Quando foi anunciada, e depois posta em prática, a decisão do governo de creditar aos contribuintes 15% do valor do IVA cobrado em despesas em restaurantes, de manutenção e reparação de automóveis e de cabeleireiros (não garanto que a lista seja mesmo esta) considerei a medida mais adequada a um país do terceiro mundo e procedi em conformidade. Aliás, anotei neste bloco de notas que me parecia (e continua a parecer) ser pouco razoável induzir o fisco a um conflito entre clientes e fornecedores que deveria ser resolvido por uma acção de fiscalização eficiente do ministério das finanças.
Corto o cabelo há mais de trinta e cinco anos no mesmo local. Sempre adoptei uma postura, logo que me sento na cadeira, de não discutir política nem futebol com o homem que empunha a tesoura e a navalha. Quem tenha visto Sweeney Todd, em cena ou na tela, mesmo que não seja juiz, sabe do que falo. Vou agora, passados tantos anos, colocar uma encrenca num relacionamento cordato tão prolongado?
Penso nisto quando leio a entrevista ao senhor secretário de Estado dos Assuntos Fiscais publicada hoje no Expresso. Fico a saber que do investimento de um milhão de euros em 45 Audis de gama alta, espera o Governo cobrar ceca de 800 milhões de euros. É dinheiro. Ora este Governo, que me atingiu confiscadamente com um imposto de classe, se encaixar aqueles 800 milhões talvez possa vir a moderar a sua impetuosidade contra a classe em que já caí. Assim, sendo, decidi mudar de opinião e passar a contribuir na medida das minhas possibilidades para o objectivo que o Governo se propõe atingir.
Com uma excepção: o barbeiro, pelas razões que referi. Afinal de contas de que me serviria o Audi se o Ribeiro, violentado por uma exigência inesperada de um velho cliente, passasse a imitar Sweeney Todd?
Saturday, April 12, 2014
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2 comments:
Estimado Rui Fonseca
Alguém me dizia no outro dia que o casino fiscal é um mal menor para o grande mal da evasão fiscal. É triste porque é uma fotografia pouco abonatória do país, estamos mais perto dos países subdesenvolvidos que dos países desenvolvidos. A falta que faz a cidadania! Mas não é assim que vamos lá.
Muito obrigado pelo seu comentário.
Que subscrevo inteiramente.
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