People who see the world in black and white rarely seem to take in information that could undermine their positions.
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Caro Bruno ,
Leio o teu artigo no “Dia D" de ontem, “Mitos Económicos” e só não fico surpreendido porque já me vou habituando à forma como, neste País, os jovens liberais ou neo-liberais, ou radicais-liberais, ou extremo-liberais, cada qual escolha o que lhe convém, ou acrescente à lista, “atacam ferozmente” (palavras tuas), tudo o que contraria a Cartilha Liberal. O que, desde logo, convenhamos, mostra pouca dose de tolerância nas veias. Lamentável, Bruno.
Ficamos a saber, lendo o teu artigo, que, após conversa com um amigo sueco, (amigos dos nossos amigos, nossos amigos são, pelo menos houve tempos em que era assim), ficaste a saber que, na Suécia, os jovens têm grandes facilidades em obter casa própria e podem sair de casa a partir dos 16 anos. E que o governo ajuda imenso as pessoas, ajuda tanto que os jovens quase nem têm vontade de trabalhar. Não fosse o teu colega, amigo do sueco, ter desviado a conversa, tu terias “lançado um ataque feroz contra esse modelo económico”.
Nada no teu artigo indicia que conheças bem a Suécia, que lá tenhas estudado, que lá tenhas trabalhado, que lá residas, que pelo menos por lá tenhas passado como turista. Não, o teu ódio ao “modelo sueco” resultou espontaneamente de uma conversa curta, se tivesse sido mais demorada teria descambado, quiçá, numa luta corpo-a-corpo com o super protegido viking.
Tudo isto não seria muito relevante se tu não tivesses o privilégio de debitar opiniões no jornal que eu leio. De modo que não tendo a conversa a três ficado arrumada pelo bom senso do teu colega, fico chocado com tanta leviandade na análise e tanta precipitação nas conclusões.
Também tenho amigos que dizem coisas com as quais não concordo e que resultam, muitas vezes, daquela irresponsabilidade verbal com que se defendem argumentos inflamados em rodas de amigos. Tenho um, que há dias, dizia: os americanos são todos estúpidos. Outro, contemporizava, e achava que eram só oitenta por cento. Claro que afirmações destas são ridículas e não admitem oposição minimamente inteligente. Mas também são inconsequentes porque ficam por ali. Tanto quanto esta “E não digo que aquilo (o modelo sueco) é o que mais se aproxima dum regime comunista?”
No teu caso, é mais grave.
E é mais grave a muitos títulos. Vou referir apenas dois.
A Suécia não é o exemplo acabado de uma sociedade perfeita. Isso não existe, não existirá enquanto houver massa cinzenta que aloje a insatisfação humana. Até porque a perfeição é como a presunção e a água benta, cada um toma a que quer. Mas aquilo que tu reprovas nos suecos, as facilidades que os jovens desfrutam na angariação precoce de casa, faz correr água na boca a muitos portugueses jovens que não saem de casa porque não têm possibilidades de terem casa. Deves saber que se observa em quase toda a Europa um decréscimo preocupante de natalidade que, em grande medida, decorre das dificuldades dos jovens casais em início de vida em comum. Deves saber, o tema já foi glosado na literatura, em cinema e teatro, que os jovens preferem manter-se em casa dos pais, mesmo para além dos trinta. Ou não tens ouvido isso? Talvez a falta de casa seja apenas uma das razões, mas é, certamente, uma das razões.
Pois bem: A Suécia apresenta, neste momento, dos mais elevados índices de natalidade a nível europeu, apesar do emprego feminino, normalmente visto como óbice à fecundação, ser dos mais elevados na Europa.
Depois tu afirmas e o Dia D pôs em destaque que “Nos últimos 50 anos, a economia sueca tem vindo a entrar em declínio, chegando a ter uma recessão em 1990”.
Tu deves saber que os ciclos económicos existem e que as economias, por mais dinâmicas que sejam, estão sujeitas a variações que são normais em corpos vivos. Corpos sociais, que respiram. Um mal amado dos liberais, Keynes, deu alguns bons contributos para modelar os ciclos mas nunca se comprometeu a eliminá-los. Com o avento da “nova economia” embandeiraram em arco alguns profetas augurando o fim dos ciclos, mas enganaram-se.
De modo que a Suécia experimentou uma recessão no início da década de 90, e a Finlândia também. Mas ambas estão consideravelmente melhores do que nós. Que competência nos sobra para lhes dar lições?
Em Portugal temos muitos comentadores, muita gente a dizer como se faz, muitos treinadores de bancada. É a velha pecha: quem sabe fazer faz, quem não sabe ensina.
Eu, que trabalhei num sector com muitas relações de concorrência com os finlandeses e suecos durante muitos anos, considero que temos muito a aprender com eles. Eu aprendi alguma coisa.
Ficamos a saber, lendo o teu artigo, que, após conversa com um amigo sueco, (amigos dos nossos amigos, nossos amigos são, pelo menos houve tempos em que era assim), ficaste a saber que, na Suécia, os jovens têm grandes facilidades em obter casa própria e podem sair de casa a partir dos 16 anos. E que o governo ajuda imenso as pessoas, ajuda tanto que os jovens quase nem têm vontade de trabalhar. Não fosse o teu colega, amigo do sueco, ter desviado a conversa, tu terias “lançado um ataque feroz contra esse modelo económico”.
Nada no teu artigo indicia que conheças bem a Suécia, que lá tenhas estudado, que lá tenhas trabalhado, que lá residas, que pelo menos por lá tenhas passado como turista. Não, o teu ódio ao “modelo sueco” resultou espontaneamente de uma conversa curta, se tivesse sido mais demorada teria descambado, quiçá, numa luta corpo-a-corpo com o super protegido viking.
Tudo isto não seria muito relevante se tu não tivesses o privilégio de debitar opiniões no jornal que eu leio. De modo que não tendo a conversa a três ficado arrumada pelo bom senso do teu colega, fico chocado com tanta leviandade na análise e tanta precipitação nas conclusões.
Também tenho amigos que dizem coisas com as quais não concordo e que resultam, muitas vezes, daquela irresponsabilidade verbal com que se defendem argumentos inflamados em rodas de amigos. Tenho um, que há dias, dizia: os americanos são todos estúpidos. Outro, contemporizava, e achava que eram só oitenta por cento. Claro que afirmações destas são ridículas e não admitem oposição minimamente inteligente. Mas também são inconsequentes porque ficam por ali. Tanto quanto esta “E não digo que aquilo (o modelo sueco) é o que mais se aproxima dum regime comunista?”
No teu caso, é mais grave.
E é mais grave a muitos títulos. Vou referir apenas dois.
A Suécia não é o exemplo acabado de uma sociedade perfeita. Isso não existe, não existirá enquanto houver massa cinzenta que aloje a insatisfação humana. Até porque a perfeição é como a presunção e a água benta, cada um toma a que quer. Mas aquilo que tu reprovas nos suecos, as facilidades que os jovens desfrutam na angariação precoce de casa, faz correr água na boca a muitos portugueses jovens que não saem de casa porque não têm possibilidades de terem casa. Deves saber que se observa em quase toda a Europa um decréscimo preocupante de natalidade que, em grande medida, decorre das dificuldades dos jovens casais em início de vida em comum. Deves saber, o tema já foi glosado na literatura, em cinema e teatro, que os jovens preferem manter-se em casa dos pais, mesmo para além dos trinta. Ou não tens ouvido isso? Talvez a falta de casa seja apenas uma das razões, mas é, certamente, uma das razões.
Pois bem: A Suécia apresenta, neste momento, dos mais elevados índices de natalidade a nível europeu, apesar do emprego feminino, normalmente visto como óbice à fecundação, ser dos mais elevados na Europa.
Depois tu afirmas e o Dia D pôs em destaque que “Nos últimos 50 anos, a economia sueca tem vindo a entrar em declínio, chegando a ter uma recessão em 1990”.
Tu deves saber que os ciclos económicos existem e que as economias, por mais dinâmicas que sejam, estão sujeitas a variações que são normais em corpos vivos. Corpos sociais, que respiram. Um mal amado dos liberais, Keynes, deu alguns bons contributos para modelar os ciclos mas nunca se comprometeu a eliminá-los. Com o avento da “nova economia” embandeiraram em arco alguns profetas augurando o fim dos ciclos, mas enganaram-se.
De modo que a Suécia experimentou uma recessão no início da década de 90, e a Finlândia também. Mas ambas estão consideravelmente melhores do que nós. Que competência nos sobra para lhes dar lições?
Em Portugal temos muitos comentadores, muita gente a dizer como se faz, muitos treinadores de bancada. É a velha pecha: quem sabe fazer faz, quem não sabe ensina.
Eu, que trabalhei num sector com muitas relações de concorrência com os finlandeses e suecos durante muitos anos, considero que temos muito a aprender com eles. Eu aprendi alguma coisa.
Aprendi, pelo menos, que nos sobra, geralmente, em petulância aquilo que suecos e finlandeses têm de tenacidade, sobriedade e solidariedade.
O que já fizeste, Bruno, pelo teu País?
4 comments:
Caro Rui Fonseca,
Tenho muito gosto em comentar por aqui.
Penso que ao nível do estilo há pouco a apontar ao Bruno Gonçalves. Começar um artigo com a descrição de uma conversa é perfeitamente legítimo, sobretudo quando se quer falar de "mitos económicos" (eu daria ao artigo o título "um mito económico", mas não sou o BG, que é um social-democrata moderado).
Já tive oportunidade de escrever no AADF, n'O Insurgente, e de comentar noutros blogues. E já troquei não poucas impressões com o Bruno sobre este tema.
A Suécia é dos países de sistema de mercado mais liberal da Europa. Inquestionável. E a isso deve grande parte da sua prosperidade. Mas também é um dos países onde o welfare state está mais implantado, o que tem graves repercussões, como muito bem o Bruno escreve, ao nível da moral social.
Literatura não falta, deixo de seguida links e pequeno destaque:
Swedish models de Johann Norberg
THE SOURCE of the problem was the fatal irony of the Swedish system: The model eroded the fundamental principles that had made the model viable in the first place.
How the Welfare State Corrupted Sweden de Per Bylund:
This new morality is the obvious opposite of that of my grandparents' generation. It is a morality claiming independence can only be achieved through handing over responsibility to others, and that freedom can only be attained through enslaving others (and oneself). The result of this degenerated morality on a social or societal level is a disaster economically, socially, psychologically, and philosophically.
The Sweden Myth de Stefan Karlsson:
All of this is exactly what we should expect from transfer payment benefits to people who don't work, from massive payroll taxes, income taxes, and value-added taxes. This has greatly inhibited the growth of a labor-intensive private-service sector that could have provided jobs for many of the unemployed immigrants.
(os textos são compridos, mas valem a pena)
Para finalizar, ninguém quer dar lições aos suecos. Que se entendam.
O facto é que em vez de importarmos o liberalismo económico que permitiu que sustentassem aquela utopia tanto tempo (mas não por muito mais), queremos importar um sistema social pesadíssimo, que depende de uma grande homogeneidade cultural e política (daí a minha nota sobre o comunismo), para um país habituado à estado-dependência subsidiada pelo "Modelo Social Europeu", e a uma burocracia asfixiante.
O último artigo é esclarecedor. A Suécia está em decadência económica. Só não se afundará porque o cenário business as usual é um disparate. As políticas mudarão, e o famoso "modelo sueco" será reequilibrado para dar mais caminho à iniciativa privada. E isso, comprovam as mais recentes eleições legislativas.
Caro Rui,
Já respondi no meu blog.
Abraço
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