Tuesday, October 03, 2006

ÀS ORDENS

Comentário ao post "Estado Corporativo" em A Destreza das Dúvidas


Caro Luis,

Que a sociedade portuguesa ainda padece gravemente da tara corporativa, e não dá indícios de arrepiar caminho, é uma verdade incontroversa. Sente-se a cada passo, defrontamo-la em cada tentativa de mudança.

Há corporações ( a Ordem dos Farmacêuticos, por exemplo) que lograram estabelecer-se como um Estado dentro do Estado.

Há corporações ( a Ordem dos Revisores Oficiais de Contas ) cujos membros encontram a sua razão de existir (e os largos proveitos) numa Lei que os criou para a inutilidade.

Num ponto, no entanto, discordo de si, que para o caso é fundamental: a Ordem dos Economistas, a que pertenço praticamente desde a sua criação, não tem (e ainda bem que não tem) a capacidade discricionária que V. lhe atribui. A Ordem dos Economistas não é bem uma Ordem como algumas outras. Talvez pela própria natureza das coisas. A verdade é que eu realizei até hoje toda a minha vida profissional, e durante anos fui Consultor de Empresas, realizando nessa qualidade trabalhos em que é suposto possuírem-se conhecimentos geralmente adquiridos a nível de uma licenciatura em Economia (que, na altura, tinha uma duração de 5 anos, os mestrados não existiam e os doutoramentos eram raríssimos), e nunca ninguém me solicitou que fizesse prova do meu grau académico e muito menos que apresentasse prova de filiado na Ordem.

Entrelinhe-se, contudo, que esta displicência nem sempre é recomendável, sobretudo para o prestígio dos profissionais. Ao longo dos anos tive conhecimento de vários casos de falsificação de certidões de curso, num dos casos o selo branco foi concebido com uma carica de cerveja...e a empresa intrujada só deu pela vigarice vários anos depois após a admissão da habilidosa. Habilidosa que não teve grandes dificuldades em encontrar, posteriormente, colocações sucessivas em outras empresas com dimensão e bom ar.

Inscrevi-me na Ordem por influência de alguns colegas e nela me mantenho por inércia. Não penso que a Ordem dos Economistas possa ter a capacidade de manobra que assiste às Ordens dos Advogados, dos Médicos, dos Farmacêuticos (que mais do que uma Ordem Profissional é um "polvo") ou mesmo dos Revisores Oficiais de Contas (que existem porque a Lei assim o prescreve).

As suas críticas são, portanto, muito pertinentes contra este escalracho, que mina a competitividade das competências em Portugal.

Mas a Ordem dos Economistas !?

Ordena pouco. Quase nada. Sejamos francos: nada.

Os Estatutos dizem que, e que, e mais que. Mas como bem sabe os Estatutos nem sempre dão estatuto. E ainda bem.




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