Wednesday, November 20, 2024

A EUROPA À DERIVA: COMO MATAR O LEÃO DE NEMEIA?

A continuidade do Aliás depende do seu merecimento, avaliado por comentários, críticas, sugestões, correcções, de quem o lê.

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Russia-Ukraine war live: Italy, Spain and Greece follow US in closing embassies in Kyiv over threat of ‘significant attack’ - From

Suécia envia panfletos de preparação para a “guerra ou outras” crises inesperadas a todas as famílias.

Dois cabos submarinos no mar Báltico foram cortados. EUA apontam o dedo ao Kremlin  

Putin permite uso alargado de armas nucleares 

Nordic neighbours release new advice on surviving war

 

 "Se não podes vencer o inimigo, junta-te a ele", recomenda o provérbio antigo, certamente inspirado na estratégia de Hércules para liquidar o  "Leão de Nemeia" .
 
Pode a União Europeia, desprovida de capacidade bélica relevante, sem um comando unificado que lhe dê suficiente consistência táctica e estratégica,  vencer Putin e os seus amigos ou simpatizantes, alguns dos quais são membros da UE, a partir de 20 de Janeiro quando Trump e a sua trupe abandonarem os seus aliados desarmados europeus?
Hoje, penso que não pode,  e a primeira vítima, vergonhosamente traída é a Ucrânia, o primeiro resistente a cair, o mais traído de todos, Zelensky.
 
A Federação Russa, que ocupa, de longe, o maior território do planeta, tem cerca de 144 milhões de habitantes; a União Europeia, cerca de 450 milhões, mas esta não será uma guerra que possa ser disputada corpo a corpo; mais que a força e a determinação seria, pela primeira vez na história da humanidade, a auto destruição da espécie humana o resultado mais provável de uma guerra global, mais uma vez, e, definitivamente, iniciada na Europa. 

Alguém terá de ceder, alguém terá de assumir a ignominiosa posição de primeiro cobarde para declarar a rendição da Europa Livre. Não faltarão candidatos, Viktor Órban, indubitavelmente o mais credenciado, actualmente na presidência rotativa da União Europeia, aceitará orgulhosamente a incumbência de desempenhar o papel protagonizado por Pétain há 84 anos. 

Falta saber quem será Hércules no segundo acto desta tragédia maior.  
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act. - Ucrânia realiza primeiro ataque na Rússia com mísseis britânicos

As forças ucranianas levaram a cabo um primeiro ataque contra alvos militares em território russo recorrendo a armamento britânico, avança a Bloomberg.Trata-se do primeiro ataque da Ucrânia contra a Rússia envolvendo o uso de mísseis Storm Shadow. A utilização destes mísseis na Rússia foi autorizada pelo Reino Unido em retaliação pelo destacamento de tropas norte-coreanas para a Ucrânia, onde se encontram a dar apoio às forças russas. Este episódio representa mais um passo na escalada da guerra, que atingiu esta semana o milésimo dia desde que Putin ordenou a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. A semana tem sido particularmente tensa na região, depois de os EUA terem autorizado também o uso de mísseis norte-americanos na Rússia.Em resposta, o Kremlin alterou a doutrina nuclear para alargar o leque de possibilidades em que pode recorrer ao seu vasto arsenal nuclear. c/p - aqui

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Alex Maxia
In Gothenburg, Sweden
TT News Agency/AFP A hand holding a yellow booklet in front of Swedish flags - it has the words 'Om krisen eller kriget kommer' on the front and an illustration of soldiers and a family 
TT News Agency/AFP
The new version of Sweden's pamphlet "In case of crisis or war" will reach letterboxes from Monday

On Monday, millions of Swedes will start receiving copies of a pamphlet advising the population how to prepare and cope in the event of war or another unexpected crisis.

“In case of crisis or war” has been updated from six years ago because of what the government in Stockholm calls the worsening security situation, by which it means Russia’s full-scale invasion of Ukraine. The booklet is also twice the size.

Neighbouring Finland has also just published its own fresh advice online on “preparing for incidents and crises”.

And Norwegians have also recently received a pamphlet urging them to be prepared to manage on their own for a week in the event of extreme weather, war and other threats.DVERTISEMENT

During the summer, Denmark's emergency management agency said it was emailing Danish adults details on the water, food and medicine they would need to get through a crisis for three days.

In a detailed section on military conflict, the Finnish digital brochure explains how the government and president would respond in the event of an armed attack, stressing that Finland’s authorities are “well prepared for self defence”.

Sweden joined Nato only this year, deciding like Finland to apply after Moscow expanded its war in 2022. Norway was a founder member of the Western defensive alliance.

Unlike Sweden and Norway, the Helsinki government has decided not to print a copy for every home as it “would cost millions” and a digital version could be updated more easily.

“We have sent out 2.2 million paper copies, one for each household in Norway,” said Tore Kamfjord, who is responsible for the campaign of self-preparedness at the Norwegian Directorate for Civil Protection (DSB)

Norway's checklist includes longlife food and medicines including iodine tablets

Included in the lists of items to be kept at home are long-life foods such as tins of beans, energy bars and pasta, and medicines including iodine tablets in case of a nuclear accident.

Oslo sent out an earlier version in 2018, but Kamfjord said climate change and more extreme weather events such as floods and landslides had brought increased risks.

For Swedes, the idea of a civil emergency booklet is nothing new. The first edition of “If War Comes” was produced during World War Two and it was updated during the Cold War.

But one message has been moved up from the middle of the booklet: “If Sweden is attacked by another country, we will never give up. All information to the effect that resistance is to cease is false.”

It was not long ago that Finland and Sweden were still neutral states, although their infrastructure and “total defence system” date back to the Cold War.

Getty Images Sweden's Minister for Civil Defence Carl-Oskar Bohlin holds a copy of  the new version of the preparedness booklet "If the crisis or war comes". The pamphlet has a yellow cover and an image of a woman in army fatigues holding a large gun. 
Getty Images
Carl-Oskar Bohlin presented the pamphlet last month
 
Sweden’s Civil Defence Minister Carl-Oskar Bohlin said last month that as the global context had changed, information to Swedish households had to reflect the changes too.

Earlier this year he warned that “there could be war in Sweden”, although that was seen as a wake-up call because he felt that moves towards rebuilding that “total defence” were progressing too slowly.

Because of its long border with Russia and its experience of war with the Soviet Union in World War Two, Finland has always maintained a high level of defence. Sweden, however, scaled down its infrastructure and only in recent years started gearing up again.

“From the Finnish perspective, this is a bit strange,” according to Ilmari Kaihko, associate professor of war studies at the Swedish Defence University. “[Finland] never forgot that war is a possibility, whereas in Sweden, people had to be shaken up a bit to understand that this can actually happen," says Kaihko, who's from Finland.

Melissa Eve Ajosmaki, 24, who is originally from Finland but studies in Gothenburg, says she felt more worried when the war broke out in Ukraine. “Now I feel less worried but I still have the thought at the back of my head on what I should do if there was a war. Especially as I have my family back in Finland."

The guides include instructions on what to do in case of several scenarios and ask citizens to make sure they can fend for themselves, at least initially, in case of a crisis situation.

Finns are asked how they would cope without power for days on end with winter temperatures as low as -20C.

Their checklist also includes iodine tablets, as well as easy-to-cook food, pet food and a backup power supply.

The Swedish checklist recommends potatoes, cabbage, carrots and eggs along with tins of bolognese sauce and prepared blueberry and rosehip soup.

Swedish Economist Ingemar Gustafsson, 67, recalls receiving previous versions of the pamphlet: “I'm not that worried about the whole thing so I take it pretty calmly. It's good that we get information about how we should act and how we should prepare, but it's not like I have all those preparations at home”.

One of the most important recommendations is to keep enough food and drinking water for 72 hours.

But Ilmari Kaihko wonders whether that is practical for everyone.

“Where do you stash it if you have a big family living in a small apartment?”

 

Wednesday, November 13, 2024

PRODUTIVIDADE - UMA QUESTÃO DE ENGENHEIROS A MAIS E PEDREIROS A MENOS?

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Porque é que os portugueses trabalham mais horas do que os outros europeus mas têm salários mais baixos? 
O que importa realmente reter sobre a produtividade da economia portuguesa? 
A resposta à pergunta é dada no "Factos que Contam", um programa da SIC Notícias em colaboração com a Fundação Manuel dos Santos.
 
O título desta nota é, tenho de reconhecer, talvez intencionalmente provocador mas não é mais do que a transcrição tão fiel quanto possível, do que ouvi anteontem Odemira.
 
A medição da produtividade é, à vista desarmada, conceptualmente muito simples.
Se observada com microscópio apropriado à natureza do objecto a observar é complicadíssimo. 
Dediquei a este assunto várias notas neste caderno de apontamentos desde os seus começos há dezanove anos. 
A observação microscópica levanta muitos paradoxos. 
Um exemplo: Uma grande fatia, pelo menos metade, da riqueza produzida e retida em Portugal é atribuida à função pública? Como se mede essa mais ou menos metade?

É indiscutível que o problema maior da economia portuguesa é a falta de produtividade que, neste caso, significa insuficiência de investimento produtor de qualidade elevada.
 
Vi o programa "Factos que contam" mas também ouvi Mário Centeno afirmar, além do mais, que  há “números enganadores” quanto à capacidade de Portugal reter jovens qualificados e ( ) que o país consegue ser um receptor líquido de licenciados".
 
Ontem, passei por Odemira, onde "há mais nepaleses que portugueses" disse-nos um grupo de reformados sentados à beira do Mira.  Numa livraria, quem nos atendeu afirmou o mesmo o que nos disseram os velhos. Porquê?
 
Ora porquê? Porque agora em Portugal só se formam doutores e engenheiros. Se queremos um canalizador, um pedreiro, um pintor, não há. E porque há nepaleses a viver, 25 ou mais em cada casa, porque ganham pouco.E se quero abrir um negócio tenho que esperar e desesperar, a eles dão-lhe a licença de um dia para o outro. 
 
Mas por que é que não se veem  portugueses a trabalhar onde trabalham nepaleses? 
Ou em muitos outros lugares do país onde trabalham imigrantes não nepaleses?
Na região de Lisboa há imigrantes que possuem qualificações para os lugares que ocupam que muitos portugueses não têm. 
Segundo os sucessivos relatórios anuais do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (acesso gratuito online), Portugal continua a descer no ranking porque pasmou na evolução do indicador da educação.

Aquela gente de Odemira, que fala assim, exagera, não tenho dúvidas, exagera.
Mas que o problema existe, existe.
E Centeno, entre muitos outros que devem saber do que falam, não parece reparar nele.

PATÉTICA

O sol chegou depois de tantos dias pardacentos.

a desafiar-nos para uma recarga de calor e ar puro,

e desandámos dali para de onde vinham promessas tentadoras.

Peixe? 

Desçam, cortem na primeira à esquerda, lá em baixo junto ao rio, à direita, não tem que enganar.

Mas, mau prenúncio, o peixe tinha tido grelha a  mais.

Pagámos, saímos e subimos ao ponto de onde a vista seria magnífica.

 

Descemos e, a meio da descida, o telemóvel ...

... Hum! ... sim , o A.

E o mesmo sol quente, arrefeceu, subitamente, a nossa alma, 

ou a mesma coisa sem nome.


Acordei às quatro da manhã, com uma secura amarga, mas não por culpa do almoço

nem do jantar, qualquer deles desanimados.


O A...

Que afinidades teceram um pequeno grupo, meia dúzia, agora quatro,

a partir de nenhum conhecimento pessoal anterior?

Sem comunhão de credos, clubes ou partidos, nem proximidades nas origens?

Eu era o rural daquele grupo meio citadino.

E desse grupo, foi a A. o primeiro a quem mostrei a autenticidade da minha modéstia ruralidade.

E assim, ou mais ou menos assim, deve ter começado a tecitura da autenticidade do grupo.

 

Do J., o mais jovem, o primeiro a cair,

e agora do A., subsistirá viva a memória com o rebobinar que nos reviverá enquanto viver o pensamento.

 

Por menos que mais tempo.

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Maria João Pires, Beethoven Sonata n.8. Op.13 "Pathétique" Adagio cantabile

Sunday, November 10, 2024

A SUBSTÂNCIA

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  A SUBSTÂNCIA 

Recomendado por várias credenciais, fomos ver, mas saímos minutos antes do fim.

À saída, considerámos o filme repugnante.
Depois quisemos ver algum lado positivo. E de repugnante, não além mas apesar disso, considerámos a obra chocante. Chocante, porque trata um tema que não pode ser ignorado; mas que o realizador aborda com tanto excesso de brutalidade que torna repugnante a sua obra. - A SUBSTÂNCIA
 

Friday, November 08, 2024

O DIA DA FALTA DE VERGONHA

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Anteontem, 6 de novembro, quando foram conhecidos e reconhecidos os resultados das eleições do dia anterior, 5 de novembro, um manto de vergonha cobriu quem foi surpreendido pelos resultados conseguidos por um arruaceiro infame num país onde a expressão livre do pensamento perdura há duzentos anos.
Ontem, 7 de novembro, choveram trovoadas de explicações para o fenómeno político que, afinal, era, mais que esperado, era inevitável. Tão inevitável como as alterações climáticas sem culpa humana.

E o arruaceiro transfigurou-se em salvador de um mundo vicioso, depravado, que perdeu a alma.
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Obs. As fotos colocadas anteontem e hoje são, para mim, de autor desconhecido, razão porque não consigo identificar a sua origem.
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Correlacionado - Em 19 de agosto, cerca de três meses antes do dia das eleições presidenciais nos Estados Unidos da América, J M Tavares escreveu no Público: Entre Trump e o Rato Mickey eu votaria no Rato Mickey.
Em 6 de novembro, dia seguinte aos das eleições, conhecidos os resultados, escreveu isto: Desta vez Trump tem uma equipa. E isso fez toda a diferença.
 
A ameaça medonha que esta contradição anuncia não é o facto de ter sido escrita por J M Tavares. Não. A contradição espraiou-se globalmente revelando um mundo futuro povoado por cobardes subservientes dos autocratas em crescimento imparável. 
Condição a que o Rato Mickey nunca se sujeitará.

Wednesday, November 06, 2024

DIA DA VERGONHA

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Ontem foi o dia do ódio.
 
E confirmou-se a primeira das duas hipóteses: Trump, vencedor em todas as frentes,  é agora detentor de poder quase absoluto sobre os norte-americanos e os que, de um modo ou outro, confiaram nos compromissos assumidos nos tratados, comerciais ou políticos, subscritos pelos representantes máximos que os norte-americanos elegeram.

Hoje é o dia da vergonha.

Da vergonha dos muito instruídos, superiormente habilitados e, supostamente, inteligentes, que foram amplamente derrotados pelos deploráveis, ignorantes, sem formação superior. 
 
Da vergonha da intelectualidade multicultural derrotada pelo supremacismo branco.  

Da vergonha dos democratas europeus, incapazes de enfrentar a ambição imperialista de Putin, protegido de Trump, e suster o alastramento das autocracias que crescem a olhos vistos em solo europeu como há cem anos. 

De vergonha dos que em nome dos democratas europeus se apressam a curvar-se perante Trump e nenhum, nem um somente, se apresenta hoje em Kyiv para estar ao lado do povo ucraniano, em qualquer frente e não apenas em lugares onde ainda subsiste alguma segurança perante os iminentes ataques russos, norte-coreanos, chechenos, e o que mais adiante se verá. 

De vergonha das empresas de sondagens e dos meios de comunicação social que deram amplíssima expressão pública da sua escandalosa incompetência.
 
Das ridículas declarações, nem obrigatórias nem consequentes, feitas em nome dos portugueses, de, entre outros, do Presidente da República e do Ministro dos Negócios Estrangeiros. 

Tuesday, November 05, 2024

O DIA DO ÓDIO

Com noventa e muitos por cento de convicção de acertar, o dia de hoje passará à História do Estados Unidos da América e de todo o mundo livre, aquele onde é livre a expressão pública do pensamento, com particular destaque na História da Europa Democrática, como o DIA DO ÓDIO.

A razão da minha convicção é muito simples: sustenta-se no que afirmou, e continua recorrentemente a reafirmar, Donald Trump.

Se Trump ganha, movido pelo ódio que instilou na metade da sociedade norte-americana que o apoiou e continua apoiar, estilhaça a Europa com a entrega, para começar,  da Ucrânia à voracidade sem freio de Putin. 
Também ficarão estilhaçados muitos dos compromissos assumidos pelos Estados Unidos, tanto a nível interno como internacional.
Poderá, por exemplo, retirar o apoio dos Estados Unidos da América na NATO, incumprindo o artigo 5º. do Tratado? Legalmente, não pode. Mas como podem ser os Estados Unidos da América, incumpridores por vontade de Trump, obrigados a cumprir a lei? 

Haverá diferenças nas consequências brutais entre uma vitória de Trump no Congresso sem maioria no Senado? Sem dúvida, mas as probabilidades dos republicanos passarem a deter maioria no Senado são muito elevadas. Também continuarão a ser muito elevadas as probabilidades do Trump manter o apoio incondicionalmente subserviente da maioria dos Juízes no Supremo Tribunal de Justiça. 
 
Se Trump não conseguir a maioria no Congresso, o mais provável é que se repita, com consequências mais devastadoras para a democracia norte-americana, o assalto ao Capitólio, destruição física da Instituição, símbolo maior da democracia, e eliminação dos que resistirem aos facínoras comandados por Trump. 
Começará então uma guerra civil por intervenção dos generais? A minha convicção não vai tão longe.

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A partir de hoje, o Aliás, que completou há dias 19 anos, só terá continuidade se merecer comentários, críticas, sugestões, correcções, de quem o lê.
Como qualquer veículo, agora só pode mover-se se tiver combustível que lhe permita avançar e boas razões para isso.

Monday, November 04, 2024

DE QUE LADO MORA A IGNORÂNCIA?

Metade dos norte-americanos são estúpidos, ouço dizer a alguém que reside nos EUA há mais de vinte e cinco anos e é, desde também há muitos anos, cidadã norte-americana.

Outra portuguesa, também residente há largos anos nos EUA, experiente na análise dos mercados de commodities, especialmente de cereais - deduzo das frequentes referências ao assunto num blog - afirma que 
 
"As sondagens estão bastante próximas para se saber quem é o favorito, mas com o Trump nunca se sabe se as sondagens são de confiança. Julgo que o mais surpreendente é ver tantas pessoas que ainda o apoiam, especialmente as pessoas mais religiosas. Entretanto, os mercados agrícolas têm estado em queda na expectativa que ele ganhe e recomece a disputa comercial com a China. Quem fica a ganhar é o Brasil, especialmente se Trump for eleito, e a agricultura americana ficará um passo mais perto do fim. Tem piada que Trump receba mais votos das zonas rurais, que acaba por ser quem mais sai prejudicado com a sua política." 
 
É sobejamente conhecido que nos Estados Unidos da América, mas não só porque se passa o mesmo em muitos outros lugares do mundo onde há livre escolha dos seus líderes, é muito frequente os resultados sejam maioritariamente decididos por aqueles que, aparentemente, mais perdem com as suas opções depositadas nos seus votos. 
Hillary Clinton, quando defrontou Trump, considerou "deplorables", deploráveis, que causam tristeza, que inspiram dó, os que se preparavam para votar em Trump. E, talvez mais convictamente ainda, votaram em Trump. E Trump venceu. 

Amanhã há eleições mas os resultados destas serão determinados, tem sido dito e redito, pelos votos dos eleitores nos swing states, que tanto podem cair para um lado como para o outro. São sete, mas o mais determinante, o que enviará mais delegados ao Colégio Eleitoral que elegerá o/a Presidente, é a Pensilvânia. 
Na Pensilvânia votam nos democratas, neste caso em Kamala Harrys, a maioria residente nas áreas urbanas, onde os níveis médios de educação são manifestamente superiores aos residentes, menos instruídos, nas zonas rurais  do mesmo Estado, que votam maioritariamente nos republicanos, neste caso em Trump.

Tanto os com mais como os com menos tempos de escolaridade, são livres de escolher, free will, livre arbítrio, segundo os seus próprios interesses mediatos ou imediatos. Por que razão é que a ignorância dos menos habilitados com informação suficiente que os habilite a escolher o que mais os pode beneficiar se sobrepõe aos votos dos melhor informados?
Por que razão não são os melhor informados capazes de informar seriamente os menos habilitados?

Não sei.
Tu sabes? 
Sabes onde mora a ignorância?

LIVRE ARBÍTRIO* RUSSO AMERICANO NA CAMA

  Anora 


Palma de Ouro do  Festival de Cannes em 2024, com boas apreciações da crítica; fomos ver, ontem.

Escrito e realizado por um norte-americano, Anora é um drama em modo de comédia, muito oportuno num momento em que se, como parece vir a acontecer, Trump for amanhã eleito para um segundo mandato, por livre arbítrio dos norte-americanos. Nunca as relações russo-americanas, ou vice versa, foram tão ternas para ambos os parceiros, e tão preocupantes quanto impotentes para muitos dos que assistem ao desenvolvimento da trama que ameaça terminar, quando não se sabe, de modo trágico.

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Algures, em Nova Iorque, o filho de um oligarca russo, um rapaz de 20 anos, levado pelo free will que uma fortuna imensa incentiva, embala-se em lap dances com uma stripper e enrola-se com ela na cama em non stop-fucking que dura três semanas. 
Ela é usbeque-americana de Brigton Bridge, um enclave russófono na cidade de Nova Iorque. Porque tem conhecimentos rudimentares da língua russa, um dos empresários no negócio de prostituição encaminha-a para o rapaz russo. 
Que de tão entusiasmado com a ocasional relação propõe que se casem em Las Vegas, onde os formalismos são escusados, e o casamento é selado com um anel com um diamante de muitos quilates. 
A história do casamento da prostituta com o filho do oligarca dura apenas o tempo suficiente para, após alguns incidentes rocambolescos, de vulgar comicidade, o oligarca tenha o filho nas mãos e o casamento anulado em três tempos por dez mil dólares. 
Uma ninharia para o oligarca, que levou o filho de volta a casa, na Rússia, para que ele cumprisse o fim para que fora concebido: oligarca, filho de oligarca.
Quanto a Anora, a prostituta usbeque-americana, continuou, por seu livre arbítrio, a deliciar olhares gulosos e desejos insatisfeitos.
Poderia o jovem oligarca ter escolhido, por seu livre arbítrio, outro caminho? Qual e porquê?
Poderia a jovem usbeque-americana ter optado por uma carreira diferente? Actriz, bem sucedida, por exemplo, como na vida real é? Poderia, mas essa seria outra história, por onde o seu livre arbítrio não a conduziu.
*
Livre arbítrio é o poder que cada indivíduo tem de escolher as suas ações, que caminho quer seguir. A expressão é utilizada por diversas religiões, como o cristianismo, o espiritismo, o budismo etc. 
Os deuses querem o bem dos indivíduos; os indivíduos são livres de querer e fazer o quiserem. 


Thursday, October 31, 2024

ALIÁS

                                                            Aliás, 19.

Aliás foi formalmente iniciado há 19 anos. 

Formalmente, porque, como nessa mesma data se disse, o blog recebeu algumas reflexões minhas escritas tempos antes e que se tinham salvado do cesto dos papeis.

De Luis Aguiar-Conraria, do grupo fundador de " A Destreza das Dúvidas", sou devedor de algumas dicas na formatação de parte do Aliás.
Por exemplo, a criação de uma listagem de blogues que, na altura, considerei mais relevantes, e que tenho mantido inalterada desde então.

A "blogosfera" sofreu, entretanto, tombos e rombos provocados pela emergência de outros meios mais sintéticos, mais convenientes a quem tem pouco tempo para pensar e, sobretudo, de expansão incontível e subterrânea.
Da lista de blogues iniciada, e sucessivamente alargada, pelos autores do "A Destreza das Dúvidas" constam hoje 85 títulos dos quais apenas 15 hoje subsistem com antiguidade de presença inferior a duas semanas. Também dos autores iniciais do "A Destreza ..." nenhum tem marcado presença nos últimos anos, estando agora a continuidade a ser assegurada por Rita Carreira, entrada anos mais tarde após a criação do "A Destreza ..."
Também na lista do "Aliás" a sobrevivência observada é idêntica.
 
São dois exemplos, apenas, pois são.
Mas que me parecem significativos da evolução da transmissão e discussão de ideias no mundo: uma evolução no sentido em que a lógica ponderada cede progressivamente lugar ao confronto emocional e irracional.

Wednesday, October 30, 2024

MAIS OU MENOS TUDO NA MESMA?

Não. 

Entre dois mundos opostos, poderá o mundo tombar para o lado mais execrável, do ponde vista de quem preza o maior valor social da humanidade: a liberdade de expressão de pensamento, por oposição à tirania de ditadores, digam-se eles de esquerda ou de direita. Porque nenhuma ditadura tem dois lados.

 

c/p - Narrow victories in a handful of swing states are likely to determine whether Donald Trump or Kamala Harris wins the US presidential election on November 5.

Não há sondagens que significativamente difiram das apresentadas pelo Financial Times.
E, no entanto, segundo as sondagens, se as diferenças são mínimas e nos swing states podem tombar para um dos lados, as consequências poderão ser tremendas para os norte-americanos e para o mundo democrático, onde a expressão de pensamento é livre mas pode ser submersa pela vaga autocrática que se está a alastrar, aliás, como há oitenta décadas, por todo o mundo.  
Já tinha dito isto, pois já. E não digo nem acrescento nada ao que a liberdade permite dizer. Por enquanto.   
Há dias, espremia-se uma comentadora num dos canais da televisão pública (ou terá sido num canal por cabo?) que Trump não é um fascista porque ... e passou a esgotar o seu cardápio  de razões que não colocam Trump ao lado de Mussolini ou Hitler.
 
Voltando à tremenda possibilidade de Trump ganhar a maioria no Congresso e a maioria no Senado, hipótese provável, segundo uns, altamente provável para outros, Trump, com o voto da maioria do Supremo Tribunal de Justiça, terá rédea solta para ir até aonde quiser. E ele, não nega, que quer ir até onde ao seu incomensurável ego der na gana.

Pelo que se sabe sobre o seu carácter (ou da falta dele) e pelo que demonstrou durante o seu primeiro mandato, não falta a Trump nenhum dos atributos que podem fazer dele um ditador narcísico, um deus terreno a quem todos devem devoção religiosa.
 
Exagero?
Era o que pensavam os que há cerca de oito décadas se curvaram perante auto arvorada divindade.
Terá, já tem aliás, dois concorrentes: Putin e Xi Jimping.
Um regime de triunvirato, também já o referi neste bloco de notas, terminou sempre com a eliminação de dois deles. 
Um filme de horror de que não verei, nem quererei ver o fim.

Sunday, October 27, 2024

IGNORÂNCIA CONSCIENTE

A mira dos media, esteve e continua a estar, voltada, na maior parte do tempo, para o nosso umbigo.
O que é muito compreensível. Assustam-nos mais os acidentes próximos que os desastres longínquos.
E, também compreensivelmente, mas duma perspectiva diferente, os sustos são mais atractivos para o consumidor de imagens que os sucessos. E quem consome imagens consome os produtos publicitados entre elas. 

Os estragos humanos e materiais provocados por um tiro mal pensado tem ocupado a maior parte do tempo em emissão e discussão que qualquer outro que possa, eventualmente, ter maior impacto social. 
Dizendo isto não se diz que o caso não mereça reflexão. Porque merece.
Não sendo, nem de longe nem de perto, conhecedor dos factos, das motivações, dos ambientes, não vou resumir o que já foi dito e redito. 
Mas o caso, muito longe de ser único ou original, recordou-me uma dúvida para a qual não encontro resposta, ainda que casos como este estejam, continuem e prometem continuar a estar, a ser observados, sobretudo tele-visionados,  em periferias de cidades maiores e mais afluentes que as nossas.
 
Parto de uma explicação mais divulgada. 
 
Os distúrbios são motivados, sobretudo, por filhos de imigrantes, nascidos portugueses, da segunda e terceira geração dos imigrantes iniciais.
A primeira geração adaptou-se porque procurou e encontrou meios de vida melhor do que os que tinha nos locais de onde saiu. Eventualmente, habitaram em bairros de barracas, melhoraram-lhe as condições de habitabilidade com a destruição das barracas e atribuição de uma casa com instalações minimamente condignas da sua condição humana. Mas a família cresceu, voltou a crescer, e, às tantas, há três famílias a habitar o espaço inicialmente previsto para uma.

Porquê?, pergunta um ignorante.

Porque a segunda e terceira gerações não encontraram meios que lhe pudessem, pelo menos, garantir um nível de vida proporcionado aos seus avós?
Por falta de trabalho?
Por falta de formação?
Por dedicação a actividades e hábitos ilegais germinados pelo desemprego generalizado no meio em que nasceram e cresceram?
 
Outra pergunta, do mesmo ignorante.

Se Portugal necessita de receber, e continua a receber, imigrantes, por muitas razões suficientemente divulgadas, por que razão não entram no mercado de trabalho os sem trabalho que habitam nos guetos que circundam as grandes cidades?

Sou mesmo ignorante, pois sou. À espera de informação que reduza o meu grau de ignorância.

Saturday, October 26, 2024

A MAIOR BATALHA DA PRÓXIMA GUERRA

Ouço na rádio que Israel atacou o Irão ...
Que nos arredores de Lisboa houve distúrbios durante a noite com viaturas incendiadas, caixotes do lixo queimados ...
Que ...tanta ameaça a acontecer, tanta revolta a repetir-se ...
Não faltam notícias aos media, que fazem da sua transmissão e retransmissão até ao tutano uma exigência da função e modo de ganhar meios de vida.
 
É a vida a acontecer entre um mundo a desconjuntar-se à vista de quem não seja cego e surdo, ao mesmo tempo anojado e, o mais das vezes, perversamente interessado no que ouve e vê.
A quase mais que certa vitória de Trump nas eleições de hoje a dez dias, por maioria de delegados no Colégio Eleitoral, dada pelos votos tangenciais em dois ou três swing states, ainda que o voto popular seja inutilmente maioritariamente atribuído a Harris, provocará um tsunami político global devastador.
 
Sem que ninguém, com suficiente capacidade para se fazer ouvir, avise a Humanidade que o caminho aponta para a sua autodestruição. Muitos dizem isso, mas o aviso perde-se por perto. 
Quem é que, pelo lugar que ocupa e pelo conhecimento que tem das fragilidades que sustentam o precário equilíbrio da vida da humanidade inteira, pode fazer-se ouvir suficientemente bem longe?
Poderia ser o secretário-geral das Nações Unidas se o lugar fosse hoje ocupado por alguém suficientemente corajoso, livre de ideologias e preconceitos, para dizer a verdade, inequívocamente demonstrada mas muito limitadamente divulgada, mas esse não é, lamentavelmente, o perfil pusilânime de António Guterres. 
Que, nas actuais condições, nem coragem tem para fazer o que deveria: demitir-se.
 
As funções de secretário-geral da ONU, desprovidas de poder de intervenção efectivo, nunca foram fáceis mas também nunca foram tão difíceis como nos tempos generalizadamente tempestuosos actuais porque também nunca a capacidade destruidora da vida no planeta atingiu os níveis em que se encontra agora.
 
Ao secretário-geral da ONU só resta um poder: o da palavra. A palavra que possa mobilizar a capacidade de insurreição dos jovens, aqueles que são os mais ameaçados pela capacidade de destruição global armazenada, à espera que a loucura ou o acaso acenda o rastilho. 
Era esta a verdade que Guterres poderia e deveria dizer aos jovens mas é incapaz de dizer porque o seu estilo sempre o guiou para um equilíbrio na corda bamba.

 

c/p - Trump or Harris: Who’s ahead in the polls? Tracking the polls in every state and possible paths to electoral college victory for Kamala Harris and Donald Trump

Talvez o título da nota colocada hoje neste meu caderno de apontamentos possa parecer sensacionalista.
Não é essa a intenção. E não é, porque, a generalidade da opinião pública mundial reflectida nos mais diversos meios de informação não subterrâneos, aponta no sentido da eventual eleição de Trump provocar um tombo no precário equilíbrio geopolítico global capaz de precipitar uma guerra nuclear que será a próxima mas também a última. 
 
Trump é um declarado apoiante de Putin com desprezo, como este, por todos os valores morais que caracterizam a civilização ocidental. 
Que ou se subjuga aos dois ditadores ou resiste sem capacidade de resistência. 
Um dos dois, Trump e Putin, perante a expectativa do terceiro candidato à liderança global, Xi Jimping, quererá ser único e a guerra nuclear será inevitável.
Se não, como?
Nunca na História da Humanidade o poder de um triunvirato subsistiu por largo tempo. 

--- Correlacionado
 
 
Guterres cumprimenta Putin, em posição subserviente, durante a recente reunião dos "Brics", na Rússia.
Para quê? Não se sabe.
Porquê? Porque é próprio da sua natureza.

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Friday, October 25, 2024

ODISSEIA MAIOR

  em 4 episódios, na RTP1.

 

Tinha 14 anos quando li Fernão de Magalhães. O homem e sua ação (Biografia) 1938, de Stefan Zweig.
Ainda hoje considero esta obra o livro de aventuras maior que li. 
 
A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, escrita 400 anos antes pelo grande aventureiro, ressente-se de algumas dúvidas,  nunca claramente esclarecidas, sobre a veracidade de alguns episódios relatados pelo protagonista.
 
São incomparáveis porque se, por um lado, as acções relatadas nestas duas grandes odisseias  foram quase contemporâneas, por outro, foi grande a distância entre os momentos em que foram escritas. 

--- 26/10/24 
A propósito...

Há 13 anos, anotei neste caderno de apontamentos um caso - Cábulas & Cª. - com, entre outro outros maus cábulas, o Psioca, distribuidor de um segredo.

Hoje, lembrei-me do Psioca a propósito da Odisseia de Fernão de Magalhães.

O Psioca habitava em casa de um tio que, segundo se dizia, era despachante oficial na alfândega local, que não tinha filhos e, presumivelmente, adoptara o Psioca. 
Nunca soube nem procurei saber se aquele nome Psioca era herança do tio; o que todos sabíamos é que o tio do Psioca era um coleccionador de livros antigos, primeiras edições …, um bibliófilo.
Também nunca soube se o Psioca se interessava pela colecção do tio.
O que todos sabíamos era que o Psioca tinha uma capacidade de memorização de textos muito fora do comum. 
Tanta, que o professor de História, desconfiado com as suas respostas em pontos escritos, quase ipsis verbis com o texto do livro único, o chamava de vez em quando ao estrado para interrogatório, e confirmava-se perante a turma que o Psioca um dia daria um magnífico actor. Com um senão que, para a carreira artística, não seria obstáculo: o Psioca reproduzia o que lia mas ficava bloqueado quando o professor, depois de muito insistentemente ter ensinado a turma que, mais do que o relato dos factos, importavam as causas que os determinaram e as consequências deles resultantes. 
Convenhamos que o professor parecia esquecer-se que estava perante uma turma de alunos na banda dos treze, catorze anos, e o Psioca decorava mas só muito por acaso entendia o que dizia. 
Há muitos casos assim.

Havia na sala uma estante, armário de pinho, um dois por dois, com prateleiras onde habitavam solitários cinco ou seis livros. 
Um dia, pôs-se o prof a olhar por largo instante para a estante, e turma à espera de ver o que dali saía.
- Temos ali aquela estante, vamos tratar de arranjar mais livros e passar a considerá-la a nossa biblioteca; trouxe esta porca de barro para recolha de moedas; à medida que a porca encher, compraremos livros para a biblioteca; mas a biblioteca também não se importa que tragam livros que ninguém costume ler lá em casa. 
A porca recolheu pouco, mas as estantes ficaram cheias em menos de duas semanas: havia de tudo, mas sobretudo exemplares antigos e mal tratados do Mundo de Aventuras e do Cavaleiro Andante, que foram deitadas na base da biblioteca lhe para baixar o centro de gravidade e evitar que tanta sabedoria doada viesse a tombar em cima de alguém em caso de ocasional encontrão.
O Psioca, só à sua conta, encheu uma prateleira. O teu tio sabe disto? Disto, de quê? Não, o tio não sabia, nem saberia, mais livro, menos livro lá em casa, ninguém daria por isso.

Aquela biblioteca sem espaço para mais doações era um orgulho para a turma. Talvez para não diminuir a dimensão de tanto orgulho ou porque quanto mais livros pela frente menor era a vontade de os ler, nem a chamada de atenção de que os livros estavam na estante para serem retirados e lidos, mobilizou a turma para a leitura.
 
Estávamos em vésperas de férias de Natal e, para não ficarem mal vistos pelo prof, a maior parte levou um livro para ler durante as férias. 
Eu levei “Fernão de Magalhães - biografia de Stefane Zweig”, uma primeira edição da obra em português, adquirida num alfarrabista do Largo Trindade Coelho, em Lisboa. 
Seguramente, retirada pelo Psioca da colecção do despachante oficial, sr. Psioca, que tinha metido o recibo no meio do livro.


Sunday, October 20, 2024

DE DONO A CULPADO DE TUDO

Em 10 de fevereiro de 2016, comentei aqui uma entrevista do Público a Carlos Monjardino, com transcrição muito restrita às responsabilidades de Ricardo Espírito Santo Salgado no descalabro que envolveu praticamente todo o sistema financeiro do país. 

Anteontem vi, sem ter procurado ver, a repetição da transmissão televisiva, incluída num qualquer telejornal, da entrada de Ricardo Salgado para o tribunal onde iria decorrer a primeira sessão do  julgamento do processo envolvendo múltiplas acusações e um enorme número de testemunhas.
E repugnou-me o que vi: o advogado e o médico assistente, se não propuseram, pelo menos aceitaram a exibição pública de um homem fisicamente derrotado.
Para quê?

No meu curto comentário há oito anos, não referi, mas também não omiti, porque toda a entrevista continua acessível, afirmações de Monjardino que o escusado cortejo de exibição de Ricardo Salgado me incentivou a reler.
E o tempo, entretanto, decorrido tornou mais pertinente que antes uma resposta de Monjardino quase no fim da entrevista:
 
- Sente-se confortável em ser sua testemunha abonatória?
Sim, e vou dizer uma frase: renegar um amigo é renegar-me a mim próprio. Eu não faço isso. Há coisas que não deveriam ter sido feitas no grupo, mas irei falar do que conheço do Dr. Ricardo Salgado que é muito positivo. E vou tentar desmontar uma ideia abstrusa de que ele era o dono disto tudo, que mandava em 300 empresas e no grupo…
 
Há nesta resposta de Monjardino uma afirmação (é uma ideia abstrusa de que ele era o dono disto tudo, que mandava em 300 empresas e no grupo ...), que coloca uma questão recorrente: até que ponto o dirigente supremo de uma organização é responsável único de todos os erros ou atrocidades cometidas?
Uma questão que a não imputabilidade de Ricardo Salgado torna muito mais relevante do que antes.
Se Ricardo Salgado não tem agora capacidade de defesa em que medida essa impossibilidade reforça as possibilidades dos seus eventuais coniventes se esgueirarem  das suas responsabilidades? 
Toda a que as instituições da Justiça consentirem.
 
O desaparecimento do Führer (que exagero de comparação!) não limpou os crimes dos seus principais coniventes, julgados em Nuremberga.
 
act. 22/10/24
 

Pergunta-se: 
Como é que Ricardo Salgado manipulou as contas sem que os Revisores Oficiais de Contas e os Auditores Externos, pagos à medida dos resultados das suas competências, apontassem nos relatórios as irregularidades que PQP denunciou?
São os ROC e os amigos Auditores inimputáveis perante a Justiça em Portugal?
Se são, e a resposta parece ser afirmativa, para que servem?
Para apadrinharem a veracidade dos ludíbrios e, deste modo, contribuírem para a mentira perante terceiros, vítimas das maroscas originais?
Alguém sabe responder?

Reconheça-se que esta não imputabilidade dos principais órgãos de fiscalização - Conselhos Fiscais quando existem, são membros da  mesma irmandade, condição que não lhes retira responsabilidades, mas porque se apoiam nos relatórios da fiscalização externa, serão inocentes coniventes - não se observou apenas no Grupo liderado por Salgado. 

Friday, October 18, 2024

A LITERATURA CONTINUA PELAS RUAS DA AMARGURA

 
 
É um bom livro?
Talvez.
É uma boa obra literária?
Talvez.
Merecedora do Nobel da Literatura em 2024?
Se é o caso, a literatura continua pelas ruas da amargura.


O VALOR FACIAL E O VALOR INTRÍNSECO DA DEMOCRACIA

Já depois de ter editado o meu apontamento de anteontem - O valor dos valores morais - observei que Daron Acemoglu, um dos três laureados com o Nobel da Economia, e aquele que, em directo televisivo respondeu a questões que, a propósito, lhe foram lhe foram colocadas por alguns dos presentes na sessão do anúncio, observei que de Daron Acemoglu tinha sido colocado a 30 de agosto deste ano, um artigo no project-syndicate.org - The Trump Threat to Democracy has grown - de que retiro apenas a primeira parte, disponível para não assinantes.

"Donald Trump is not the first anti-democratic demagogue to atttract a strong following, and he will be not the last. American institutions  can weather such challenges and come out even stronger, but only if pro-democratic forces mobilize and demonstrate  that the system can deliver meaninful results for ordinary people"

O artigo é, relativamente, longo e aponta para a gravidade da situação criada pela impotência das  instituições democráticas norte-americanas, que não foram concebidas para defrontarem quem, além do mais, proclama governar sem submissão às regras democráticas e fomentou o assalto ao Congresso, símbolo maior da democracia norte-americana, sem que a Justiça, admito, por falta de previsão de enquadramento legal no momento da concepção constitucional, o condenasse por alta traição e agora permite que se recandidate para comportamentos muito mais gravosos nos Estados Unidos quando de todo o mundo chegam sinais de guerra definitiva. 

No meu apontamento de anteontem parti da conclusão dos laureados - "In the end, the only option may be to transfer power and establish democracy." - expressa, tanto na transmissão televisiva da comunicação do Nobel da Economia deste ano como no "Press release", para registar neste caderno de apontamentos a desvalorização que, do meu ponto de vista, tem vindo a observar-se na democracia liberal. 
Há alternativa melhor?
Durante muito tempo adquiriu-se a ideia cimentada na afirmação de Churchill: "A democracia é a pior forma de governo, excepto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos."

Talvez Churchill continue a ter razão e a resposta dada a um dos assistentes ao anúncio do Nobel no período de perguntas e respostas que questionou sobre o sucesso da China, um país cujo líder Li Xijinping considera a democracia um dos inimigos do comunismo chinês, Daron Acemoglu recordou que alguma experiências ditatoriais foram bem sucedidas durante os primeiros tempos, mais ou menos longos, mas perderam perderam o ímpeto inicial e a democracia acabou por prevalecer.

No tempo que vivemos, com os regimes autocráticos a ganharem terreno por recuo dos valores morais  da democracia, a afirmação de Daron Acemoglu de 30 de agosto no Project Syndicate, atrás transcrita, de que "as instituições norte-americanas podem opor-se à força das multidões atraídas pelas promessas de Trump, um anti-democrático demagogo, se as forças pró-democráticas se mobilizarem e convencerem que a democracia é mais vantajosa para as pessoas comuns, carece de prova
Porque é neste ponto se contradizem as conclusões.

Kamala Harris posicionou-se nas sondagens à frente de Trump imediatamente à sua nomeação em substituição de Biden. O voto popular, segundo as sondagens, posicionavam Harris entre dois a três pontos percentuais acima de Trump. Entretanto, a diferença ter-se-á reduzido, colocando-se num intervalo de empate técnico.
 
As eleições presidenciais norte-americanas não se decidem pelo voto popular universal mas pelo voto em seis ou sete Estados, swing states onde o resultado final pode cair para um lado ou para o outro, e onde as sondagens sugerem agora ligeira diferença favorável a Trump. 
Conclusão: as forças pró-democráticas parecem incapazes de atrair em número suficiente aqueles eleitores que, aparentemente, mais ganhariam com a vitória de Harris. 

Kamala Harris, filha de mãe indiana e pai afro-jamaicano, é considerada, estatisticamente, negra.
É, no entanto, a candidata democrata com menos apoio da população negra, quando, (ou porque), uma mulher negra substitui um homem branco. Biden obteve 87% dos votos dos negros; Harris tem apenas 80%. 
Trump tem dito, e os seus apoiantes acreditam, que os imigrantes roubam empregos geralmente desempenhados por negros. Mais imigrantes negros a entrarem nos USA significará mais pressão para a baixa nos salários. Deste raciocínio decorre, mesmo se falacioso, serem os negros, os asiáticos, os hispânicos mais favoráveis a medidas repressivas da imigração que os brancos.
Também são os não brancos menos tolerantes relativamente à liberdade de opção sexual e tão misóginos quanto os brancos. 
A perda de empregos resultante da entrada de emigrantes é o valor facial, visível, da imigração; o crescimento de uma economia em expansão, como é o caso da economia norte-americana, hoje, que requer mais força de trabalho, é um valor intrínseco que poucos entendem.
Trump entende, mas interessam-lhe os votos dos que já residem nos EUA. As suas declarações de que procederá à maior deportação de imigrantes ilegais, reforça nos imigrantes legalizados o apoio que Trump procura mobilizar.

A lista é longa mas uma evidência se salienta: qualquer que seja o tema envolvendo a importância da democracia para o progresso dos povos, é mais estendível o seu valor facial, a aparência imediata, do que o seu valor intrínseco, aquele que só o tempo pode demonstrar.
Quando se vivem tempos de comunicações curtas e fáceis, o imediatismo, mesmo se falso, porque o falso é célere e a verdade lenta, sobrepõe-se a razões fundamentadas. 

O CAMINHO DOURADO DA GUERRA

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"...numa altura e que a economia (entenda-se: norte-americana ) ... que parece estar longe de uma recessão" (referido no no mesmo artigo)
 
Entretanto, nos últimos dias, o euro tem vindo a ceder relativamente às principais moedas e, nomeadamente, ao dólar.