Sunday, September 08, 2013

IDEOLOGIA E ESPÍRITO DE PORCO

Depois de amanhã, Obama vai dirigir-se aos norte-americanos sobre a questão síria numa altura em que é indefenida a tendência da votação na Câmara dos Representantes. Acerca deste assunto, decisivo para a geopolítica mundial, e da eventual intervenção dos EUA, enquanto superpotência, cada qual terá a sua opinião mas muitos, também neste caso, opinam ou opõem-se por mero espírito de contradição.  

Invoca Obama que não é sua credibilidade que está em causa se os EUA não intervierem no conflito, mas a humanidade. "I didn´t set a red line, the world set a red line", respondeu durante a conferência de imprensa em Estocolmo, na quarta-feira, sustentando a sua afirmação no facto do acordo de probição do uso de armas químicas ter sido aprovado pela quase totalidade dos países representados nas Nações Unidas.

A generalidade dos comentadores norte-americanos vê numa eventual rejeição do Congresso um rombo sério na credibilidade interna e externa do seu presidente apesar de ninguém contestar a sua opção de ter colocado nos representantes do povo norte-americano a co-responsabilidade de os EUA intervirem nesta e em situações idênticas no futuro. David Cameron fez uma opção idêntica, a sua proposta de intervenção na Síria foi rejeitada pela maioria no Parlamento, e Cameron declinou a participação do Reino Unido. Aliás, tendo já Obama declarado que uma intervenção norte-americana contra o regime de Assad seria remota, sem intervenção de soldados no terreno, "no boots on the groun in Syria", e um ataque realizado agora contra a votação maioritária no Congresso poderia, segundo John McCaine, provocar o impeachement do presidente, com ou sem Reino Unido ao lado dos EUA, Obama está condenado a ser culpabilizado pela opinião pública qualquer que seja a sua decisão final.

Mas será a votação do Congresso a resultante das convicções ideológicas dos seus membros e, por delegação, a expressão da vontade dos cidadãos eleitores? Não será. Perfila-se uma votação que, se for maioritariamente contra no Congresso,  resultará da conjugação de votações coerentemente assumidas com as suas convicções acerca das responsabilidades que impendem ou não sobre os EUA como superpotência, e dos votos de vários membros do Congresso que votarão contra pela única razão de votar contra Obama. Aqui, como aí, prevalecem frequentemente as obstinações clubistas: se é assim, são contra; se for assado, também.

Demagogia e espírito porco andam por aí frequentemente de mãos dadas.

2 comments:

Anonymous said...

"Espirito de porco " ou " espirito porco" ? É que não é o mesmo.

Rui Fonseca said...

Anonymous:

Segundo a Wikipedia, "Espírito de porco é uma expressão idiomática utilizada para se referir a uma pessoa cruel, ranzinza, que se especializa em complicar situações ou em causar constrangimentos.
A origem desta expressão vem dá má fama do porco, embora injusta, sempre associada à falta de higiene, à sujeira e - inclusive - à impureza, ao pecado e ao demônio, conforme alusões feitas no texto bíblico do Antigo e do Novo Testamento. Segundo o professor Ari Riboldi, essa má fama foi reforçada no período da escravidão, quando nenhum dos escravos queria ter a tarefa de matar os porcos nas fazendas. Nessa época havia uma crença de que o espírito do porco ficava no corpo de quem o matava e o atormentava pelo resto de seus dias.Então, diz-se que quem comete crueldades está tomado por esse "espírito malévolo".

Presumo que sejam expressões equivalentes oriundas do Brasil.