O Serviço Nacional de Saúde é um emblema. Sem ele, a camisola socialista ficará ainda mais irreconhecível. Percebe-se, quem quer perceber, o esforço feito por Correia de Campos no sentido de lhe garantir viabilidade e eficiência. Lamentavelmente, juntaram-se aos lobis que o ex-ministro atacou alguns fundamentalistas do PS, e aconteceu o inevitável. Não por deficiência de comunicação, como por aí se apregoa, porque não há comunicação possível com quem faz ouvidos de mercador.
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Entretanto, inevitavelmente, o sector privado vai ganhando quota de mercado (a expressão é demasiado dura para alguns ouvidos pretensamente mais sensíveis, mas não há outra com significado tão preciso): segundo o Expresso de ontem, "nos últimos três anos, perto de 2300 clínicos - cerca de 9% da população médica activa - anularam os vínculos exclusivos ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). A Associação Portuguesa de Hospitalização Privada admite que a estimativa pode pecar por defeito... . Em 2006 sairam 501 médicos do SNS, 175 com licenças sem vencimento". Ainda segundo o mesmo semanário, os médicos contratados para os hospitais privados ganham em média 70% acima dos vencimentos pagos no SNS.
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Sendo a formação dos médicos, geral e na especialidade, assegurada quase gratuitamente pelo Estado, consentindo o SNS a não exclusividade e aceitando a desvinculação temporária da função pública, o sector privado sustenta grande parte do seu sucesso no apoio que o Estado lhe concede de forma inteiramente graciosa.
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Os saltos à vara (passagem para o privado sem perda de vínculo com a função pública) são impensáveis entre privados: Nenhum empresário alguma vez consentiria, sem contrapartidas, dispensar um colaborador indispensável a um concorrente seu. A menos que se quisesse ver livre dele. O que não é, claramente, o caso.
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Por este andar, não há SNS que resista a médio prazo com alguma dignidade.
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