A crise, para além das vigarices financeiras engendradas nos EUA e contrabandeadas por todo o mundo, é atribuida consumismo que as produções a baixo custo no Oriente incutiram no Ocidente. Já no Japão, por exemplo, é a idiosincrasia austera e prudente que caracteriza a maior parte do povo nipónico que refreia o consumo e lhes debilita a economia.
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Durante muito tempo, ouviu-se em Portugal, de todos os lados: estamos a viver acima das nossas possibilidades; consumimos mais do que produzimos. Agora que a crise aumenta o desemprego e coloca muitas famílias na penúria, os vizinhos (ou pelo menos a maior parte deles) colocam as barbas de molho e restringem os consumos. Resultado: agravam a situação. Sem consumo, não há produção, sem produção não há emprego, sem emprego não há consumo. Só não fica baralhado com este consome/não consome quem continua a ter meios para continuar a consumir e pouco lhe importam as desgraças alheias.
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Evidentemente, que a coisa não é assim tão complicada: O problema nunca foi (pelo menos na perspectiva que o estamos a analiasar) uma questão de consumir muito mas o de consumir mais do que o que se produz. De modo que, quando hoje se ouvem vozes alarmadas de que os consumos estão a cair e com isso se arruina ainda mais a economia, precisamos, antes de mais, saber de que consumos estamos a falar. Se esses consumos são de produções que vieram de longe, é lá longe que eles sustentam o emprego.
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À quase totalidade dos consumidores é indiferente que aquilo que compra seja "made in Portugal " ou "made no estrangeiro". Não existe nenhuma percepção colectiva do que está em causa nas opções de escolha do que se consome. Coloca-se muito mais ênfase na necessidade de exportar mais (para onde se o consumo cai em toda a parte?) do que na importância da produção de vizinhança.
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A RTP, que se encosta ao orçamento do Estado para pagamento de um serviço público que não se percebe por onde anda, poderia, e deveria, promover a divulgação das vantagens de consumir mas sobretudo de consumir aquilo que é produzido em Portugal. Não o faz e entretem o pagode com alguns programas que alienam ainda mais a já débil consciência colectiva dos portugueses.
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As principais facturas que pagamos ao estrangeiro são as da energia e a da alimentação. Sabe-se que não é possível passar sem a energia e os combustíveis que importamos (a alimentação é também energia). Poderíamos, contudo, se os nossos hábitos se modificassem, ajudar a reduzir a enorme dependência energética que nos torna todos os dias cada vez mais devedores a um ritmo que não é possível sustentar por muito mais tempo.
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Ou dizendo melhor: possível é, desde que emigremos para onde de onde vem aquilo que consumimos e não produzimos.
13 comments:
A RTP não cumpre minimamente o seu papel. Distraem-se as pessoas do que realmente é importante. Nesse aspecto este Governo falhou. Mas, a concorrência (SIC, TVI) ainda consegue ser pior, com um monolitismo atroz.
"Mas, a concorrência (SIC, TVI) ainda consegue ser pior"
Talvez seja verdade. Não sou bom juiz porque vejo pouco mais que o telejornal da 2 e a Sic Notícias.
De qualquer modo, é à RTP que nós pagamos o serviço público que custa anualmente uns largos milhões.
Eu proponho a privatização da RTP com a contrapartida de todos os canais reservarem espaço para "serviço público".
Discordo da privatização da televisão pública. A RTP pode e dever ser estatal (tal como acontece na Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália...etc) e ter conteúdos alternativos ao mainstream comercial. É um investimento na cultura e identidade do país. Deverá mostrar-nos o que os outros não o fazem por motivos comerciais de falta de rentabilização. E deverá ainda educar-nos o gosto, apostando numa programação económica, sem publicidade (como a ZDF, BBC ) não sendo assim conconrrêcia desleal aos privados.
Ora, o que faz a RTP , hoje em dia ? Gasta dinheiro em filmes e séries americanas (violentos, sem conteúdo), concursos pindéricos e muitos "directos" sem qq interesse, além do futebol e noticiários sem pés nem cabeça, longos, dramáticos, ...sem objectividade.
"Discordo da privatização da televisão pública. A RTP pode e dever ser estatal (tal como acontece na Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália...etc) e ter conteúdos alternativos ao mainstream comercial"
Mas é um facto, que tu mesmo reconheces, que não tem cumprido com esses objectivos que referes.
Para que serve, neste caso, pertencer ao Estado e viver à custa do OE quando imita as outras?
O mesmo se passa com a CGDepósitos. É um banco do Estado que tem seguido a manada. Às vezes prima por a exceder nas porcarias que produz, como sucedeu na luta que alimentou entre accionistas do BCP. Para quê? Pois muito objectivamente para colocar lá Santos Ferreira & Armando Vara.
Não?
Não percebo a ligação da defesa do conceito «consumo optimizado» para evitar crises com a crítica à programação da RTP. Sobre o 1º parece-me uma evidência ao nível da economia doméstica. Mas bons economistas recusam a analogia entre esta e a economia de Estado. Fica a questão: o que define o ‘consumo óptimo’? O padrão de referência não é certamente a produção nacional, pois seria a morte de muitos cidadãos de muitos países. Qual é, então? Quanto à RTP rejeito, liminarmente, a sua privatização, até pela impossibilidade prática de definir ‘serviço público’. Quem define o que é “realmente importante” do JMV? Até acho razoável o actual equilíbrio entre a 1 e a 2. Mas lá estamos nós...gostos não se discutem [afirmação com a qual, ‘aliás’, não concordo].
"gostos não se discutem [afirmação com a qual, ‘aliás’, não concordo]"
Caro Francisco,
Eu também não.
Porque é, precisamente, que os gostos se discutem que avaliamos os programas da RTP ( e tudo o mais)segundo os nossos gostos e os confrontamos com os gostos dos outros.
Numa coisa parece que estamos de acordo: Não se sabe o que é "serviço público" na RTP. O que me leva a concluir que ele não existe. E se não existe porque pagamos milhões para suportar uma inexistência? Parece absurdo, não?
Eu concederei facilmente em pagar parte dos gastos da RTP se eles tiverem uma justificação de interesse colectivo. Têm?
Outro exemplo: O Teatro de São Carlos vive em 16% da bilheteira, 16% do patrocínio (exclusivo, e eu não percebo porquê) do Millennium BCP e os restantes (68%) do OE.
Pagamos todos para quem? Para um reduzido número de privilegiados que pagam uma pequena parte dos custos totais e de uns ainda mais privilegiados que têm lugar garantido e não pagam nada. E , por isso mesmo, muitas vezes não comparecem, fazendo com que as sessões se esgotem com muitas cadeiras vazias.
Voltando à RTP: Dei a este post o título "Preço certo" porque há um programa na RTP 1 com aquele nome. É uma coisa abominável.
A minha intenção não era discutir a privatização da RTP mas da obrigação que lhe incumbe de realizar programas que vão divulgando, nestes tempos de crise, algumas formas de minorar os efeitos dela.
Porque se não mudamos alguns hábitos só não continuaremos a endividar-nos alegremente porque ninguém estará disposto a financiar-nos ilimitadamente; mas as consequências de um travão ao crescimento da dívida terá efeitos dramáticos.
A menos que a moeda seja desvalorizada (não sei se os alemães estarão de acordo, mas penso que não), as economias pessoais esfumar-se-ão e as reformas terão o problema resolvido porque os reformados serão tramados.
"Ou dizendo melhor: possível é, desde que emigremos para onde de onde vem aquilo que consumimos e não produzimos."
Emigremos para a China ou para a India?
Ou, talvez para o Brasil?
"A RTP, que se encosta ao orçamento do Estado para pagamento de um serviço público que não se percebe por onde anda, poderia, e deveria, promover a divulgação das vantagens de consumir mas sobretudo de consumir aquilo que é produzido em Portugal."
Já antes lhe perguntei mas, volto a perguntar, quais os bens consumíveis 'Made in Portugal'?
Texteis?
Sapatos?
Ceramica?
Vidro?
Já sei o Magalhães! (E sempre podemos ocupar o tempo a corrigir os erros)
E na alimentação?
Carne de porco, algum perú, umas frutazitas e batatas que ainda aparecem no mercado.
Até o tomate, de que já fomos exportadores, agora é espanhol ou italiano.
Se realmente nos preocupassemos em consumir 'português', teríamos o cuidado de olhar as etiquetas dos produtos e a nossa vida seria muito mais espartana (o que não seria necessáriamente mau).
E, mais, teríamos feito isso há muito mais tempo e então, talvez não tivessemos a 'surpresa' de verificar que já não produzimos praticamente nada.
Quem são as nossas grandes empresas e o que é que produzem?
Atribuir culpas a outros é facilimo mas se pensarmos bem, fomos complacentes com as politicas e os desvarios das ultimas decadas que nos levaram a isto.
Era tão bom!
As economias estavam a crescer a olhos vistos.
Mais pessoas tinham acesso a bens mais baratos.
Não interessava nada as noticias que mencionavam mais uma deslocação de uma empresa para a China ou India e mais umas centenas ou milhares de desempregados.
Não interessavam as noticias de alerta sobre as dificulades de familias sobre-endividadas.
Estes 'pequenos' males eram justificados pelo maior poder de aquisição de mais população (financiado por crédito fácil) e, portanto, o 'famoso' crescimento economico.
Ora, abóbora!
O programa que ontem vi na RTP1 sobre a língua portuguesa, com a Flor Pedroso, é serviço público. O noticiário da RTP2 também, porque informa sem recorrer a esquemas baratos e a mau jornalismo.
Serviço público deverá :
- constituir uma referência
para a população e assentar numa oferta que garanta o acesso universal, constituindo-se como
um factor de coesão e integração de todos os indivíduos, grupos e comunidades sociais, garantir
a imparcialidade e independência da informação e do comentário, disseminar conteúdos
audiovisuais inovadores e diversificados, de acordo com padrões éticos e qualitativos elevados,
assumir-se como um fórum de discussão plural e meio de promover a participação democrática
alargada dos cidadãos, bem como contribuir para a criação e produção audiovisual, assegurando
a divulgação da diversidade da herança cultural nacional e europeia;
- Que a Televisão de Serviço Público tem de se constituir como um referencial de
qualidade, que não se submeta a uma lógica exclusiva de mercado e preencha objectivos sociais
e culturais, numa sociedade diversificada como a portuguesa, ajudando a formar públicos
exigentes, motivados e intervenientes;
- Que a Televisão de Serviço Público tem de ser um exemplo de liberdade, abertura,
modernidade e cobertura das diversas correntes de opinião e dos interesses legítimos existentes
no país, incluindo os minoritários;
- Que a Televisão de Serviço Público deve fomentar a coesão nacional, através de uma
programação que tenha em conta as características das diferentes regiões, grupos, classes e
interesses sociais, sem ignorar divergências e encarando-as com respeito e sentido construtivo;
- Que a Televisão de Serviço Público deve assegurar uma exigente ética de antena
escorada no profissionalismo, na responsabilidade e no escrupuloso cumprimento da lei e dos
direitos e valores fundamentais;
- Que a Televisão de Serviço Público deve ter uma programação que exclua a violência
gratuita, a pornografia, o incitamento ao ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem
étnica ou nacional, pelo sexo ou pela orientação sexual, o populismo e a demagogia e que, pelo
contrário, promova a cidadania, o sentido cívico e a abertura ao mundo;
- Que a Televisão de Serviço Público deve ser um espaço de inovação e descoberta
voltado para o futuro, seja em termos de programação seja em termos tecnológicos;
A RTP por incompetência política e falta de pressão da sociedade presta um mau serviço público.
"A RTP por incompetência política e falta de pressão da sociedade presta um mau serviço público"
Quanto à falta de pressão
da sociedade, concordo.
Não sei é se a sociedade (uma realidade culturalmente muito heterogénea) estará de acordo com qualquer mudança. Diz mal, mas gosta.
Aliás, esse é o problema: a de uma televisão feita ao gosto da grande maioria.
Quanto à incompetência política, duvido. Esta é a RTP que melhor serve os interesses de quem está no governo (deste, dos que passaram, e dos que vierem).
"quais os bens consumíveis 'Made in Portugal'?"
"Quem são as nossas grandes empresas e o que é que produzem?"
Não temos muita produção, e esse é o nosso problema. Mas temos alguma e alguma muito boa.
A RTP deveria dar conta disso.
O problema é que não dá por isso sequer.
As televisões são o espelho das sociedades que temos.
Quando os ultimos dias de vida de uma jovem com cancro cria audiências algo vai muito mal nas nossas sociedades.
Se a RTP (ou outro qualquer canal) adaptasse a sua programação aos principios enunciados quantas seriam as pessoas que se disporiam a vê-lo e ouvi-lo.
Sem uma população educada, com sentido civico e uma visão do colectivo, enfim, sem uma alteração profunda de mentalidades uma estação dessas estaria a emitir para o quase vazio e, portanto, não teria, praticamente, nenhum efeito.
Proponha retirar metade do tempo dedicado à transmissão de jogos de futebol, à discussão e palpites antes e depois dos mesmos e terá um motim!
Ainda ontem passei por canal qualquer onde 4 ou 5 homens discutiam acesamente, como se de algo fundamental se tratasse. O assunto? Futebol.
Uma sociedade, com um grau de ileteracia em crescendo, onde os valores importantes para grande parte da população são a fama (aparecer na tv) e o enriquecimento (fácil), onde um treinador de futebol é designado como 'o homem que mudou o rumo do país', onde as revistas com maior venda são as que publicam histórias da vida de artistas ou de pindéricas 'socialites' nas festas do croquete, querer uma televisão com essa descrição de critérios programáticos parece-me um pouco irrealista.
"Não temos muita produção, e esse é o nosso problema. Mas temos alguma e alguma muito boa."
Qual Rui? Qual?
Eu já não peço que seja muito boa.
Nas Caldas da Rainha havia várias fábricas de ceramica. Resta a fábrica escola Bordalo Pinheiro e não se sabe por quanto tempo mais.
Quantas fábricas vidreiras sobraram na Marinha Grande?
Lembro-me de na Suécia, uma amiga minha ao procurar um blusão se deparar com a etiqueta Maconde, Made in Portugal. Onde está a Maconde?
Onde estão as fábricas texteis do norte, do Fundão, de Mira Daire?
E as de calçado?
Há algo em que somos bons.
Produção de software.
Mas, será que conseguimos concorrer com os Indianos?
Não sei se o preço é certo mas, palpita-me que vai ser alto, muito alto.
China reported saying U.S. navy ship was breaking law
Reuters
Published: March 10, 2009
By Chris Buckley
China accused a U.S. naval vessel of conducting illegal surveying off southern Hainan island, a Hong Kong TV website reported on Tuesday, after the Pentagon said Chinese ships had harassed the vessel in international waters.
...
The United States urged China to observe international maritime rules after the Pentagon said five Chinese ships, including a naval vessel, harassed the U.S. Navy ship in international waters.
The Chinese vessels "shadowed and aggressively manoeuvred in dangerously close proximity" to the USNS Impeccable, an unarmed ocean surveillance vessel, on Sunday, with one ship coming within 25 feet (7.6 metres), a U.S. Defence Department statement said.
...
Analyst Shi said the seas off Hainan were important to China's projection of its influence with a modern naval fleet.
"The change is in China's attitude. This reflects the hardening line in Chinese foreign policy and the importance we attach to the strategic value of the South China Sea."
A recent study of China's rising power by a top People's Liberation Army thinktank said the country should seek to avoid confrontation with Washington but not shrink when pressed.
"We don't want to stir up trouble, but nor will we fear it," said the study published last year by the PLA Academy of Military Science in Beijing.
http://www.iht.com/articles/reuters/2009/03/10/asia/OUKWD-UK-USA-CHINA.php
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