Monday, April 29, 2013

BOA VIAGEM

De vez em quando, a serra chama-nos e vamos até lá à procura da memória destruida por entre a desolação da paisagem. Só mato rasteiro por entre a infestação de acácias. Em cada curva da estrada deparamos-nos sempre de frente com a recordação da exuberância do pinhal que ali havia  e onde entrava o sussurro e o cheiro do oceano lá em baixo.

Há quantos anos ardeu a serra?
Talvez há uns catorze ou quinze ... Passado pouco tempo já despontava a praga das acácias, a única espécie florestal que em Portugal não precisa de apresentar projecto de sustentabilidade ecológica nem de licenças emitidas  pelas várias entidades intrometidas na matéria para se instalar e progredir. Passados uns anos, já não me recordo quantos, decidiram-se finalmente os diferentes serviços da administração pública (são sempre vários os convocados para debitar pareceres) a reflorestal a àrea que o fogo consumiu em pouco mais de uma tarde, à vista de toda a gente, à beira do mar imenso.

A empreitada foi a concurso e o empreiteiro escolhido incumbido, por exigência dos serviços públicos ditos competentes, a reflorestal, não com plantas das espécies que o fogo devorara, sobretudo pinho marítimo e cedros, mas com espécies, muito mais caras, que o local nunca tinha visto, nem perto nem longe. Chamou o empreiteiro a atenção da direcção dos serviços florestais para a necessidade de lavrar a fundo o terreno antes de proceder à plantação das árvores de modo a erradicar as raízes das espécies infestantes, sobretudo das acácias a quem a incúria dos serviços florestais já tinha consentido a instalação selvagem. Opuseram-se os serviços incumbidos da protecção do eco sistema com o argumento de que o revolvimento dos terrenos colocaria em perigo o equilíbrio ecológico. E o empreiteiro obedeceu e procedeu à plantação abrindo os covatos no meio do emaranhado das raízes invasoras.

Resultado, o esperado.
Dentro de pouco tempo rebentavam as acácias e afogavam as árvores plantadas. Não resta uma.
Agora, anualmente, no dia da árvore, mobiliza-se ingloriamente o generosidade e a ingenuidade de alguns voluntários que repetem a cerimónia absurda de querer fazer crescer umas dúzias de plantas em terrenos dominados pelas acácias.

É loucura esperarem-se resultados diferentes fazendo repetidamente o mesmo, disse um dia Einstein, que também dizia coisas simples. O mais estranho é que sejam tão frequentemente ignoradas.

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