Saturday, March 23, 2013

CORREIO DA MANHA

Liberais e anti liberais juntaram-se na defesa da televisão pública, opondo-se à privatização da RTP: os segundos porque a Constituição determina a existência de um serviço público de televisão - que eles não dizem que bicho é -, os primeiros porque afiançam que o pacote publicitário não chega para mais um concorrente ao bolo. A propósito, continua a espantar-me a aparente vitalidade  da economia portuguesa quando medida pelos spots publicitários que continuam a passar pelos canais televisivos, abertos e fechados, pelas páginas dos diários e semanários, tentando espectadores e leitores com automóveis de gama altíssima, relógios de gama máxima, por exemplo, além da persistente pressão para os portugueses serem portadores de um telemóvel em cada bolso das calças e do casaco, a partir dos seis anos e de idade, entre outros regalos para comprar hoje e pagar amanhã.  
 
É no meio desta comunhão dos extremos pela veneração à televisão pública que entra no clube mais um filiado disposto a instalar-se a comer do bolo tanto quanto lhe permitir o engenho e a incapacidade dos outros para o conter mal comido. Quanto à televisão pública, obrigada a dieta, a emagrecer a olhos vistos, aguentando-se pesadamente encostada ao orçamento de estado, jogou esta semana uma malha em cheio ao contratar para o seu plantel um trunfo de peso, que levará o share da televisão estatal aos píncaros nos dias de exibição do ás do sofisma. De pouco ou nada servirá, no entanto, ao orçamento da RTP o  esperado aumento estrondoso de audiência porque não lhe é dado apropriar-se de mais qualquer quinhão de receitas próprias.
 
Tudo ponderado, o protagonista maior a partir de agora não é o correio da manhã que chegou esta semana aos canais televisivos fechados mas a manha que vai entrar esta semana na casa de todos os portugueses no correio do canal aberto estatal, de uma empresa que não pode ser privatizada porque tem uma missão de serviço público às costas e do bolo publicitário não havia nada para mais ninguém.
 
Senhoras e senhores: apertem (ainda mais) os cintos, aproximamos-nos do olho do furacão, espera-nos uma desmedida turbulência a bordo.

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