a pergunta que titula um artigo publicado no Financial Times, a que o seu autor - Lorenzo Bini Smaghi -, um credenciado economista italiano, responde, concluindo após apresentação de argumentos, que "a dívida grega não parece tão insustentável quanto os 175% do PIB podem sugerir." Mais problemática que a dívida pública grega, segundo Smaghi, será dívida pública italiana, a espanhola e a portuguesa.
Porque,
"- a carga dos juros será de cerca de 4% do PIB em 2015, inferior às da Irlanda, Portugal ou Itália, e próxima da dos EUA; Isto porque os credores aceitaram a redução das taxas de juro para níveis semelhantes aos dos membros da zona euro com melhor reputação financeira;
- é esperável que a Grécia observe este ano um crescimento do PIB perto de 3%, acima da média da zona euro;
- é esperável que a Grécia atinja este ano um saldo primário de 4,1% (de 1,4% em 2014), melhor que Portugal e a Itália;
- consequentemente, a dívida reduzir-se-á em 7 pontos do PIB em 2015 e 11 pontos em 2016, situando-se em 135% do PIB em 2019. Em Portugal a dívida reduzir-se-á em 2 pontos este ano e 1,5 no próximo ano. Em Itália a dívida deve estabilizar-se à volta de 135% do PIB este ano e em Espanha no próximo ano. Na Irlanda está prevista uma redução de 1 ponto em 2015 e 2,5 em 2016.
- resumindo, a dívida grega parece mais sustentável que a de outros países da zona euro, nomeadamente Portugal, Espanha e Itália. O PIB/capita caiu cerca de 25% desde a erupção da crise. Na Itália caiu 13%, em Espanha 9%, em Portugal 6%. No entanto, apesar da queda seu rendimento per capita médio grego ainda está 8% acima do valor à entrada na união monetária, melhor que Itália e Portugal. Isto porque, entre 1999 e 2007 o crescimento rendimento médio foi de 36%, três vezes o da zona euro, o que, por outro lado, explica a razão do reajustamento com que agora se confrontam.
Como a quase totalidade da dívida grega está parqueada no Fundo Europeu de Estabilização Financeira,os custos decorrentes de uma eventual renegociação da dívida grega recairão sobre os contribuintes dos outros estados membros."
O Governo do sr. Passos Coelho tem-se reclamado como estrito cumpridor dos compromissos assumidos e de espectador das cedências ao país credor mais renitentemente incumpridor, esperando que Portugal possa beneficiar, por tabela, daquelas cedências. E é verdade que algumas vantagens foram obtidas. Mas serão suficientes?
Dito de outro modo: Se a dívida pública grega for sustentável, também será sustentável a dívida pública portuguesa? Não. Se os argumentos do sr. Smaghi são consistentes, se as estatísticas gregas já não são falseadas, Portugal estará já em piores lençóis que a Grécia. Esperar sempre por aquilo que vai acontecer lá não parece a melhor estratégia para alterar o rumo que a dívida pública, e sobretudo a economia, por que é na economia que todos as ameaças e todas as oportunidades se reunem, levam por cá.
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