Sunday, May 18, 2014

UMA SAÍDA LIMPA COM UM OSSO DURO DE ROER

Ontem terminou o programa de ajustamento saindo Portugal de debaixo da tutela da troica sem qualquer programa cautelar, uma saída limpa segundo a versão oficial apadrinhada pelos media em geral. Curiosamente, hoje, o primeiro dia em que estamos limpos, ouviu-se alguns governantes afirmarem que "se tudo correr mal ... se voltarmos a fazer as mesmas asneiras, poderá haver necessidade de um segundo resgate".

O aviso parece óbvio e decalcado daquele que os pais fazem aos filhos traquinas que acabaram de recuperar o andar depois de terem partido uma perna. Mas não é. Desde logo não é preciso que tudo corra mal nem que o país faça as mesmas asneiras para que o fantasma de um segundo resgate nos venha bater outra vez à porta. Basta que nada se altere na política europeia de resolução das dívidas públicas dos países com endividamento excessivo para que dentro de um ou dois anos Portugal esteja, novamente, cercado pelos credores.

E esta questão - da impossibilidade de autonomamente podermos inverter a tendência de crescimento da dívida e cumprir o tratado orçamental - ninguém a aborda, ninguém nos explica como é que isso se faz, salvo os partidos dos extremos que defendem soluções extremas, políticamente inviáveis num quadro político dominado pelos partidos que governam na Europa e, muito sobretudo, na Alemanha.

É neste contexto de enorme indefinição, em que a saída será limpa, porque sim, mas tem atrelado um notável osso duro de roer, que o senhor Passos Coelho, em entrevista concedida à CNBC, citada aqui, recusa que o BCE deva ter um papel interventivo no crescimento económico - numa altura em que mesmo em países membros economica e financeiramente robustos experimentam crescimentos titubeantes - e, nomeadamente, é contrário a uma política de injecção de liquidez, quantitative easing, no jargão anglo-saxónico.

Está doido ou iluminado?

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