Estou certo que a grande maioria dos que vêm o youtube que publicaste no teu blog, e que também publiquei aqui no Aliás, darão cinco estrelas a este trabalho. Também não lhe enjeito a classificação de "Excelente".
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E, no entanto, também acredito que, de entre aqueles que batem balmas, a esmagadora maioria não se escusará de adquirir um iPod e tutti quanti os avanços tecnológicos e as artes de marketing vão insuflando no instinto consumista que habita em cada indivíduo. Em conclusão: "Por detrás de cada iPod está uma cadeia infernal de destruição e iniquidades mas deixa-me gozar as performances do modelo que chegou hoje às lojas, antes que se esgote".
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No fim de contas, a simpática apresentadora é, também ela, uma Cassandra de comportamento duvidoso: diz-nos que o apocalipse está aí ao virar da esquina mas nada adianta quanto à forma de nos desviarmos dele.
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Por outro lado, a radicalização de algumas posições compromete a validade de alguns argumentos e desvaloriza a boa intenção do conjunto: chamar a atenção para o facto de uma lógica de perseguição de crescimento económico ilimitado poder conduzir à destruição da humanidade.
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Dou-te dois exemplos, mas o filme suscita outros.
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1 - A destruição das florestas
Não é verdade que a indústria tenha conduzido à destruição das florestas. Há vários exemplos de desflorestações, que em muitos casos conduziram à extinção de civilizações, que nada têm a ver com o advento da fase industrial. Jared Diadond em "Collpase - How Societies Choose To Fail or Succeed" aborda vários casos, um dos mais emblemáticos é a Ilha da Páscoa, onde a floresta foi destruida para transportar e montar as estátuas que se supõe quererem glorificar os chefes guerreiros da ilha. As deflorestações das Ilhas Britânicas, do Japão ou da Amazónia não foram nem são consequência de utilização industrial intensiva dos recursos florestais.
Pelo contrário, é precisamente onde a indústria vai à floresta buscar as suas matérias primas que a floresta se tem expandido. Na Escandinávia, onde o crescimento das espéces florestais é lento, a utilização dos recursos florestais não só não tem reduzido a área florestada como a tem aumentado. Nenhum povo com tino mata a galinha dos ovos de ouro.
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Lamentavelmente, há casos de alteração da floresta sem redução da área florestada quando se substitui a floresta autócne por espécies não autócnes de utilização industrial. A área florestada não é reduzida mas alterada a composição florestal. Está a acontecer na Indonésia, por exemplo, com a substituição de floresta tropical por eucaliptos e acácias.
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2 - Dumping social
A apresentadora confronta-nos com uma realidade que todos já constatámos e que nos leva a interrogar-nos: Como posso comprar isto por este preço tão baixo? A resposta óbvia é de que, quem produz aquilo, recebe salários baixíssimos e não dispõe de qualquer protecção social.
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Que devemos fazer então? Não compramos? Recusamos pagar tão pouco e protestamos para pagar mais? Boicotamos os produtos provenientes de países com salários muito baixos e sem segurança social?
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As relações entre os indivíduos são sempre relações de troca, intermediadas por instrumentos de crédito nas sociedades onde a complexidade das relações tornou impossível a troca directa. Para além das dádivas, casos em que muitos esperam receber as contrapartidas no céu e outros, poucos, são pagos pelas suas consciências, as trocas têm sido desde sempre a forma de desenvolvimento humano e de paz social. Ninguém troca nada com o inimigo.
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Ao jovem mexicano deveríamos pagar melhor pelo trabalho que ele faz. E também ao chinês, ao indiano, ao cabo verdeano, e, já agora, ao português. Como é que isso se faz? Muitos teriam de ganhar muito menos (ou pagar muito mais, o que dá no mesmo).
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Combater desigualdades sociais é um desiderato das boas consciências. Que, no entanto, não será atingido através do proteccionismo económico. Pelo contrário, o proteccionismo e o isolacionismo retardam o avanço do desenvolvimento humano e fomentam a guerra. Apesar de alguns malefícios dos avanços científicos e tecnológicos o balanço tem sido claramente positivo para a humanidade.
1 comment:
Caro Rui Fonseca,
Há mais capítulos para além do quarto (ver no you tube) onde se apresentam soluções para os problemas causados pelo nosso consumismo desenfreado.
Os problemas ambientais são muito complexos, e o simplismo da Annie Leonard é dirigido mais aos jovens do que a nós consumidores adultos.
Deixo alguns apontamentos:
O maior inimigo da floresta na actualidade são a pecuária (e a carne é muito barata porque não é internalizado o seu impacte ambiental) e as culturas bioenergéticas (óleo de palma na Indonésia, por ex.).
Discordo da interpretação feita ao "estilo apocalíptico" da apresentadora, é bastante realista...a actual crise segundo Stiglitz e outros deve-se em muito a um modelo económico irracional na exploração de recursos naturais.
Desperdiçamos demasiado.
Hoje almocei num pacato restaurante de Coimbra. Ao meu lado uma mulher jovem pediu um prato de carne com aspecto delicioso. Deu umas grafadas desinteressadas e pouco comeu. Um prato de comida foi para o contentor do lixo, este será transportado para o Aterro...será racional ? Justo ?
Sou contra o proteccionismo económico. Mas na realidade os ditos liberais (americanos, japoneses e europeus) relativamente
ao comércio agrícola são ultra-protecionistas, destruindo a legítima concorrência da agricultura africana com subsídios descomunais. Como sabe os Estados africanos quase não existem, os agricultores do Mali estão entregues a si próprios. Os europeus sem subsídios quase desaparecem.
O que os movimentos progressistas propõem é internalizar o impacte ambiental dos produtos, algo que o FAIR TRADE tenta aplicar com a recusa da exploração especulativa do campesinato dos países mais pobres.
Veja o filme que tenho no blog
"We feed the world".
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