Monday, April 28, 2014

NEM A META DO DÉFICE

O Público de hoje publica um artigo - Austeridade de 30 mil milhões não chegou para cumprir a meta do défice - que considero suficientemente isento (não há escritos na área das ciências sociais ideologicamente puros), e que merece bem uma leitura atenta. Trata-se de um balanço sintético dos resultados quantificáveis atingidos após a intervenção de três anos de troica.


Agora, que a troica vai sair, mas ficando à espreita, e em vésperas de começar a caça aos votos para as europeias, o mínimo que é democraticamente exigivel aos partidos - democraticamente, no sentido contrário ao registo demagógico com que se enfeitam geralmente os discursos dos candidatos durante as campanhas eleitorais - é a proposta de medidas que os quadrantes ideológicos em que se inserem pretendem fazer vingar em Estrasburgo. E como.

O como é importantísimo uma vez que os poderes do PE (e os da Comissão Europeia) continuam a estar subordinados ao diktat de Berlim com o aplauso generalizado do norte europeu. No fim de contas a questão primordial a que os candidatos deveriam responder é esta: O que é que vocês podem fazer em Estrasburgo, para além, obviamente, de serem bem remunerados e garantirem o direito a reformas antecipadas? Que poderes têm vocês para definir uma estratégia que possa garantir o futuro de uma União coesa porque razoavelmente solidária?

Do PCP e do BE sabemos o que podemos esperar: a saída do euro e, naturalmente, posteriormente, a saída da União Europeia. A grande maioria dos cidadãos portugueses com direito a voto, entre os quais me incluo,  não concorda com tal estratégia, mas sabemos o que pretendem, e não votamos neles. 

Do PSD, do PS e do CDS, o que sabemos nós do que se propõem, se puderem, fazer por denunciar uma estratégia que fomos compelidos a cumprir e redundou em grande medida num fiasco e fazer vingar uma estratégia diferente? Que possibilidades têm eles de obter dos quadrantes políticos em que se integram o compromisso de uma estratégia nuclear que seja conhecida antes das eleições e possa ser honrada depois?

Dizem-nos as mensagens da Comissão Nacional de Eleições que começam a ser difundidas, apelando ao voto em 26 de Maio, que "o nosso futuro passa pela Europa". Um slogan curto, como ensinam as regras de marketing que não respondem a uma pergunta óbvia: Passa, como? 

2 comments:

manuel.m said...

Sondagem no RU publicada ontem por YouGov :

UKIP-31%
Labour-28%
Conservadores-19%

Como é que vai ser o day after das eleições europeias ?
Aceitam-se apostas.

Rui Fonseca said...

Obrigado, Manuel, pelo seu contributo.

Estive agora mesmo a ler um artigo publicado no FT e outro no El País que, basicamente, dizem o mesmo: apesar dos escândalos que enxameiam o partido populista britânico, os eleitores parecem estar maioritariamente dispostos a votar nos que defendem o racismo, a xenofobia, o nacionalismo.

Se assim for, e se a mesma tendência se observar noutros países do norte europeu, a UE pode ter os dias contados a médio prazo.

E isso será prenúncio, penso eu, de mais uma guerra na Europa e depois ...quem cá ficar verá.
Se ainda ficar alguém que veja e alguma coisa para ver.

Presumo que reside no UK. Como vê o seu futuro aí num meio que, aparentemente, lhe poderá vir a ser hostil se nos recordarmos dos versos de Brecht, adaptados de Maiakovski: "Primeiro levaram os negros ..."?