- Então, vais votar ou não?
- Já te disse que não vou votar.
- Podias ter mudado de opinião.
- Mudo muitas vezes, mas neste caso não. E tu, votas?
- Não posso. As pernas não me deixam. Mas se as pernas me deixassem votava.
- E sabes em quem votarias.
- Sei, claro que sei. Votei sempre no mesmo partido. E se voltasse a votar, votava mais uma vez no mesmo.
- Mesmo que o partido tome decisões que te desagradam ou que quem lidera o partido pratique acções ou tome atitudes que tu condenas?
- Mesmo assim. Não é por o cavalo estar a mancar que lhe vamos amputar a perna.
- Mesmo que aqueles a quem confiarias o teu voto tenham tomado decisões contra os teus próprios interesses.
- O meu partido nunca tomaria decisões contra os interesses da classe a que pertenço.
- Estás seguro disso?
- Estou seguro disso.
- Então conheces bem quem são os candidatos da lista do teu partido e aquilo que eles podem fazer por ti.
- Não os conheço assim tão bem, não, mas confio no partido. Que não é o partido comunista, fica sabendo que nunca votei nos comunistas. Não gostei do que os vi fazer a seguir ao 25 de Abril.
- Já me tinhas dito.
- Mas compreendo que muitos trabalhadores votem no partido comunista. O que eu não compreendo é que haja trabalhadores que votem nos partidos dos ricos.
- Por que será?
- Não sei. Talvez por uma questão de fé. Talvez por uma questão clubística. Ou religiosa. Ou tudo isso, à mistura. Talvez porque não estejam suficientemente elucidados.
- E por isso votam naqueles em quem têm fé.
- Não vejo outra explicação.
- Mas não achas que quando me dizes que confias no teu partido, independentemente das acções ou atitudes que o partido toma, também estás a ser guiado por alguma dose de fé?
- Não. De modo algum. Tenho perfeita consciência do lado a que pertenço.
- E esse lado nunca muda de posição?
- Oscila, mas anda sempre à volta do mesmo ponto de equilíbrio.
- Tens a certeza?
- Confio nisso.
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