Sunday, February 17, 2008

DO ARCO-DA-VELHA

Arco/Madrid
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Há, suponho, na curiosidade que leva muita gente a visitar exposições e feiras de arte contemporânea, um sentimento de veneração religioso perante o inatingível pelo entendimento comum. De outro modo é difícil perceber como se comportam os visitantes, em silêncio contemplativo, ou quase, perante peças que mereceriam uma salutar gargalhada, em alguns casos, ou seriam completamento ignoradas se estivessem fora destas novas catedrais, e onde a mistificação frequentemente promove ícones transitórios.
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Perante uma geringonça, que repete movimentos simples sem sentido, a maior parte olha-a com reverência ou desconfiança, intrigada ou pasmada da sua ignorância, como uma galinha a olharia, se a galinha fosse a uma feira de arte contemporânea. Perante uma provocação pintada, recolhe-se em meditação mística.
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Na Arco de Madrid, os galeristas mais visitados não serão, certamente, aqueles que exibem as obras que o mercado mais valoriza. Estes serão, muito provavelmente, os que no fim do certame terão arrecadado mais vendas, mas o mais visitado é o galerista que está no fundo da primeira ala, de tal modo enquadrado que, quem entra tem de sair por onde entrou. Em consequência desta posição estratégica, engrossa-se, visivelmente ao longe, a fila dos curiosos para ir lá dentro observar que obra de arte tão notável se esconde naquele beco sem saída, sempre de forma civilizada, atenta, veneradora e obrigada. A maior parte nem dá sequer uma olhada.
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Esta galeria no "coul de sac" é bem a imagem da Arco em ponto pequeno.

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