Porque não se deve perder o que melhor se produz, e esteja ao nosso alcance, li um dos dois livros de Gonçalo M Tavares publicados no mesmo dia, em meados do mês passado: "Uma menina perdida no século à procura do pai". Este livro e o outro que não li ainda, "Os velhos também querem viver", foram comentados aqui, no Público. A RTP entrevistou o autor - vd. aqui - na altura do lançamento simultâneo das duas obras, a primeira em Lisboa, a segunda em Coimbra.
Gonçalo M Tavares é um escritor que, apesar de ter começado a publicar apenas há cerca de quinze anos, recebeu os aplausos generalizados, alguns vibrantemente entusiásticos, de escritores como José Saramago, Vasco Graça Moura, António Lobo Antunes, Eduardo Lourenço, entre outros, portugueses e estrangeiros. A sua obra está já traduzida em dezenas de países.
«Há um antes e um depois de Gonçalo M. Tavares.»José Saramago
«Estou convencido de que dentro de cem anos ainda haverá teses de
doutoramento sobre passagens e fragmentos de "Uma Viagem à Índia".»Vasco
Graça Moura
«De onde vem este talento tão só consigo mesmo, por mais referências que
jogue? Esta frieza a quente,»Maria Velho da Costa
«Eu acho que há um caso de genialidade, que é o Gonçalo M.
Tavares.»Mário de Carvalho
«Porque é que havemos de pôr as coisas em termos de Nobel?! Talvez fosse
preferível pensar-se "Poderão ser grandes escritores ou não?" (...) o
mais cotado parece-me, sem dúvida o Gonçalo M. Tavares. Sem
dúvida.»António Lobo Antunes
«Gonçalo M. Tavares é um escritor diferente de tudo o que lemos até
hoje. Ele tem o dom — como Flann O’Brien, Kafka ou Beckett — de mostrar a
forma como a lógica pode servir eficazmente tanto a loucura como a
razão.» The New Yorker
Apesar de tantos testemunhos pessoais e evidências editoriais à volta, depois de ter lido "Jerusalém", "Uma viagem à Índia", entre outras obras deste escritor, não me apercebi em "Uma menina está perdida no seu século à procura de pai" daquele golpe de asa que o elevaram já às alturas da genialidade.
Na entrevista da RTP, Gonçalo M Tavares começa por considerar que a extensão do título - "Uma menina está perdida no seu século à procura de pai" - é já um percurso. A menina, duplamente fragilizada por sofrer Trissomia 21 e não saber do pai, não está perdida no espaço, está perdida no tempo. E, envolto nesse tempo em que a menina está perdida, Gonçalo M. Tavares imerge numa narrativa onírica, surrealista, que cada um entenda como quiser.
É pouco.
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