Em três décadas de democracia ainda não houve um único ministro da educação que se safasse na apreciação pública em geral. Foram todos maus, a julgar pelas notas que obtiveram junto dos estudantes e dos sindicatos, e, muito naturalmente, dos partidos da oposição. Nenhum completou um mandato de legislatura, foram todos substituídos a meio da empreitada ou por queda do governo a que pertenciam. Cabe agora a vez à Ministra Maria de Lurdes Rodrigues dançar na corda bamba para gáudio dos seus opositores, que são muitos, alguns mesmo dentro de casa. A continuidade desta senhora ministra em funções parece agora depender, exclusivamente, da maior ou menor obstinação do primeiro ministro em dar o braço a torcer antes de convidar o próximo masoquista para o lugar.
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Porque só por masoquismo ou atracção pelo palco se aceitam atribuições que à partida estão condenadas a serem reprovadas mais tarde ou mais cedo pela opinião pública. Tal como o seu anterior colega da Saúde, a Ministra teve o seu período de graça, mas entrou agora no plano inclinado. De qualquer dos dois dir-se-á que foram bons ministros por algum tempo mas não souberam comunicar. O que é um equívoco quando não é hipocrisia.
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No caso do Ministério da Educação, é virtualmente impossível governar um barco com tanta gente tendencialmente irrequieta a bordo. Olha-se para a barca aos baldões e parece que o problema da educação é uma disputa interminável entre professores e os ministros que se vão revezando no leme.
E não devia ser.
Os principais grupos sociais interessados na educação - os empregadores, os pais dos alunos e os alunos -, assistem às atribulações porque passa o sector como se nada fosse com eles. Os empregadores porque não são exigentes nas qualificações que recrutam, os pais por que querem sobretudo que os filhos passem, a grande maioria dos alunos porque não são incentivados a aprender mas a passar.
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A única via para acabar com a crucificação sistemática dos ministros da educação é a descentralização do governo das escolas, e da avaliação dos professores, para os municípios. Sem a co-responsabilização dos pais e dos empregadores na melhoria da qualidade do ensino, que envolve também a avaliação dos professores, nenhum ministro será capaz de obter nota positiva.
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Só descentralizando é possível quebrar o sentido de corporativismo que tende a bloquear todas as reformas. A avaliação de professores, e a sujeição dessa avaliação a quotas, é uma roda inventada. A sociedade tem de uma vez por todas escolher entre a utilização da roda ou o arrastar de uma situação que se degrada continuamente.
2 comments:
A minha que é professora vai gostar de ler este artigo. O Rui se puder envie-lhe por correio, é uma infoexcluída...mea culpa também !
Concordo que o corporativismo entre os professores é uma coisa terrível. Desculpem-me os bons profissionais, mas a mim foram poucos os professores que me ensinaram mais do que vinha no programa. O que é lamentável.
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