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As previsões daqueles que asseguram que se não houver redução concertada dos salários em Portugal essa redução acontecerá por imposição do crescimento do desemprego, porque o nível atingido pelo endividamento externo não permitirá continuar a suportar o défice da balança comercial com crescimento continuado de financiamentos externos, não tem tido a discussão pública que merece.
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Bem podem pregar Silva Lopes e Vitor Bento, e todos quantos chegam a resultados parecidos a partir das contas que fazem, mas, sobretudo em ano de eleições, nem o governo nem as oposições farão o mínimo gesto para abordar a questão, continuando a assobiar para o ar. Ainda anteontem, o Ministro das Finanças assegurou que não estava arrependido de ter aumentado o funcionalismo público em 2,9%, num ano em que a inflação não deverá ultrapssar 1% e crescimento será negativo em cerca de 3%, teria decidido no mesmo sentido se tivesse de decidir hoje. A decisão do governo, que vai em sentido totalmente contrário ao que recomendam V Bento e S Lopes, e não foi contestada por nenhum partido da oposição, arrisca-se ser politicamente inconsequente: com aumento ou sem aumento do funcionalismo público, o Partido Socialista ganharia as eleições com maioria relativa.
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Voltando ao assunto azedo, continuo a pensar que, sendo uma inevitabilidade, a redução real dos salários (que pode passar por um processo inflacionista na Zona Euro) pode, e deve, ser minorada por acções que reduzam a nossa estrutural dependência externa. Temos de exportar mais, é um objectivo com que todos concordam mas que, em conjuntura de contração, ninguém sabe como. Angola é uma boa alternativa, mas não chega. Para além de exportar mais, os portugueses têm de importar menos. Se lhes cortarem os salários, seguramente que as importações reduzir-se-ão. Mas terá de ser, forçosamente, assim?
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Duvido. Alguma margem de manobra deverá haver para aumentarmos a nossa autosuficiência alimentar, por exemplo. E quantos gastos não pode o Estado evitar, ou adiar?
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Ninguém quer falar disso. Por enquanto apenas o TGV e o aeroporto são motivo de discórdia. O resto é tabu.
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