Monday, March 16, 2009

ACERCA DA ÉTICA

António Mexia, anunciou há dias, com fanfarra e foguetes, que a empresa a que preside, a EDP, tinha atingido o ano passado resultados record, a ultrapassarem mil milhões de euros. Alguns dias depois, noticiaram os jornais que um membro do Conselho de Supervisão da Empresa, um auditor independente, se tinha demitido das funções naquele Conselho por discordar do modo como haviam sido contabilizadas as mais-valias resultantes do prémio de emissão cobrado no aumento de capital da EDP Renováveis. A empresa considerou como resultados do exercício mais de 400 mil euros, resultantes daquele prémio; o auditor considera que essas mais-valias deveriam ter sido contabilizadas como reservas e não consideradas como lucros. Segundo o critério adoptado, a EDP teve mais de mil milhões de euros de lucros; segundo o critério do auditor teria um pouco mais de 600 mil. Segundo o primeiro critério, a EDP bateu o seu record de resultados; segundo o critério do auditor teria baixado, relativamente ao ano anterior.
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Ambos os critérios são aceitáveis mas o critério do auditor, que vai ser adoptado a partir do próximo ano, é, claramente, mais conservador e, portanto, mais conforme com um dos princípios básicos da contabilidade. Mas mesmo que nada impedisse que, ainda este ano, a administração da EDP adoptasse o critério que lhe permitia maximizar os lucros, o mínimo de ética (para além das obrigações formais que as regras da contabilidade impõem), impunha que António Mexia fosse mais comedido no anúncio da sua performance e tivesse esclarecido que, dos mil e tal milhões, quatrocentos e tal milhões tinham a ver com o prémio de uma emissão de novas acções que, entretanto, cairam desalmadamente na bolsa.
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Quem quis Mexia iludir? Não os grandes accionistas, que estão representados nos conselhos de administração de supervisão, e estavam, portanto, a par destas criatividades contabilísticas, mas os pequenos accionistas e o público em geral, mil e uma vezes ludibriados nestes últimos anos.
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Um tiro que, contudo, lhe deve ter saído pela culatra porque a maioria atribuiu tanto sucesso em tempos de crise ao facto de, por ser um monopólio natural, não ter rédeas de mercado no aumento das tarifas.
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Quando a confiança dos pequenos investidores se encontra arrasada por uma crise que é, antes mais, uma crise de valores morais, esta habilidade da administração da EDP agudiza ainda mais as dúvidas e os boatos acerca de outros estratagemas suspeitos ainda encobertos.

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