O sequestro americano terá algum efeito negativo no crescimento da economia norte-americana ainda que o novo limite da dívida acordado em Janeiro tenha retirado do horizonte próximo a inevitabilidade de uma recessão acentuada nos EUA e, por tabela, na economia mundial. Muito mais perigoso e, aparentemente, inultrapassável é o sequestro que se instalou na Europa e do qual não se avista saída nem para sitiadores nem para sitiados.
Nos EUA, apesar da irredutibilidade dos conservadores, ao governo federal sobra alguma margem de manobra, até porque, se a economia derrapar e o desemprego crescer, os republicanos, responsáveis pelos cortes a nível federal, serão coagidos a mudar de ideias ou a perder o controlo da Câmara dos Representantes nas eleições de 2015. Na União Europeia a obesessão pela austeridade em conjuntura recessiva persiste, reflectindo-se desde logo no reduzido orçamento da União, sem que, no entanto, tenha sido feita qualquer imposição de redução das despesas excessivas de funcionamento das instituições comunitárias.
Não são idênticos os sequestros num e noutro do Atlântico, desde logo porque não há identificação de organização política plausível entre os EUA e a União Europeia. De um lado existe um país com menos de trezentos anos de história, sem sinais de evidentes de fracturas culturais profundas, do outro um conjunto culturalmente diversificado e politicamente milenarmente fragmentado. Do sequestro americano pode prever-se uma evolução rápida e benigna; o fim do sequestro europeu - tudo no mundo que habitamos é transitório-, é imprevisível a curto prazo e pode ser trágico no futuro .
Portugal, no contexto europeu, situa-se, por mal dos pecados que lhe atribuem os sitiadores, na primeira linha dos sitiados. Por mais testosterona que o primeiro-ministro injecte nos seus discursos, os compromissos assumidos no programa de ajuda e aqueles que animadamente o chefe do Governo entendeu acrescentar, não são susceptíveis de ser cumpridos e, incontornavelmente, terão de ser ajustados às nossas capacidades de os honrar.
Dito de outro modo, está a esgotar-se a oportunidade de evidenciar a quem está politicamente por detrás da troica que não adianta persistir num plano que nem serve aos sitiados nem aos sitiadores. Aos sitiados resta sempre um argumento final - a declaração de falência. O primeiro ministro português teria a obrigação de perguntar aos mandantes da troica se é esse o objectivo que perseguem se a sua obsessão não lhe enviesasse a perspectiva. Pelo andar da carruagem, receia-se que a obsessão persista, eventualmente modulada com um ajustamento menor.
É nestas situações que o sistema semi-presidencialista poderia e deveria ter um pendor menos recuado. Não é, contudo, a "grandolar" que se demoverá este presidente da sua obsessão pela perspectiva minimalista da sua função. Quem pode? Talvez Paulo Portas, um dia destes. Presumo.
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Correl. - Milagre económico alemão teve ajuda de perdão de dívida
Não são idênticos os sequestros num e noutro do Atlântico, desde logo porque não há identificação de organização política plausível entre os EUA e a União Europeia. De um lado existe um país com menos de trezentos anos de história, sem sinais de evidentes de fracturas culturais profundas, do outro um conjunto culturalmente diversificado e politicamente milenarmente fragmentado. Do sequestro americano pode prever-se uma evolução rápida e benigna; o fim do sequestro europeu - tudo no mundo que habitamos é transitório-, é imprevisível a curto prazo e pode ser trágico no futuro .
Portugal, no contexto europeu, situa-se, por mal dos pecados que lhe atribuem os sitiadores, na primeira linha dos sitiados. Por mais testosterona que o primeiro-ministro injecte nos seus discursos, os compromissos assumidos no programa de ajuda e aqueles que animadamente o chefe do Governo entendeu acrescentar, não são susceptíveis de ser cumpridos e, incontornavelmente, terão de ser ajustados às nossas capacidades de os honrar.
Dito de outro modo, está a esgotar-se a oportunidade de evidenciar a quem está politicamente por detrás da troica que não adianta persistir num plano que nem serve aos sitiados nem aos sitiadores. Aos sitiados resta sempre um argumento final - a declaração de falência. O primeiro ministro português teria a obrigação de perguntar aos mandantes da troica se é esse o objectivo que perseguem se a sua obsessão não lhe enviesasse a perspectiva. Pelo andar da carruagem, receia-se que a obsessão persista, eventualmente modulada com um ajustamento menor.
É nestas situações que o sistema semi-presidencialista poderia e deveria ter um pendor menos recuado. Não é, contudo, a "grandolar" que se demoverá este presidente da sua obsessão pela perspectiva minimalista da sua função. Quem pode? Talvez Paulo Portas, um dia destes. Presumo.
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