Wednesday, September 17, 2014

OH! MAMA DELA

A taxa de inflação na Zona Euro em Agosto situou-se, vd. aqui, em 0,4%, bem abaixo do "target" do BCE (2%) mas ligeiramente melhor que a primeira indicação (0,3%) publicada no fim do mês. As economias europeias continuam globalmente estagnadas e até a Alemanha está agora atolada na situação resultante das medidas de combate à crise que tem quase intransigentemente liderado. E digo quase, porque o sr. Draghi tem-se aventurado na conquista de um espaço de manobra que os estatutos do BCE, numa interpretação restritiva, não lhe consentiriam. Se alguém até agora segurou o euro, a Draghi deve ser reconhecido o papel mais relevante, se não único, nessa missão, tanto mais que, segundo Berlim, essa tarefa não lhe foi encomendada nem consentida. Se alguém ou alguma coisa aliviou os juros das dívidas públicas dos mais endividados com as suas declarações (aplicando uma receita dos manuais a que Berlim torce o nariz) foi o que disse Draghi. 

E agora? Recuperará a Europa com o sr. Junker em Berlaymont?  É duvidoso. De índole conciliadora Junker não parece capaz de imitar Draghi na conquista de um espaço de intervenção que o torne não subalterno do diktat alemão até porque a sua capacidade depende da dimensão do orçamento comunitário e este depende das contribuições dos estados membros onde a Alemanha é maioritária. 

É esta falta de confiança num futuro próximo liberto da anemia que se apossou das economias europeias em vésperas de mudança dos orgãos da União Europeia que justifica (não me apercebo doutras razões) a contínua procura de refúgio de capitais na Alemanha. Lê-se aqui, no Expresso online desta tarde, que investidores aceitaram pagar para ter dívida alemã a dois anos. Dito de outro modo, a Alemanha volta a ganhar dinheiro com os empréstimos que contrai; não só não paga juros como ainda recebe um prémio pelo favor de receber os dinheiros que lhe emprestam. Que grande mama!

Mas, é da lei da física das leitarias, mais dia menos dia, a mama acaba-se. Se Junker & Companhia não ajudar, Draghi não faz milagres, e a União Europeia desmantela-se por falta de coesão das massas do edifício.

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