Wednesday, March 11, 2009

CONTRA OS BETÕES

As oposições são contra os betões, os governos a favor. Como quem manda são os governos, os betões não param de crescer em Portugal.
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Ontem, segundo relata o Público de hoje, num seminário da CAP, João Salgueiro considerou arriscado que os planos contra a crise assentem numa política de betão, que não resolve os dois grandes problemas que agora se enfrentam: o desemprego e o desequilíbrio da balança comercial. "Deveria haver uma campanha nacional para explicar o potencial da agricultura ... Quando vemos o que os países mediterrânicos exportam para o resto da Europa vemos o que não fizemos em Portugal".
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O mesmo jornal publica um artigo - Riqueza gerada pela agricultura caiu 23 por cento desde 1992 - respigado de um balanço da integração da agricultura portuguesa, da autoria de Francisco Avilez, e de onde se salienta, para além da queda brutal de quase 1/4 da riqueza produzida pelo sector em menos de 20 anos, a forte componente dos subsídios (63%) e a débil contribuição da venda dos produtos (37%) no rendimento das explorações agrícolas.
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A perda da importância do sector primário, e nomeadamente da agricultura e das pescas, já vem de longe. Não só em termos de emprego (que seria sempre inevitável) mas, sobretudo, da perda de produção, uma perda perigosamente demolidora da independência alimentar dos portugueses, sendo este um aspecto que nunca vi abordado pelas oposições, e aos governos, já se sabe, importam mais os betões.
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Porque, mais do que ser subsídio dependente, o que é gravíssimo é a incapacidade da agricultura portuguesa para reequilibrar a balança alimentar externa. Mas, pior do que esta incapacidade (que não é senão reflexo da incapacidade de formação de competências e de criar condições para conseguirmos o que os outros europeus conseguem) é a falta de consciencialização colectiva da ameaça que paira sobre a colectividade, e que ninguém vê.
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Partimos do princípio de que, como o nascer do Sol, a nossa alimentação está garantida, venha ela de Espanha, França, Nova Zelândia, do Chile, ou de outra parte qualquer. Mantemos um exército, marinha e força aérea, para o eventual ataque de um inimigo que não sabemos por onde irá entrar. Esquecemo-nos, porém, que, em caso de um conflito que nos obrigue a justificar a existência da tropa, a primeira coisa que vai acontecer é a ruptura dos canais de abastecimentos externos.
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Poderemos ter (e ninguém acredita que tenhamos), em caso de guerra, as armas e os homens preparados para repelir o inimigo; o que não teremos, seguramente, é o sufiente para comer.
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Também nunca entendi porque razão a tropa não é mobilizada para a vigilância das florestas durante o Verão. A forma mais fácil e eficaz do inimigo atacar Portugal seria lançar fogo ao paiol em que se transforma a floresta portuguesa durante o tempo quente.
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Quando o desemprego aumenta, o abandono da terra continua, a dependência alimentar cresce, há algo que está errado. Ou não?

2 comments:

aix said...

Como já tivémos oportunidade de concordar no nosso almoço ocasional é mesmo grave o problema agrícola(agora já é mais do que uma questão).Reafirmo a minha tese:não é por uma emergência em caso de ataque(no contexto actual altamente improvável)mas por razões económicas.Corro o país de N a S e é com tristeza que vejo os campos semi-abandonados.Porquê? Enquanto não se mexer na estrutua fundiária nada mudará.Na minha aldeia (Trás-os-Montes) continuo a ver muitos «prédios»(?)de 100 m2
e até menos.De caminho para o Algarve vejo um Alentejo descampado e sem uma ideia de cultura produtiva. Para que serviram os avantajados subsídios?
Porque é que a CEE(UE)não controlou a sua aplicação?
Sobre o que se (não) fez com a reforma agrária o melhor é nem falar.Por mim,como sabes,pratico a agricultura doméstica;sempre é uma economia!

Rui Fonseca said...

Estamos de acordo, Caro Francisco.

Dar a volta este texto implicava uma política de verdade, coisa que geralmente não dá votos. E dará um trabalho enorme.

Continuaremos a importar grande parte do que comemos até ao dia em que as dívidas obrigarão muitos a passar fome.

Alguns já estão a passar, segundo os noticiários.

Lamentável e perigoso!