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"O Banco Central Europeu (BCE) publicou o mês passado um estudo assinado por António Afonso – economista principal no BCE – que examina o papel e a eficiência das políticas de despesa pública na afectação da distribuição do rendimento (... )Segundo o estudo, se Portugal estivesse na média das economias estudadas (OCDE) em relação ao rendimento per capita e aos resultados escolares, o actual nível de despesa social resultaria numa redução de 15% do nível de desigualdade existente. Estamos, portanto, numa situação, há muito apontada, em que gastamos muito e temos poucos resultados e que manifestamente temos dificuldades em inverter.."
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Que a eficiência do nosso sistema educativo, medido em termos dos resultados obtidos relativamente aos recursos afectos, anda pelas ruas da amargura, não me parece merecer grande discordância por parte da generalidade das pessoas que costumam pensar nestas coisas.
Já a correlação entre o nível educativo e o desenvolvimento económico não é susceptível de uma leitura tão geralmente concordante.
A produtividade geral de um país, que é o motor do seu crescimento económico, nem sempre depende de um elevado nível educativo médio.
William W. Lewis, que foi partner da Mckinsey e director fundador do Mckinsey Global Institute, refere em "The power of productivity" - (The University of Chicago Press, 2004):
"Nunca duvidei que as capacidades dos trabalhadores à volta do mundo apresentam uma distribuição suficientemente similar para as empresas os treinarem na prática dos melhores procedimentos...Geralmente pensa-se (nas sociedades mais desenvolvidas) que do nível educacional de uma população depende o seu grau de capacidade. O que não é verdade."
E dá exemplo dos trabalhadores mexicanos (com níveis de produtividade baixos no seu país de origem) que atingem elevados níveis de produtividade nos EUA.
Aliás, temos um exemplo bem mais caseiro: os emigrantes portugueses são geralmente bem sucedidos nos países para onde emigram.
Onde está a diferença: Notoriamente, no ambiente em que trabalham.
Concordo, portanto, com a perspectiva de que não é a educação (neste caso a insuficiência dela) a maior responsável pelo nosso atraso.
Se fosse, não se observaria tanto licenciado (mesmo em cursos técnicos) sem emprego. Engenheiros, por exemplo.
Lamenta-se muitas vezes os resultados desastrosos em matemática e em física no ensino secundário. E a situação é, realmente, preocupante. Sabemos que essa moléstia tem causas, umas evidentes outras menos. Nenhuma pode ser identificada, creio eu, em algum gene que nos tenha provocado algum entorse em larga escala naquelas matérias.
Sabemos que muitos professores de matemática e física entraram naqueles cursos por insuficiência de média para entrarem noutros mais concorridos. Daí que muitos foram seleccionados para leccionar matemática e física por serem menos qualificados nestas matérias
durante o secundário.
Mas há muito mais razões.
Ontem, ouvi uma notícia que dava conta do encerramento dos cursos de matemática e física na Universidade de Évora.
Parece um absurdo: Quando tanta gente clama que nos faltam qualificações médias em matemática e física, uma Universidade, perante constrangimentos orçamentais, encerra Matemática e Física porque os cursos respectivos tinham menos de 20 alunos.
E aí está um dos segredos de todas as contradições em que nos enredamos: As pessoas reagem a incentivos, diz-se que matemática e física são muito importantes, mas, pelos vistos, a sociedade não desperta incentivos nesse sentido.
A começar pelo Estado. Há alguma exigência quanto ao domínio destas matérias na admissão no funcionalismo público?
Quantos são os que não conseguem emprego por falta de conhecimentos médios de matemática, física ou português?
Quantos são os que, tendo obtido bons níveis de conhecimentos em matemática, física, português, inglês, etc., trabalham em empregos para os quais essas habilitações não foram (nem são) consideradas relevantes?
Quantos se doutoraram e emigraram? Ou emigraram, e se doutoraram, e por lá ficaram?
Nada disto invalida a afirmação de que a educação é o mais importante activo de um país. Mas não nos iludamos. Como em qualquer investimento, não basta o edifício, as máquinas, as matérias-primas, as pessoas. É preciso capacidade para fazer funcionar o conjunto. E exigência.
É isso: Tanto ou mais do que maior nível educativo carecemos de maior nível de exigência. Até porque este arrasta o outro e a inversa nem sempre é verdadeira.
E esta falha, se não é congénita, é de natureza degenerativa. Talvez fosse bom começar por discutir como se poderá inverter esse processo.
Já a correlação entre o nível educativo e o desenvolvimento económico não é susceptível de uma leitura tão geralmente concordante.
A produtividade geral de um país, que é o motor do seu crescimento económico, nem sempre depende de um elevado nível educativo médio.
William W. Lewis, que foi partner da Mckinsey e director fundador do Mckinsey Global Institute, refere em "The power of productivity" - (The University of Chicago Press, 2004):
"Nunca duvidei que as capacidades dos trabalhadores à volta do mundo apresentam uma distribuição suficientemente similar para as empresas os treinarem na prática dos melhores procedimentos...Geralmente pensa-se (nas sociedades mais desenvolvidas) que do nível educacional de uma população depende o seu grau de capacidade. O que não é verdade."
E dá exemplo dos trabalhadores mexicanos (com níveis de produtividade baixos no seu país de origem) que atingem elevados níveis de produtividade nos EUA.
Aliás, temos um exemplo bem mais caseiro: os emigrantes portugueses são geralmente bem sucedidos nos países para onde emigram.
Onde está a diferença: Notoriamente, no ambiente em que trabalham.
Concordo, portanto, com a perspectiva de que não é a educação (neste caso a insuficiência dela) a maior responsável pelo nosso atraso.
Se fosse, não se observaria tanto licenciado (mesmo em cursos técnicos) sem emprego. Engenheiros, por exemplo.
Lamenta-se muitas vezes os resultados desastrosos em matemática e em física no ensino secundário. E a situação é, realmente, preocupante. Sabemos que essa moléstia tem causas, umas evidentes outras menos. Nenhuma pode ser identificada, creio eu, em algum gene que nos tenha provocado algum entorse em larga escala naquelas matérias.
Sabemos que muitos professores de matemática e física entraram naqueles cursos por insuficiência de média para entrarem noutros mais concorridos. Daí que muitos foram seleccionados para leccionar matemática e física por serem menos qualificados nestas matérias
durante o secundário.
Mas há muito mais razões.
Ontem, ouvi uma notícia que dava conta do encerramento dos cursos de matemática e física na Universidade de Évora.
Parece um absurdo: Quando tanta gente clama que nos faltam qualificações médias em matemática e física, uma Universidade, perante constrangimentos orçamentais, encerra Matemática e Física porque os cursos respectivos tinham menos de 20 alunos.
E aí está um dos segredos de todas as contradições em que nos enredamos: As pessoas reagem a incentivos, diz-se que matemática e física são muito importantes, mas, pelos vistos, a sociedade não desperta incentivos nesse sentido.
A começar pelo Estado. Há alguma exigência quanto ao domínio destas matérias na admissão no funcionalismo público?
Quantos são os que não conseguem emprego por falta de conhecimentos médios de matemática, física ou português?
Quantos são os que, tendo obtido bons níveis de conhecimentos em matemática, física, português, inglês, etc., trabalham em empregos para os quais essas habilitações não foram (nem são) consideradas relevantes?
Quantos se doutoraram e emigraram? Ou emigraram, e se doutoraram, e por lá ficaram?
Nada disto invalida a afirmação de que a educação é o mais importante activo de um país. Mas não nos iludamos. Como em qualquer investimento, não basta o edifício, as máquinas, as matérias-primas, as pessoas. É preciso capacidade para fazer funcionar o conjunto. E exigência.
É isso: Tanto ou mais do que maior nível educativo carecemos de maior nível de exigência. Até porque este arrasta o outro e a inversa nem sempre é verdadeira.
E esta falha, se não é congénita, é de natureza degenerativa. Talvez fosse bom começar por discutir como se poderá inverter esse processo.
Porque essa inversão provoca geralmente algumas dores de calos.
2 comments:
Ora então vamos lá observar uma coisa.
Dois portugueses em idêntica situação: A empresa onde trabalhavam, fechou.
Um fica cá a viver do subsídio, diz mal de tudo, lamenta-se, atribui culpas da sua situação a todos menos a ele e chora.
O outro lamenta-se, vê que assim não dá e faz-se à estrada. Emigra.
Lá fora, lamenta-se, chora, respira fundo e diz: Já que tenho de estar aqui, longe do que gosto tenho de dar o litro para ganhar o mais possível no mais curto espaço de tempo e depois regressar à terra.
Quem o vir, até o patrão, diz que este tipo é altamente produtivo. É porque tem objectivos.Os seus, não os impostos pela empresa. Tanto faz ser português, como mexicano, como ucraniano. Fazem tudo para angariar mais pilim.
Tanto faz ser doutor ou engenheiro, como técnico de frio ou indiferenciado. Cada um, no seu ofício fará o melhor que puder e souber. Não deixará, por certo, de criticar o patrão, os seus métodos de gestão e as condições de trabalho porque isso faz parte do seu adn.
Cá, por muito bem que se esteja, por muito boas condições de trabalho que se tenha, nada está bem.
Cada um quer ter, aos 27 anos, um carro igual ao do patrão que só o consegiu ter aos 50 ou mais.
Caro António,
Estive fora uns dias, só agora tive tempo de comentar.
Lamentavelmente, é muitas vezes assim.
O que é que pode ser feito para alterar a situação?
Flexisegurança?
Flexi sem segurança?
Seja o que for, alguma coisa tem de mudar. E vai mudar. É uma questão de tempo.
Abraço
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